Cólica na adolescência aumenta risco de dor crônica, aponta estudo
Estudo indica que cólica intensa na adolescência pode aumentar risco de dor crônica
Por Da redação.
Uma nova pesquisa reforça que a cólica na adolescência, quando intensa e recorrente, não deve ser naturalizada. O estudo indica que tratar a dismenorreia severa precocemente pode evitar anos de dor e melhorar a qualidade de vida.
Realizado por pesquisadores britânicos e brasileiros, o trabalho mostra que adolescentes que sofrem com cólicas fortes têm maior risco de desenvolver dor crônica na vida adulta - mesmo fora do período menstrual e em diferentes regiões do corpo.

Estudo acompanhou adolescentes por 12 anos
A pesquisa, publicada em novembro na revista The Lancet Child & Adolescent Health, analisou 1.157 meninas monitoradas desde o nascimento pelo estudo Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), no Reino Unido.
Aos 15 anos, as participantes classificaram a intensidade da cólica menstrual. Aos 26, relataram dores persistentes por mais de três meses, critério usado para definir dor crônica. O estudo excluiu adolescentes que já tinham histórico de dor crônica antes da menarca.
Os dados apontam que 84% das mulheres tiveram algum grau de cólica na adolescência. Entre elas, 59% sentiam dor moderada ou severa. Aos 26 anos, 26,5% das participantes relataram dor crônica. O índice subiu de 17% entre quem nunca teve cólica para 33,5% entre as que sofreram dor intensa.
As adolescentes com dor moderada ou intensa tinham 76% mais risco de desenvolver dor crônica na vida adulta. As queixas mais comuns incluíram dores nas costas, cabeça e abdômen, além de articulações e pernas.
O que explica essa relação de cólica intensa na adolescência e dor crônica?
Segundo o ginecologista Omero Benedicto Poli Netto, da USP, “durante muito tempo se achou que a dor menstrual era um fenômeno hormonal e limitado ao útero. Hoje sabemos que, em muitas mulheres, ela representa uma alteração mais ampla nos mecanismos de percepção e controle da dor, envolvendo o sistema nervoso central”.
A dismenorreia ocorre pelas contrações uterinas que ajudam a expelir o sangue menstrual. “Essas contrações são mediadas pela liberação de prostaglandinas, substâncias inflamatórias que causam dor. Quando são muito intensas, reduzem o fluxo de oxigênio nas fibras musculares do útero e isso aumenta a sensação dolorosa”, explica a ginecologista Renata Bonaccorso Lamego.
Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é a sensibilização central — mecanismo no qual o sistema nervoso cria uma “memória dolorosa”. “É como se o sistema nervoso fosse treinado a responder de forma amplificada à dor”, afirma Poli Netto.
Fatores emocionais e genéticos também influenciam na dor
O estudo também encontrou associação entre dor crônica, ansiedade e depressão. “A dor crônica pode estar associada ao desenvolvimento de sintomas depressivos e ansiosos, mas pessoas com histórico de ansiedade e depressão também são mais vulneráveis a desenvolver dor. É um círculo vicioso”, observa o pesquisador da USP.
Há ainda componentes biológicos individuais. “Há uma predisposição genética, mas ainda não é possível afirmar com precisão por que algumas meninas sentem mais dor que outras”, explica Lamego.
Como lidar com a cólica na adolescência
Especialistas reforçam que nenhuma dor deve ser considerada normal. “O que é aceitável é um desconforto leve que melhora com analgésicos simples. Se a dor interrompe a rotina, causa faltas na escola ou não melhora com remédios comuns, já merece investigação”, afirma Lamego.
Entre as estratégias para reduzir a dor e evitar sua cronicidade estão:
- uso correto de anticoncepcionais hormonais;
- atividade física regular;
- sono adequado e alimentação equilibrada;
- bolsa de água quente para relaxamento muscular;
- uso de ácido tranexâmico para redução do fluxo menstrual, quando indicado.
Para Poli Netto, os achados reforçam a necessidade de políticas públicas de educação menstrual. “A atividade física tem múltiplos efeitos que ajudam a modular a resposta à dor. Já o engajamento social e emocional reduz a percepção negativa do sintoma e melhora o bem-estar geral”, conclui.
*Com informações da Agência Einstein
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