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“Todos os dias na cadeia marcam”, diz dançarina presa pelo cabelo e cor da pele

“Todos os dias na cadeia marcam”, diz dançarina presa pelo cabelo e cor da pele

Por Da Redação

“Todos os dias na cadeia marcam”, diz dançarina presa pelo cabelo e cor da pelereprodução/Facebook

A felicidade demonstrada pela dançarina e modelo Barbara Querino de Oliveira, de 21 anos, ao sair pela primeira vez do Complexo Penitenciário do Butantan, em São Paulo, para o indulto de Páscoa, esconde a tristeza dos últimos 15 meses que passou na prisão. Ela foi acusada de integrar uma quadrilha que roubava veículos. Durante o julgamento, a vítima afirmou não ter visto o rosto dos responsáveis pelo crime. Identificada pela forma do cabelo e cor da pele, Barbara acha que o racismo norteou o processo.


“Como que uma pessoa olha para você e diz te reconhecer pelo seu cabelo? Meu cabelo não é diferente de nenhuma outra pessoa aqui em São Paulo. Acho que o Brasil inteiro tem o cabelo parecido com o meu e minha cor, então, como que a pessoa fala isso? Será que ela não tá fazendo confusão? Querendo só se livrar logo de um caso?”, desabafa.


Parte do relatório apresentado pela defesa, produzido e cedido pela perita Rosângela Llanos.


Mesmo após afirmar que estava trabalhando no Guarujá, a 85 quilômetros de São Paulo, cidade onde o roubo pelo qual foi condenada aconteceu, Barbara foi sentenciada a 5 anos e 4 meses de prisão. O caso ficou conhecido em todo o país, após se tornar um dos símbolos do movimento negro. Barbara foi homenageada no funk Marielle Franco de Mc Carol, se tornou personagem do livro “Reservado”, do autor Alexandre Ribeiro, e foi presenteada por Lázaro Ramos com o livro “Na Minha Pele”, de sua autoria. “Em êxtase”, durante a liberdade momentânea, ela contou sobre a brusca mudança que virou sua vida do avesso.


“Nunca tinha entrado em uma cadeia. Meus olhos, que já são grandes, estavam arregalados, olhava pra tudo… acho que o pessoal deve ter pensado que eu era louca ou estava drogada. Pensava: e agora, o que vai acontecer?”, disse, ao relembrar a chegada no presídio durante uma live no Instagram, no Sábado de Aleluia. Ela também revela que, no início, ficou doente muitas vezes, dormia no chão, teve dificuldade para se adaptar ao banho gelado e emagreceu depois que começou a cumprir pena. “Não é ruim (a comida), as companheiras fazem direitinho. Mas parece que elas estão acostumadas a fazer pra muita gente, sei lá, que o tempero não é o mesmo daquela comida gostosa que a gente queria comer”, explica.


Dias antes de ser presa, Barbara tinha feito o Enem e tentava uma vaga no curso de jornalismo. Embora a busca pelos objetivos tenha sido interrompida, ela diz continuar dançando, ensinando outras pessoas a dançar e afirma ainda carregar, dentro de si, o sonho de trabalhar com informação ou na área de psicologia. Para passar o tempo ela lê, é manicure e trabalha para transformar a própria história em livro. Em conversa com o Aratu On, ela reflete sobre o seu passado recente, o seu presente incerto e traça planos para um futuro que já não depende mais apenas dela.


AO – Uma questão que ficou em aberto na história do roubo é se o seu irmão, que assumiu fazer parte da quadrilha, não contou aos policiais quem era então essa suposta mulher? Alguma mulher estava envolvida na situação?

B – Ele assumiu, porém nunca cheguei a perguntar pra ele. Parece que realmente tinha uma mulher, pelo que os advogados falaram no começo pra mim, mas que não tinha nada a ver comigo. Mas nunca fui a fundo. Se tinha uma mulher presa, ou não, tô pagando pelo o que essa mulher fez, então, não vou também ficar revoltada e ficar querendo achar essa mulher. Tenho que esperar.


AO – Soube que você está escrevendo um livro. É sobre seu caso?

B –
Fala um pouco da minha história, do caso, e de outras histórias que conheci lá dentro. Um pouco da realidade, da minha visão do que é uma cadeia e de como está o país hoje em dia com relação a injustiça e ao racismo, para que as pessoas ouçam minha voz e a das pessoas que estão do mesmo lado.


Assista a entrevista completa:



BATALHA JUDICIAL

A vida de Babiy (como é conhecida por amigos, familiares e apoiadores), mudou quando foi acusada de ter envolvimento em um roubo  do qual o irmão, Wesley Querino, participou em setembro de 2017. Fotos tiradas pela polícia quando foi levada para prestar esclarecimentos e divulgadas para a imprensa resultaram em um segundo processo, do qual foi absolvida em outubro de 2018.


Ela aguardou pelos dois julgamentos presa. Durante o primeiro deles, (pelo qual permanece detida), a vítima diz ter sido colocada “de peito e rosto voltados para o chão”, sem olhar direto para a pessoa que a roubou, e reconheceu Barbara com “100% de certeza” pela cor da pele e forma do cabelo. Já no segundo, pelo qual foi absolvida, a vítima a reconheceu pelo cabelo, mas “não apresentou certeza”, de acordo com a sentença.


As fotos e vídeos anexados ao processo, postados nas redes sociais, e os dois depoimentos de pessoas que afirmavam estar com ela no Guarujá, foram desconsiderados pelo juiz do caso, Klaus Maourelli Arroyo, porque “não estavam datadas”. O depoimento do irmão afirmando que ela não participou do roubo, também foi ignorado. “Ele disse que ele é meu irmão e estava tentando me proteger”, lembra Barbara, condenada em janeiro de 2018.


Uma das fotos anexadas ao processo pela defesa. Foto: arquivo pessoal.


TODOS POR BABIY

As páginas criadas nas redes sociais pela amiga e assistente social Mayara Vieira, 23, são usadas para protestar contra o caso. Depois deste, outros processos e ações que apontam para o racismo institucional passaram a ser denunciados por ela. No Instagram, o perfil conta com mais de 16 mil seguidores. Ela diz que conheceu Barbara há apenas seis meses antes da prisão e se sensibilizou pela história da jovem, que chegou até ela através de um pedido de ajuda da mãe da modelo, Fernanda Querino, quando a filha foi presa.




 






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Dona Fernanda (mãe) exalando felicidade ao lado de Babiy. Duas guerreiras ??


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Barbara retornou para o presídio na última segunda-feira (22/3). Ela aguarda a audiência de segunda instância que pode reverter a decisão inicial e colocá-la em liberdade e é essa perspectiva de um final diferente que a mantém firme. “Tenho (esperança de um resultado positivo), porque tô aguardando já há um bom tempo. É minha última esperança. Vamos lá! Tô crendo que agora vai dar certo! Agora vai!”.


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