Amizade colorida: relação dinâmica ou risco à amizade?

Entre beijos, festas universitárias e mensagens trocadas, uma pergunta segue sem resposta definitiva: amizade colorida funciona? A dinâmica, que mistura afeto e desejo sem o compromisso de um namoro, é cada vez mais comum entre jovens. Mas será que ela realmente dá certo ou é uma armadilha emocional disfarçada de liberdade?

Conversamos com jovens que viveram histórias intensas nesse formato e reunimos experiências que revelam o lado doce e amargo das relações “coloridas”.

Quando o desejo nasce da amizade

Uma estudante universitária, que não quis se identificar, contou que sua amizade colorida começou de forma inusitada. Ela estava ficando com uma amiga quando começou a se envolver com um outro amigo em comum das duas. O que era uma relação de provocação leve, virou conexão física e emocional. “Tinha uma vibe enemies to lovers, mas sem o lovers, só o sexo mesmo”, relata entre risos. 

A dinâmica entre eles era cheia de provocações, afastamentos e reaproximações, sempre com tensão sexual no ar. “Mas hoje sou bloqueada em tudo. Ele deu em cima de mim enquanto eu namorava e, quando cortei o contato, ele não quis mais ser meu ‘enemy’.” Apesar da confusão, ela acredita que as amizades coloridas funcionam sim, desde que haja clareza e maturidade. “Sempre fui muito direta. Se queria ficar com algum amigo, eu falava. Se desse certo, ótimo. Se não, ficava por isso mesmo.”

O lado ruim da amizade colorida 

Outra jovem relata que o envolvimento com uma amiga acabou gerando consequências mais complexas, sem um final feliz. “Eu meio que tirei a menina do armário, mas ela era muito próxima da minha melhor amiga, que ficou surtada quando soube. E a menina era bem caótica.” Mesmo assim, elas tentaram manter a amizade, que seguia com beijos esporádicos em festas. Mas os sentimentos mudaram. “Eu me apaixonei e fui sincera. Disse que não queria mais só aquilo. Quando ela começou a se envolver com outra pessoa, me incomodou muito e nos afastamos de vez.”

Para ela, o fator determinante é a maturidade. “Eu era muito nova, tinha 15, 16 anos. Não sabia lidar com aquilo. Talvez, com mais cabeça, teria sido diferente.”

Amizade, respeito e fim com afeto

Nem todas as histórias terminam em bloqueios ou mágoas. Uma universitária conta que sua amizade colorida com uma colega de faculdade evoluiu de forma leve e respeitosa. “A gente se via todos os dias, éramos muito amigas. Eu tinha vontade, mas não queria estragar a amizade. Até que ela tomou a iniciativa e começamos a ficar.”

Durante todo o tempo em que se envolveram, o respeito mútuo foi mantido. “Continuamos sendo amigas, trabalhando juntas. Só ficávamos quando saímos, e mesmo assim, de forma natural.” O fim da relação aconteceu quando a amiga começou a namorar. “Ela encontrou alguém especial, e eu fiquei feliz por ela. Continuamos amigas.”

Afinal, amizade colorida funciona?

A resposta para isso é: depende. A amizade colorida pode funcionar muito bem para pessoas que têm maturidade emocional, comunicação clara e respeito mútuo. No entanto, quando sentimentos mais profundos emergem de forma não correspondida, ou, quando o ego entra em jogo, a relação pode desandar.

O psicólogo Carlos Nogueira alerta: “As pessoas nem sempre entram com os mesmos objetivos. O risco da amizade colorida é que ela pode parecer ‘segura’, mas envolve afetos humanos, que são imprevisíveis.”

O especialista em comportamento humano também reforça que o segredo está no diálogo constante. Se ambos os envolvidos têm clareza sobre o que desejam e sabem lidar com os limites, a amizade colorida pode ser leve e prazerosa. Mas, como qualquer relação humana, envolve riscos e emoções.

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