Mudanças climáticas também são problema de saúde pública
O triste falecimento de Ana Clara Benevides, no último dia 17, levanta uma discussão muito importante para o nosso tempo. A jovem de 23 anos, que sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o show de Taylor Swift no Rio de Janeiro, pode ter sido mais uma vítima do superaquecimento do nosso planeta, já que o estado atravessava uma onda de calor.
Antes de entrar na reflexão em si, é importante afirmar o óbvio: ao que tudo indica, houve negligência por parte dos responsáveis pela organização do evento. Isso é indiscutível e, desde então, fãs têm se movimentado para reivindicar a aprovação de uma lei pela distribuição gratuita de água em eventos de grande porte, o que eu concordo plenamente.
No entanto, a minha proposta aqui é dar um passo atrás nesse debate. Sem deixar de reconhecer a responsabilidade da empresa nessa trágica morte, tenho pensado se Ana também pode ter sido vítima das altas temperaturas e como elas teriam agravado a sua situação. Por isso, creio que devemos fazer essa reflexão a partir de um panorama mais amplo, que leve em conta todo o cenário global. Assim, teremos mais condições de evitar casos semelhantes.
Uma coisa já é certa: o aquecimento global não é mais uma questão de opinião. Os dados, ano após ano, dão razão ao que os cientistas vêm nos alertando há décadas, e agora estamos começando a sentir os efeitos na própria pele, no dia a dia. Salvador, por exemplo, é uma cidade naturalmente quente, mas a cada verão parece que ela esquenta um pouco mais. E isso não é natural.
Tente lembrar com que frequência você ouvia o termo “onda de calor” em telejornais há alguns anos. Eu, particularmente, não me recordo. Em um recorte mais recente, porém, esse termo se tornou tão constante e já está presente no nosso imaginário. Depois de assolar outros continentes, esse fenômeno também está começando a
nos afetar por aqui.
Com essa nova realidade no horizonte, a maior preocupação é a saúde das pessoas. As altas temperaturas deixaram de ser um mero desconforto que gera pequenos incômodos cotidianos, como sede e suor. Agora, pode se tornar uma
questão de vida ou morte. Na Europa, por exemplo, cerca de 15 mil pessoas perderam suas vidas em decorrência do calor no ano passado, afirma a OMS.
Sempre defendo que debater sobre um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Afinal, deixar de falar não fará com que ele desapareça, mas apenas atrasará qualquer solução. Então, reconhecer que as ondas de calor chegaram para ficar e que elas representam um risco real é o caminho para lidar com esse novo momento da nossa história. Chegou a hora de pensar em políticas para encarar o desafio.
Aqui em Salvador, por sinal, me agradou saber que a Secretaria Municipal de Saúde, conduzida pela vice-prefeita Ana Paula Matos, está formulando um plano de contingência para que seja adotado pela cidade em períodos de onda de calor ou de altas temperaturas, algo que se agrava com a chegada do verão.
Iniciativas como essa precisam se tornar cada vez mais comuns, inclusive a nível estadual e nacional. Cuidados básicos, como beber mais água e usar o protetor solar, por exemplo, precisam estar na ponta da língua. Daí a importância de um protocolo bem definido, que possa nos preparar para lidar com a situação.
Mas além de pensar na contenção, creio que também é fundamental elaborar políticas públicas que de fato atenuem, a nível estrutural, o impacto das mudanças climáticas na nossa cidade. Da minha parte, seguirei atenta e disposta a colaborar com projetos municipais que venham para somar nesse sentido.
Enfim, ainda que as circunstâncias da causa mortis de Ana Clara Benevides continuem sob investigação, creio que é possível inferir que a onda de calor foi um dos fatores que agravaram seu estado de saúde. Agora, para honrar sua memória, cabe a nós a missão de, coletivamente, refletir sobre novos caminhos para enfrentar as mudanças climáticas.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.