Brasileiro está falando menos de política no WhatsApp, diz estudo
O receio de se manifestar politicamente é um dos principais achados do estudo: cerca de 56% dos entrevistados afirmaram ter medo de emitir opinião política no WhatsApp
Por Rosana Bomfim.
Um estudo divulgado nesta segunda-feira (15) revela uma queda significativa no compartilhamento de notícias e opiniões políticas em grupos de WhatsApp no Brasil.
A pesquisa “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, realizada pelo InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social, também mostra que mais da metade dos usuários sente medo de expressar suas opiniões políticas nesses ambientes digitais.
O levantamento ouviu 3.113 pessoas com 16 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024. As duas instituições responsáveis pela pesquisa são organizações independentes e sem fins lucrativos.
Fique atento, Whatsapp deixa de funcionar nos seguintes celulares a partir de dezembro.

Menos política nos grupos
De acordo com o estudo, a maior parte dos usuários do WhatsApp participa de grupos de família (54%) e grupos de amigos (53%), enquanto 38% integram grupos de trabalho. Já os grupos voltados especificamente para debates políticos representam apenas 6%, uma queda em relação a 2020, quando esse percentual era de 10%.

A pesquisa identificou ainda uma diminuição consistente da presença de conteúdos sobre política, políticos e governo nos principais tipos de grupos. Em grupos de família, por exemplo, 34% dos entrevistados afirmavam, em 2021, que esse era o espaço onde mais apareciam mensagens políticas. Em 2024, esse número caiu para 27%.
Nos grupos de amigos, a queda foi ainda mais acentuada: de 38% para 24% no mesmo período. Já nos grupos de trabalho, o índice recuou de 16% para 11%.
“Evitamos falar sobre política. Acho que todos têm um senso autorregulador ali, e cada um tenta ter bom senso para não misturar as coisas”, relata uma mulher de 50 anos, de São Paulo, sobre o grupo de família do qual participa.
Medo de se posicionar
O receio de se manifestar politicamente é um dos principais achados do estudo. Cerca de 56% dos entrevistados afirmaram ter medo de emitir opinião política no WhatsApp, alegando que o ambiente se tornou “muito agressivo”.
Esse sentimento é compartilhado por pessoas de diferentes espectros ideológicos: 63% dos que se consideram de esquerda, 66% dos de centro e 61% dos de direita dizem sentir esse temor.
“Acho que os ataques hoje estão mais acalorados. Então, às vezes você fala alguma coisa e é mais complicado, o pessoal não quer debater, na verdade, já quer ir para a briga mesmo”, afirma uma mulher de 36 anos, de Pernambuco.
Segundo os autores, consolidou-se um comportamento de autocensura e prevenção de conflitos. Os dados mostram que 52% dos entrevistados dizem se policiar cada vez mais sobre o que falam nos grupos, enquanto 50% evitam falar de política especificamente nos grupos de família para fugir de brigas.
Além disso, 65% afirmam evitar compartilhar mensagens que possam atacar os valores de outras pessoas.
Quase um terço dos participantes (29%) já saiu de grupos nos quais não se sentia à vontade para expressar opiniões políticas. “Tive que sair, era demais, muita briga, muita discussão, propaganda política, bateção de boca”, relata uma entrevistada.
Quem ainda se posiciona
Apesar do cenário de retração, o estudo aponta que uma parcela dos usuários continua se manifestando mesmo diante de possíveis conflitos. 12% afirmam compartilhar conteúdos que consideram importantes, ainda que isso gere desconforto no grupo, e 18% dizem que expressam suas ideias mesmo quando podem parecer ofensivas.

“Eu taco fogo no grupo. Gosto de assunto polêmico, gosto de falar, gosto de tacar lenha na fogueira e muitas vezes sou removida”, conta uma mulher de 26 anos, de Minas Gerais.
Entre os 44% que se dizem seguros para falar sobre política no WhatsApp, algumas estratégias são adotadas para evitar conflitos:
- 30% acreditam que o humor é uma boa forma de abordar temas políticos;
- 34% preferem discutir política em conversas privadas;
- 29% falam sobre política apenas em grupos com pessoas que pensam de forma semelhante.
“Eu gosto de discutir, mas é individualmente. Eu não gosto de expor isso para todo mundo”, afirma um entrevistado de 32 anos, do Espírito Santo.
Amadurecimento no uso
Para a diretora do InternetLab e uma das autoras do estudo, Heloisa Massaro, os resultados indicam um processo de amadurecimento no uso do aplicativo. Segundo ela, o WhatsApp está profundamente integrado ao cotidiano das pessoas e, assim como no mundo presencial, a política faz parte das interações — mas agora com novas regras implícitas.
“O estudo mostra que as pessoas foram desenvolvendo normas éticas próprias para lidar com essa comunicação política no aplicativo, especialmente nos grupos”, afirma. “Elas se policiam mais, relatam um amadurecimento no uso.”
A pesquisa é realizada anualmente desde o fim de 2020 e conta com apoio financeiro do WhatsApp. De acordo com o InternetLab, a empresa não teve qualquer ingerência sobre a condução ou os resultados do estudo.
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