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"Pega algo semi-pronto e adapta": estamos sem tempo para criar

Colunista On: Mel OliveiraInovação e empreendedorismo de impacto
"Pega algo semi-pronto e adapta": estamos sem tempo para criarilustrativa/Pexels

Há tempos este texto está pronto, mas não consegui finalizá-lo antes porque achava que "faltava criatividade". Afinal, como falar de criatividade sem tê-la?


Muitas perguntas para poucas (ou nenhuma) resposta. Mas o que trago aqui hoje é um pouco de inquietude. A ambição por criatividade ou, ao contrário, a sensação do pouco uso dela, tem me deixado inquieta.


A criatividade, coitada, parece ter sido subestimada e estado meio opaca nos últimos anos.


Depois que fomos engolidos pelo mundo da responsabilidade e do "ter que fazer rápido, em menos tempo e com resultado", nosso foco tem sido muito mais em "fazer o que precisa ser feito, com precisão" do que nos dar o privilégio de criar (do zero) o que precisa ser entregue.


Criar do zero leva tempo e hoje não temos tempo pra isso. "Pega algo semi-pronto e adapta", falamos. Sim, estamos sem tempo para criar.


A escassez da inspiração está em todo lugar. Não importa com o que você trabalhe. Poucos têm conseguido oxigenar o cérebro de forma criativa. Tempo. Não há.


Há algumas semanas, lentamente, tenho me debruçado sobre o livro "O Caminho do Artista", de Julia Cameron e ela traz alguns exercícios que nos ajudam a despertar o artista que vive em cada um de nós. Na verdade, são exercícios para despertar a criatividade, mas gosto quando ela traz isso na persona de um "artista".


Ela descreve um artista como um ser criador, que vive adormecido em nosso corpo, que canta, dança, interpreta, pinta, gargalha, cria qualquer coisa de forma natural e espontânea.


Um ser humano livre para expressar sua alma em qualquer lugar e a qualquer momento. Livre para se expressar nos momentos que quiser, da forma que quiser.


"Livre". Gosto desta palavra.


Quantos de nós, de fato, nos sentimos livres naquilo que fazemos? Quantos de nós exploramos o nosso palhaço, o nosso pintor, o nosso dançarino, o nosso escritor, o nosso ser criador na nossa rotina diária?


Quantos artistas e quanto de arte de fato vemos no mundo dos negócios? Poucos saberão responder. Não há tempo sequer para pensar. Tempo, novamente, não há.


Onde está a criatividade durante uma discussão de projeção financeira? Ela está ali, logicamente, mas quantos a vêem de fato? Onde está a expressão livre de faces e falas, quando estamos em uma reunião no zoom com mais 5 pessoas de empresas diferentes e temos que tomar decisões em dailys de 15 min?


Onde nós, de alma tão livre, temos deixado a magia da criatividade? Em que horário, na agenda do google, ela se perdeu?


Quantas vezes deixamos de gerir novas formas de trabalho apenas porque amarramos nosso artista interior no pé da mesa e ficamos imbuídos em conceitos que discordamos, mas usamos pelo simples fato de ter que usar?


Quantas vezes deixamos de usar palavras que gostaríamos ou fazer planilhas coloridas porque no mundo dos negócios tudo sempre permeia entre o azul, bege ou cinza? Quantos power points mais interessantes deixaram de nascer porque não foram criados "à mão livre"?


Quando foi que esquecemos de gargalhar nas reuniões e fazermos brainstorming divertidos para tirarmos uma ideia no papel?


Por que nós, como profissionais criadores que somos, deixamos nossa criatividade só para a hora do bar, para a casa do amigo ou durante as horas de lazer? Por que muitos de nós a matamos no trabalho, sem perceber?


Que tipo de artista precisamos parir para termos a oportunidade de coreografar novos projetos?


Como explorar a criatividade durante as 8 ou 10 horas de trabalhos diários? Como podemos abrir espaço para que Ela consiga rabiscar um papel com caneta colorida e lápis de cera da mesma forma que Ela fazia em nossos trabalhos infantis?


Por que temos nos colocado em caixas adultas, onde precisamos seguir o excel pré-moldado e apresentações já realizadas, trocando apenas os dados?


Por que não nos damos a chance de explorar aquele artista cheio de ideias e fazer coisas que, de fato, saiam das nossas inspirações?


Por que não nos preocuparmos muito mais com o processo de criar e de fazer acontecer do que a entrega final? Por que não exploramos mais o "como" do que o "quando"?


Que tal, na próxima reunião, sairmos um pouco do script, estimularmos um pouco a diversão, apresentarmos algo de uma maneira diferente?


Que tal colocarmos mais arte em nosso trabalho? Cores, palavras, formatos, idiomas, imagens, animações?


O mundo dos negócios não precisa matar nosso artista interior e entrar em uma caixa limitada para ter sucesso.


Pensemos nisso. Tempo? Há.


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Mel Oliveira

Mel Oliveira

Atualmente está como Innovation Manager na vertical de Growth na ACE Cortex. Responsável por desenvolver e escalar projetos de inovação corporativa para empresas como Bayer, Natura, Electrolux, Neoenergia, Portal Terra, dentre outras.

Publicitária e especialista em Negócios Internacionais e Marketing, passou por universidades na Espanha, Estados Unidos, duas universidades na Inglaterra.

Palestras sobre Inovação e Capitalismo Consciente no Brasil, Peru, Colômbia, Porto Rico e projetos de marketing e expansão no mercado Brasileiro, EUA e Latino Hispânico.

Além disso, é investidora anjo e desenvolve startups nas áreas de Acesso a Capital, Go-to-Market, Ideação e Validação de novos negócios através de mentorias e facilitações.

Atualmente também está como Líder de Filial do Capitalismo Consciente Brasil. Uma ONG americana com foco em desenvolvimento de empresas mais conscientes, além de ter empreendido e vendeu a empresa em Outubro de 2020

Instagram: @meloliveirab

LinkedIn: meloliveira

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