Quanto de invisibilidade cabe numa criança?
Foto: ilustrativa/Pexels
Recentemente virou notícia o vídeo de um pai que esqueceu o filho na porta de casa. O pai seguiu até a escola e, chegando lá, para a sua surpresa, a criança não estava no carro. A notícia virou "meme", apesar da falta de graça.
Em outro estado, também recentemente, tivemos a notícia de um casal que esqueceu o filho no carro e a criança veio a óbito. Infelizmente não faltam notícias parecidas.
Quando fatos assim ocorrem, lamentamos profundamente pelos pais, que perderam a criança numa cena triste para todos, o que certamente gerará efeitos para uma vida inteira.
Poderíamos justificar que esses pais e mães estão tão atolados de funções, afazeres, dívidas e preocupações outras, que foram tomados por apagões de memória.
Mas a questão é: onde, em nosso dia, em nossa memória, estão situados os nossos filhos? Quão invisíveis eles podem se tornar no meio da nossa alegada correria? Por que corremos tanto? Onde se chega correndo tanto?
Muitas vezes o lugar onde a criança vai estudar, o patrimônio que pretendemos deixar para ela, o carro, os brinquedos, as tarefas, as notas vermelhas, os erros dessa criança, tudo (ou quase tudo) termina tendo um valor maior do que a própria criança.
A existência de uma criança em casa precisa ser notada. Um(a) filho(a) não pode virar um item que se leva para algum lugar. Não pode virar uma desculpa para se fazer ou deixar de fazer algo.
Apesar do tamanho, a criança é um indivíduo completo, inteiro, e precisa ser vista, lembrada, abraçada, querida, escutada, notada e sentida. E isso está muito além das coisas que daremos e do que proporcionamos para ela durante a vida.
Quando não fomos vistos, enxergados na infância, é natural que os nossos filhos e suas demandas também passem despercebidos aos nossos olhos e sentidos.
Mas precisamos achar lugar para eles. São seres dependentes do nosso olhar. É o nosso olhar que constitui esses seres como SUJEITOS.
Precisamos reaprender a respirar e a nos notar, sair do automático, para então reconhecer o outro como sujeito e dar a eles a sua devida importância.
Se cuidem!
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.