Cultura

Com axé: noivos apaixonados há 25 anos celebram primeiro casamento religioso afro-brasileiro na Pedra de Xangô

Um casamento coletivo e gratuito, fruto de parceria com Cartório de Cajazeiras, deve acontecer em breve

Por Da Redação

Com axé: noivos apaixonados há 25 anos celebram primeiro casamento religioso afro-brasileiro na Pedra de Xangôdivulgação/Grupo Pedra de Xangô

A Pedra de Xangô, monumento sagrado para as religiões de matrizes africanas localizado na comunidade de Cajazeiras em Salvador, sedia, no próximo sábado (10/7) a primeira cerimônia de casamento religioso afro-brasileiro de que se tem notícia realizada no local. O casal receberá as bênçãos por meio das mãos de Tata Mutá Imê, sacerdote de nação Angola, a partir das 13h30. A cerimônia contará com a presença de sacerdotes e sacerdotisas do Candomblé.


O noivo é Stefano Diego Borges "Odesì", ou seja, vodunsi iniciado para o Vodun Odé. Ele é diretor do projeto Capoeira Tò Zò, que tem como objetivo tirar as crianças e jovens da região das ruas e apresentá-los à capoeira, a fim de usá-la como base para suas formações e empoderamento.


A noiva é Sinay Almeida, Gayaku, mãe de santo do Terreiro Vodun Kwe Tò Zò de nação Jeje. Gayaku Sinay, além de sacerdotisa do grupo GT da Pedra de Xangô, é instrumentadora cirúrgica e ativista de movimentos sociais e ambientais. Ela faz parte do núcleo da UBM (União Brasileira de Mulheres) da região de Cajazeiras.


O casal se conhece há aproximadamente 25 anos. Começaram o namoro quando adolescentes, mas, por alguns motivos se separaram e, nesse ínterim constituíram outras famílias. Depois de nove anos se reencontraram e estão juntos desde então. Ambos são do Candomblé de Nação Jeje e receberão as bênçãos da Pedra de Xangô.


“É um amor que temos desde a adolescência, depois de muitos desencontros nos reencontramos e vamos reafirmar e celebrar nossa união. A Pedra de Xangô foi escolhida como cenário, sob a devoção e o amor que temos a Sogbò [Divindade Fon equivalente a Xangô]. A escolha do sacerdote tem como base a hierarquia e tem o objetivo de representar a união entre as nações em prol do patrimônio comum”, esclarece o noivo.


“Eu cresci ouvindo que o que é do homem o bicho não come. Nós passamos muito tempo separados e, depois de alguns anos, Oya nos reaproximou. Então, nada mais justo do que celebrar esse reencontro, essa reaproximação e a resistência desse amor, pedindo as bênçãos na Pedra de Xangô. Eu que sou filha de Oya e Sogbò, raspada por um homem de Xangô, não poderia escolher outro lugar para meu casamento”, festeja a noiva.


HISTÓRIA


Maria Alice Silva, mestra e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA, autora do livro Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro na cidade de Salvador aponta que a realização do ato religioso na Pedra de Xangô ratifica a importância do monumento para os adeptos das religiões de matriz afro-brasileira.


“Com a tão esperada inauguração do Parque Pedra de Xangô, o povo de terreiro, pela primeira vez na história, vai poder contar com um equipamento público onde poderá realizar suas celebrações, sob as bênçãos dos orixás, voduns, nkisis, caboclos e encantados. É um momento histórico, único, um marco para as comunidades de terreiros na Bahia. Esperamos que muitos casamentos sejam realizados na Pedra de Xangô, Nzazi e Sogbo, patrimônio cultural da cidade de Salvador”, comemora.


Além do matrimônio, outras celebrações já estão sendo planejadas. Em parceria com o Cartório de Cajazeiras, a plataforma digital Pedra de Xangô: Forças da Natureza e o terreiro Vodun Kwe Tò Zò estão preparando um casamento coletivo gratuito na Pedra de Xangô.


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