Pesquisa aponta que 84% da população preta no Brasil já sofreu racismo
A coleta de dados foi realizada entre agosto e setembro de 2024, com 2.458 participantes
Por Bruna Castelo Branco.
Uma pesquisa apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), divulgada nesta terça-feira (20), revela que 84% das pessoas pretas no Brasil relatam já ter sofrido discriminação racial. O levantamento, conduzido pelas organizações da sociedade civil Vital Strategies Brasil e Umane, investigou a experiência de brasileiros com diferentes formas de preconceito em atividades cotidianas.
A coleta de dados foi realizada entre agosto e setembro de 2024, com 2.458 participantes que responderam, pela internet, a questionários baseados na escala de discriminação cotidiana. As perguntas incluíam situações como:
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Ser tratado com menos gentileza que outras pessoas
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Ser tratado com menos respeito
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Receber atendimento pior em restaurantes e lojas
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Ser alvo de medo por parte de outras pessoas
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Ser ameaçado ou assediado
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Ser seguido em lojas
Os entrevistados avaliaram a frequência dessas situações como “frequentemente”, “sempre”, “raramente” ou “nunca”.
Disparidades raciais
Os dados apontam diferenças marcantes entre os grupos raciais. Pouco mais da metade da população preta (51,2%) relatou ser tratada com menos gentileza. Entre os pardos, esse número foi de 44,9%, e entre os brancos, 13,9%. O padrão se repete em outros critérios:
Situação | Pretos | Pardos | Brancos |
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Tratado com menos respeito | 49,5% | 32,1% | 9,7% |
Atendimento pior | 57% | 28,6% | 7,7% |
Seguido em lojas | 21,3% | 8,5% | 8,5% |
A pesquisa contou com apoio técnico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto Devive. Segundo o MIR, o objetivo do estudo é orientar políticas públicas que combatam o racismo, especialmente no sistema público de saúde.
“Desigualdade racial brutal”
Para Pedro de Paula, diretor da Vital Strategies Brasil, os resultados da pesquisa evidenciam a gravidade do problema. “A gente vê o abismo que existe na discriminação rotineira na vida das pessoas no Brasil. Tem um grupo que vive prioritariamente e rotineiramente com discriminação”, afirmou. Segundo ele, “isso impacta em saúde mental, em acesso a serviços, acesso ao emprego, em bem-estar, em autoestima, entre outras coisas”.
Evelyn Santos, gerente de Investimento e Impacto Social da Umane, destacou a abrangência da pesquisa. “Esse estudo foi a primeira aplicação da escala de discriminação cotidiana com abrangência nacional, feita no Brasil”, afirmou.
O levantamento também investigou a motivação da discriminação. Entre os entrevistados pretos, 84% afirmaram que o preconceito sofrido estava relacionado à cor da pele. Entre os brancos, esse percentual foi de 8,3%. Para os pardos, 10,8%.
Outras formas de discriminação mencionadas foram orientação sexual, renda, religião e obesidade.
Mulheres pretas são as mais afetadas
O estudo identificou que alguns grupos sofrem múltiplas formas de discriminação. As mulheres pretas foram as mais afetadas: 72% relataram mais de um tipo de preconceito. “Foi uma informação que chamou bastante a nossa atenção”, disse Evelyn Santos.
Entre os homens pretos, o índice foi de 62,1%. Já na população branca, 30,5% das mulheres e 52,9% dos homens relataram múltiplos episódios de discriminação.
Contexto mais amplo
Os dados do levantamento se somam a outros indicadores de desigualdade racial no Brasil. O Atlas da Violência, divulgado na semana passada, mostra que pessoas negras têm 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que pessoas não negras.
O Censo 2022 do IBGE apontou que pretos e pardos representam 72,9% dos moradores de favelas. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua revelou que as taxas de desemprego entre pretos (8,4%) e pardos (8%) são superiores às registradas entre brancos (5,6%).
Políticas públicas
Para os responsáveis pelo estudo, os resultados indicam onde devem ser concentrados os esforços no combate à discriminação e apontam para a necessidade de políticas públicas específicas em áreas como a saúde.
“A gente sabe que tem muito mais violência obstétrica com mulheres negras do que com mulheres brancas. A gente sabe que tem muito menos acesso, a gente sabe que tem muito menos dispensação de analgesia e outros tipos de medicação para a população preta”, afirmou Pedro de Paula.
Ele defendeu o engajamento de diferentes setores da sociedade na luta contra o racismo: “Qualquer grupo, qualquer organização, governo, sociedade civil, empresa que enderece temas da área social no Brasil, tem o compromisso, de lutar contra essa estrutura absolutamente desigual, do ponto de vista especialmente racial”.
Com informações da Agência Brasil
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