Milagres de Santa Dulce: os casos que levaram à canonização do 'Anjo Bom da Bahia'

Dois milagres foram atribuídos à Santa Dulce dos Pobres

Por Juana Castro.

Quais foram os milagres de Santa Dulce? O questionamento aparece ainda mais neste 13 de agosto, quando é celebrado o Dia de Santa Dulce dos Pobres, a primeira santidade nascida no Brasil.

A história de altruísmo e fé de Irmã Dulce, conhecida como "O Anjo Bom da Bahia", culminou em sua canonização como Santa Dulce dos Pobres em 2019. O processo de santidade, rigoroso na Igreja Católica, foi solidificado pelo reconhecimento de dois milagres atribuídos à sua intercessão. Ambos os eventos foram declarados preternaturais, instantâneos e duradouros pelo Vaticano.

 Dulce foi canonizada em 2019 | Foto: Acervo OSID

Primeiro milagre de Santa Dulce: a cura de uma hemorragia pós-parto

O primeiro milagre, fundamental para sua beatificação, ocorreu em 2001 na cidade de Itabaiana, Sergipe. Cláudia Cristina dos Santos, após dar à luz seu segundo filho, foi acometida por uma grave hemorragia que a deixou à beira da morte por quase 28 horas. Desenganada pelos médicos, sua família, desesperada, recorreu a um padre local, devoto de Irmã Dulce.

O padre entregou uma pequena imagem da religiosa à família de Cláudia e pediu que rezassem por sua intercessão. Pouco tempo depois, de forma inexplicável para a ciência, a hemorragia cessou completamente. Cláudia se recuperou rapidamente, um evento que foi oficialmente reconhecido pelo Vaticano em 2010 e permitiu que Irmã Dulce fosse beatificada em 2011.

Segundo milagre de Santa Dulce: recuperação da visão após 14 anos de cegueira

O segundo milagre, decisivo para sua canonização, envolveu a cura do maestro baiano José Maurício Bragança Moreira. Em 2014, após 14 anos de cegueira causada por um glaucoma agressivo, o maestro sofreu uma crise de conjuntivite e, em um momento de intensa dor, pegou uma pequena imagem de Irmã Dulce e rezou com fervor.

De maneira abrupta e sem qualquer explicação médica, sua visão foi restaurada. A recuperação surpreendeu especialistas no Brasil e em Roma. O Vaticano confirmou o caso como o segundo milagre, pavimentando o caminho para que, em 13 de outubro de 2019, o Papa Francisco canonizasse a Irmã Dulce como Santa Dulce dos Pobres.

Festa de Santa Dulce

Santa Dulce dos Pobres | Imagem: OSID

Celebrada anualmente, a Festa de Santa Dulce dos Pobres deste ano começou a ser celebrada na última sexta-feira (8) e termina nesta quarta-feira (13). Nesse período, houve uma intensa programação religiosa e cultural na Praça Irmã Dulce, no Largo de Roma, em Salvador, incluindo shows gratuitos de artistas como Fafá de Belém, Daniel Boaventura, Adelmário Coelho, Carla Cristina, Del Feliz, a banda Dominus, Anjos de Resgate e o cantor coreano Junho Chu. A programação completa está disponível em: www.irmadulce.org.br.

Em tempo: legado de Irmã Dulce virou especial na TV Aratu

Em 2024, o legado de Irmã Dulce deu início à série especial da TV Aratu sobre freiras, intitulada "Vocação Para a Fé". Confira abaixo as reportagens:

- Legado de Irmã Dulce é mantido por freiras em Salvador

- Enclausuradas e Liberdade: a vida das freiras em Salvador

- Número de freiras cai quase pela metade nos últimos 10 anos, em Salvador

 

Vida e obra de Santa Dulce

Baiana de Salvador, Irmã Dulce era filha de um dentista, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e de uma dona de casa. Desde pequena, demonstrava vocação religiosa e era fervorosa devota de Santo Antônio, mas abraçou a vida religiosa em 1933, quando entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em sua primeira missão com o hábito de freira, foi designada para ensinar crianças e assistir a comunidades pobres da Cidade Baixa, em Salvador.

Ainda nos anos 1930, fundou a União Operária São Francisco, considerado o primeiro movimento cristão operário baiano, e o Círculo Operário da Bahia, grupo que se engajava na promoção cultural e social dos trabalhadores, fomentava a luta dos seus direitos e difundia o conceito de cooperativas.

De acordo com informações fornecidas pelas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), nessa época, ela iniciou "um trabalho assistencial nas comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidava na parte interna do bairro de Itapagipe, em Salvador".

"Nessa mesma época, começava a atender também os operários, que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico", ressalta a organização.

Em 1939, a religiosa foi uma das fundadoras do Colégio Santo Antônio, uma instituição voltada aos operários e seus filhos. Já nessa época, ela demonstrava preocupação pelos cuidados de saúde dos pobres. Chegou a promover a invasão de casas abandonadas para transformá-las em abrigo para doentes mas, expulsa, na década seguinte decidiu transformar em um hospital improvisado o galinheiro de seu convento. Era o embrião do Hospital Santo Antônio, centro de um complexo médico, social e educacional que funciona até hoje.

Em seu primeiro hospital, improvisado no antigo galinheiro, Irmã Dulce tinha um ambulatório com capacidade para atender a 70 pessoas. Captou recursos e em 1960 transformou aquilo em um hospital de verdade, com 150 leitos. Uma nova reforma foi feita e, menos de 10 anos depois, o hospital tinha capacidade para atender a 300 pacientes. Em 1983, ampliado novamente, chegou a 800.

Isso hoje pode parecer algo simples, mas antes do advento do SUS, o acesso à saúde no Brasil não era universal. As pessoas mais pobres não conseguiam atendimento. O colapso social que Salvador viveu no período teria sido muito mais doloroso para a população pobre, muito pior, se não fosse a atuação de Irmã Dulce. Ela antecedeu, em muitas décadas, o papel que o SUS teria no futuro.

Canonização de Irmã Dulce

A cerimônia de Canonização de Irmã Dulce aconteceu no dia 13 de outubro de 2019, no Vaticano, na Itália. Oficialmente, ela passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres, tendo como data litúrgica o dia 13 de agosto. A freira, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, é a primeira santa brasileira e sua canonização é a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após seu falecimento).

Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus - pela qual Irmã Dulce se consagrou freira

A Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus nasceu no Brasil, mas se internacionalizou e hoje, além do território nacional - com unidades espalhadas por diversos estados como Sergipe, Pernambuco, Piauí e São Paulo, possui representações em países como China, Alemanha, Taiwan, Filipinas, Namíbia, Angola, Vietnã e Estados Unidos.

Inspirada no legado da Mãe dos Pobres, a congregação atua com projetos sociais nas áreas de saúde e educação, com pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social, além de refugiados e povos indígenas.

Instituto Filhas de Maria Servas dos Pobres, congregação fundada por Irmã Dulce

Com sede no município de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, o Instituto Filhas de Maria Servas dos Pobres conta com unidades também em Aracaju (SE) e Petrópolis (RJ), reunindo religiosas que abraçam a missão de perpetuar o legado de Santa Dulce dos Pobres e colocar em prática valores como amor ao próximo, empatia e solidariedade.

O Dulcismo

Santa Dulce | Foto: Acervo OSID

As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) lançaram, em abril de 2024, a cartilha “Dulcismo – O jeito Dulce de pensar, ser e agir”, dando um passo importante para a promoção de uma imersão ainda maior em sua cultura organizacional.

Dialogando diretamente com os colaboradores da OSID, a cartilha “Dulcismo – O jeito Dulce de pensar, ser e agir” fala sobre os valores intrínsecos à identidade da instituição, orientando que sejam compreendidos, internalizados e aplicados nas ações cotidianas.

A proposta é olhar para o público assistido nas Obras Sociais pelas lentes do Dulcismo, ou seja, com amor, empatia e inclusão. E, do mesmo modo, propor que cada colaborador possa fazer o seu trabalho conectado aos valores da obra, para servir com perseverança, humildade, simplicidade e fé, colocando em suas ações sentimentos de compaixão, gratidão e paz.

Recentemente, o Padre Julio Lancellotti afirmou seguir e praticar o Dulcismo. Ele esteve em Salvador, na última semana, e presidiu uma missa em honra à memória da santa. 

Obras Sociais Irmã Dulce - OSID

As Obras Sociais Irmã Dulce abrigam um dos maiores complexos de saúde 100% gratuito do Brasil, com 23 núcleos, cerca de 700 leitos e mais de 6 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, no estado.

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