Negócios

O que os empreendedores da comunidade podem ensinar para as empresas mais inovadoras do mundo?

Colunista On: Mel OliveiraInovação e empreendedorismo de impacto
O que os empreendedores da comunidade podem ensinar para as empresas mais inovadoras do mundo?Gerusa Menezzes, da Cia das Tranças, em cena de vídeo da ABMP | Reprodução/YouTube

Se existe uma expressão que gosto muito é: "no mundo dos negócios, é possível unir o coração e o cifrão". Esse tem sido meu lema desde quando descobri que é possível empreender com amor e gerar valor para o mundo.


Quando falo de mundo, refiro-me a clientes, parceiros, colaboradores, ambiente e qualquer coisa que seja impactada direta ou indiretamente com o nosso trabalho. Esse meu despertar teve seu primeiro clique quando tive a honra de participar de um Grupo de Trabalho estimulado pela Associação do Mercado Publicitário da Bahia (ABMP), focado em Inovação e Criatividade.


Nós não queríamos, naquele momento, entender como a Apple, Microsoft, Amazon, Tesla utilizavam a inovação ao seu favor. Eles tinham dinheiro, produto validado no mercado, time capacitado, possibilidade de expansão de mercado, tecnologia, mindset disruptivo. Eles tinham (e ainda têm) muito do que se precisa ter para inovar.


Naquele momento, queríamos olhar para o lado oposto da moeda. Nosso desejo era tentar entender como empreendedores de comunidades baianas utilizavam a inovação para manter seus negócios de pé em ambientes em que havia escassez de recursos.


Falo de todos os recursos possíveis e imagináveis: ausência de aportes financeiros, de pessoas, conhecimento, tempo, tecnologia. Tudo! Queria entender como a periferia estava se movimentando e o que eles poderiam ensinar sobre inovação para as empresas mais inovadoras do mundo.


Na época, fizemos uma força tarefa para encontrar estes empresários e os convidamos para um bate-papo. Conversamos com empresários de diversas comunidades de Salvador que usavam a criatividade de forma extremamente intuitiva para fazer seus negócios darem certo. Donos de lava jato, bares, salão de beleza, doulas, confeiteiras, pintores e etc.


Naquela semana de imersão, conheci a Gerusa Menezzes, dona do Cia das Tranças, um salão no Curuzu, em Salvador, que foca seu trabalho em fazer tranças em cabelos afros com o objetivo de estimular o pertencimento e a cultura negra em suas clientes. O que a Geruza tem a ensinar para a Zara, por exemplo, que esteve envolvida com polêmicas sobre racismo no Nordeste?


Conheci também o Joelson, que deu um salto na carreira quando fez permuta do seu serviço em troca de placa de outdoor escrito "O melhor pintor da Bahia" com seu nome e seu telefone pelas ruas de Salvador. Quanto dos 180 milhões investidos em processos e marketing a Suvinil teria economizado se tivesse tido o pensamento do Joelson?


Conversei com o Rasta que tem um lava-jato e fazia questão de empregar ex-presidiários com o objetivo de tentar recolocá-los no mercado de trabalho, pois sabia as dificuldades que essas pessoas tinham para se ressocializar.


Conheci o Helder, que direciona parte do lucro gerado em seu bar no bairro 2 de Julho para ajudar a comunidade local. Com isso, ele chegou a ajudar desde pessoas que queriam tirar a CNH até estudantes que queriam aplicar para bolsas de estudo no exterior. Hoje, ele está com uma Vakinha para ajudar D. Antônia, que teve seu corpo queimado e foi torturada por desavenças com mulheres mais velhas. (basta clicar no link para ajudar.)


Também conheci a Eva, a Milena, a Zuleima e vários outros empreendedores que me inspiraram como poucos. Enquanto ouvia todas essas histórias e me orgulhava de estar vivendo momentos únicos em minha vida, eu me questionava o quanto seria mais fácil se estas pessoas tivessem o mesmo recurso financeiro que grandes empresários tem.


Entrar em uma zona de inovação é um pouco mais fácil quando você consegue dedicar uma parte da empresa para testar novos formatos, falhar no desenvolvimento de novos produtos e testar serviços em novos mercados enquanto o core business do seu negócio segue rodando normalmente na outra ponta.


Estss empreendedores escolheram, por conta própria e de forma genuína, inovar através de ações sociais que pudessem, de alguma forma, gerar valor para as comunidades em que eles moram, sem perder de vista o foco no faturamento para cobrir os custos ao final do mês.


Eles ensinam que inovar não quer dizer, necessariamente, gerar carros autônomos ou criar fintechs. Eles ensinam que é possível, principalmente no momento em que vivemos, inovar através da união entre o coração e o cifrão.


Não falo de ações ESG ou qualquer coisa que tenha esta vertente. Esses empreendedores não dão nomes ou termos bonitos para o que fazem, eles simplesmente o fazem.


Aprendemos com eles que existe a inovação através de ações genuínas, locais e que geram extremo valor para seus negócios, suas marcas e sua comunidade sem precisar, necessariamente, que eles estejam em palcos internacionais falando sobre ecossistema disruptivo (mas gostaria muito que tivessem).


Aprendemos também que "intencionalidade" é um fator primordial para fazer acontecer aquilo que se acredita. Sem isso, nada acontece.


Depois disso, comecei a mergulhar ainda mais no mundo da inovação de impacto e, para aqueles que ainda não são familiarizados com o assunto, eu deixo aqui algumas dicas de sites, autores e livros que vocês podem mergulhar durante a semana.


Capitalismo Consciente: o www.ccbrasil.cc, por exemplo, traz inúmeros cursos sobre como desenvolver um capitalismo consciente no mundo dos negócios.


Sociocracy For All: o https://www.sociocracyforall.org/ (minha descoberta mais recente) traz conteúdos riquíssimos de como construir uma governança onde seja possível distribuir o poder dentro das empresas de forma igualitária sem perder a lucratividade, aumentando o engajamento de todos os stakeholders envolvidos.


LIVROS


Se gosta de livros, a Editora Voo tem como propósito despertar nas pessoas a consciência por um mundo que funcione melhor para todos. Lá, você vai encontrar alguns livros que mostram na prática como promover um negócio mais sustentável gerando valor genuíno.


Alguns dos inúmeros autores


E se quiser ir além e navegar no mundo de uma inovação de impacto e de um capitalismo mais consciente, deixo aqui o nome de alguns autores que tem me inspirado: Nilima Bhat, RAJ SISODIA, Nancy R. Lee, JAMES MARINS, Frederic Laloux.


Ah, e se quiser conhecer a Gerusa, Helder, o Rasta, a Milena, a Zuleima, a Eva, o Joelson, dá uma olhadinha na websérie que produzimos em 2021 com a história deles e no instagram desse time!


- Bate-Papo na TV Aratu
- Um boteco pra gente preta, do Helder
- Joelson, o melhor pintor da Bahia
- A história de EVA
- Lava Jato do Rasta
- Tabuleiro da Milena
- Cia das Tranças, da Gerusa
- QPaladar, da Zuleima

Agora pensa junto comigo: quais outras lições, toda nossa gente pode ensinar para as maiores empresas do mundo?


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Mel Oliveira

Mel Oliveira

Atualmente está como Innovation Manager na vertical de Growth na ACE Cortex. Responsável por desenvolver e escalar projetos de inovação corporativa para empresas como Bayer, Natura, Electrolux, Neoenergia, Portal Terra, dentre outras.

Publicitária e especialista em Negócios Internacionais e Marketing, passou por universidades na Espanha, Estados Unidos, duas universidades na Inglaterra.

Palestras sobre Inovação e Capitalismo Consciente no Brasil, Peru, Colômbia, Porto Rico e projetos de marketing e expansão no mercado Brasileiro, EUA e Latino Hispânico.

Além disso, é investidora anjo e desenvolve startups nas áreas de Acesso a Capital, Go-to-Market, Ideação e Validação de novos negócios através de mentorias e facilitações.

Atualmente também está como Líder de Filial do Capitalismo Consciente Brasil. Uma ONG americana com foco em desenvolvimento de empresas mais conscientes, além de ter empreendido e vendeu a empresa em Outubro de 2020

Instagram: @meloliveirab

LinkedIn: meloliveira

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