Família

Cuidado! Os caras "normais" também estupram

Colunista On: Otávio LealPai de Maria Flor e Amora, advogado, consultor parental e psicanalista em formação
Cuidado! Os caras "normais" também estupram

Foto meramente ilustrativa/Pexels

 


Você achou o médico estuprador patético, com cara de bobo? Cuidado! Os caras "normais" também estupram.


No último ano, o Brasil teve um estupro a cada 10 minutos. Foram mais de 55 mil estupros, incluindo vulneráveis, todas do gênero feminino.


Quem comete esse crime não têm um perfil típico. São simplesmente "homens".


A figura do estuprador está no imaginário popular como sendo um cara sujo, raivoso, que arrasta a vítima violentamente da rua para um local escuro e inseguro.


No caso que viralizou essa semana, a vítima estava em um hospital, em pleno trabalho de parto. O vilão dessa história é um médico, aparentemente limpo, pacato, que utilizava técnicas anestésicas para estuprar mulheres em estado de vulnerabilidade.


A realidade é que a figura do estuprador é fantasiada e isso é bem perigoso! 


É como esperar o "lobo mau" surgir da floresta para comer a vovozinha, enquanto o caçador, aproveitando da sua condição e posição social, estivesse estuprando e abusando das outras mulheres e crianças da aldeia.


É preciso sair da fantasia e ter a coragem de entender que os homens que ferem as mulheres são homens como nós; que eles ferem justamente porque são homens; e que eles escolhem suas vítimas justamente por elas serem mulheres.


Viver na fantasia dificulta enxergar o real e adotar as medidas necessárias para combater crimes como esse.


A estrutura misógina da sociedade, a cultura do estupro e o desrespeito ao corpo da mulher, fomentam crimes dessa natureza o tempo inteiro. O silêncio e a sensação de impunidade tornam o cenário ainda mais perfeito para esse tipo de crime.


É contra tudo isso que precisamos lutar! Não só contra os típicos vilões, mas contra a estrutura que produz esse cenário, fomenta a violência e faz brotar, sem parar, novos possíveis vilões.


Dentro ou fora de hospitais, empresas, residências, carros, na rua, ou qualquer outro lugar, as mulheres são tidas como "presas fáceis", que se pode comer, cuspir, violentar, matar. É um risco constante.


Depois disso ainda são acusadas, julgadas e condenadas por cada uma de suas decisões. São consideradas culpadas, mesmo quando são as vítimas.


É vergonhoso, triste, cruel e desleal. Precisamos mudar essa história!


O episódio dessa semana me fez ficar ainda mais atento aos caras patéticos, com cara de bobo, que parecem inofensivos.


Em agosto serei pai novamente. Minha esposa está grávida e tem mais uma pequena grande mulher chegando. Não sobra outra opção senão manter os olhos bem abertos!


Mas, para além disso, precisamos observar a forma como enxergamos as mulheres. Esse é o ponto crucial para a virada de chave dessa história!


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Otávio Leal

Otávio Leal

Otávio Leal, do blog "Pai, vem cá", é pai de Maria Flor e Amora, advogado, consultor parental, psicanalista em formação e autor do livro "Papai foi pra roça, Mamãe foi trabalhar. E agora?".

O projeto “Pai, Vem Cá!” se tornou parceiro da Defensoria Pública da Bahia e da Revista Pais & Filhos, tendo participado de iniciativas sociais importantes, a exemplo da campanha Poder do Colo, da Novalgina.

Instagram: @paivemca
 

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