Síndrome de fim de ano: como lidar com a pressão por estar feliz
Segundo profissionais da área de saúde mental, esse fenômeno envolve sentimentos como nostalgia, cansaço, frustração, esperança e autocobrança
Por Bruna Castelo Branco.
O fim do ano é tradicionalmente associado a celebrações, esperança e alegria, mas para parte da população o período pode ser marcado por sentimentos ambíguos ou intensos. Esse conjunto de emoções é frequentemente descrito por especialistas como “síndrome de fim de ano”, expressão usada para caracterizar sensações que se intensificam com a proximidade de dezembro. Com informações da Agência Einstein.
Segundo profissionais da área de saúde mental, esse fenômeno envolve sentimentos como nostalgia, cansaço, frustração, esperança e autocobrança, além de dor relacionada a perdas recentes. “Todo ciclo que termina desperta balanços internos. Celebramos conquistas, mas também lembramos de frustrações, pendências e perdas”, afirma Bianca Batista Dalmaso, psicóloga sênior do Espaço Einstein Bem-Estar e Saúde Mental, do Einstein Hospital Israelita.
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De acordo com os especialistas, o encerramento simbólico de um ciclo costuma ativar memórias e comparações internas, levando a questionamentos sobre metas não alcançadas ou expectativas frustradas. Esse processo, no entanto, é considerado natural. “A mistura de alegria, ansiedade e nostalgia é esperada e não significa que algo está errado”, diz Dalmaso.
Outro fator apontado é a expectativa social de felicidade associada às festas de fim de ano. O período é marcado por encontros, celebrações e uma cobrança implícita para demonstrar alegria. Para a psicóloga Ana Lúcia Karasin, também do Espaço Einstein Bem-Estar e Saúde Mental, muitas pessoas sentem que precisam corresponder a esse clima, mesmo quando não estão emocionalmente disponíveis. “Um passo importante para evitar desconfortos nessas situações é reconhecer os próprios limites e recusar convites quando necessário”, orienta.
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A pressão para se mostrar bem pode gerar sentimentos de culpa ou inadequação. “Saúde emocional não significa estar alegre o tempo todo, mas saber reconhecer e respeitar o que se sente”, afirma Bianca Dalmaso. Segundo ela, manter uma comunicação honesta com familiares e amigos pode ajudar a atravessar o período, com falas como “Este ano estou mais quieto, preciso de um tempo” ou “Quero estar com vocês, mas talvez eu participe só um pouquinho”.
Para pessoas em processo de luto recente, o fim de ano tende a ser ainda mais desafiador. As festas podem intensificar a sensação de ausência e reativar lembranças, ampliando a tristeza. Especialistas recomendam permitir-se sentir essas emoções, criar rituais próprios e aceitar apoio emocional. “O vazio nessa época do ano fica mais evidente. Estar ao lado de quem acolhe ajuda muito”, assegura Bianca Dalmaso.
A cobrança por demonstrar felicidade nas festas também pode ser agravada pelas redes sociais, onde imagens de reuniões familiares, celebrações e retrospectivas positivas são amplamente compartilhadas. “As redes sociais mostram quase sempre só os pontos altos, e isso distorce a percepção sobre a própria vida. A realidade nunca é tão perfeita quanto o que aparece na tela”, observa Ana Lúcia Karasin.

Outro aspecto recorrente nesse período é a sensação de que o ano terminou sem que objetivos importantes tenham sido alcançados. A virada do calendário costuma intensificar a autocrítica. Para lidar com isso, especialistas sugerem substituir avaliações punitivas por reflexões mais equilibradas. “Em vez de perguntar ‘o que não fiz?’, tente se perguntar: ‘do que me orgulho?’, ‘onde fui resiliente?’ ou ‘qual foi a minha maior vitória invisível?’”, orienta Dalmaso.
Sinais como pensamentos persistentes de inadequação, dificuldade de se desligar, perda de prazer em atividades habituais, ansiedade frequente, tristeza prolongada, isolamento e falta de energia devem ser observados com atenção. Nesses casos, buscar apoio psicológico é recomendado. “Cada pessoa atravessa dezembro do seu próprio jeito e tudo bem se, neste ano, o sentimento predominante não for de alegria”, conclui Ana Lúcia Karasin.
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