Diretora do presídio é suspeita de mandar matar quem a denunciava
Diretora é apontada como mandante da morte de Alan Quevim, que a acusava de favorecer facção e atuar politicamente dentro do presídio de Eunápolis
Por, Matheus Caldas e João Tramm.
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, usou sua relação com o líder da facção Primeiro Comando de Eunápolis (PCE) para calar um desafeto nas redes sociais: o ativista Alan Quevim Santos Barbosa. As informações foram obtidas pela reportagem através da denúncia formal do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Alan era conhecido por suas postagens contundentes no Instagram, onde denunciava irregularidades cometidas por Joneuma enquanto diretora do presídio. Em seus relatos, ele a chamava de “miliciana” e acusava-a de envolvimento político com candidatos e de facilitar a entrada de objetos ilícitos para beneficiar internos da facção. As críticas públicas teriam irritado profundamente a gestora, que, conforme apurado, teria pedido ao companheiro e detento Ednaldo Pereira Souza, o "Dada", que “desse um jeito” em Alan.
Pouco tempo depois, em 7 de junho de 2024, Alan foi sequestrado dentro da própria casa por dois homens ligados ao PCE. Um dos executores foi identificado como Marcos Vinicius Tavares Ferreira Santos, conhecido como “Gago”. Ele foi levado a um local conhecido como “desembolo” — uma espécie de tribunal do crime utilizado pela facção para aplicar punições brutais contra desafetos e membros considerados traidores.
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De acordo com o Ministério Público, Alan foi cruelmente assassinado no local e seu corpo descartado, até hoje sem paradeiro conhecido. O modo de execução — normalmente a pauladas ou pedradas — é parte do ritual da facção para intimidar inimigos.
As investigações em curso, reunidas no Inquérito Policial nº 33613/2024, indicam que o homicídio de Alan não teria sido um episódio isolado na trajetória criminosa de Joneuma. Há suspeitas de que ela já tenha participado de outras ações semelhantes, sempre em articulação direta com Dada.
A denúncia reforça o grau de envolvimento da ex-diretora com a facção, mostrando que seu papel ia além da corrupção administrativa: ela teria usado sua posição institucional e vínculos afetivos com criminosos para eliminar ameaças, ampliando o poder da facção dentro e fora dos muros da prisão.
O caso escancara mais uma vez os limites perigosos entre o aparato estatal e o crime organizado, onde denúncias públicas podem custar a vida — e diretores de presídio podem se tornar mandantes de execuções sumárias.
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