Censo mostra que favelas estão sem calçadas e rede de esgoto em Salvador

Censo do IBGE revela que favelas em Salvador ainda não possuem calçadas nem rede de esgoto; dados revelam desigualdades significativas na infraestrutura urbana

Por Laraelen Oliveira.

O Censo Demográfico de 2022 revelou desigualdades profundas em elementos essenciais da infraestrutura urbana em Salvador, especialmente quando comparadas às condições entre favelas e outras áreas da cidade. Calçadas, bueiros, rampas de acessibilidade, arborização e outros componentes básicos do espaço urbano estão ausentes na maior parte das comunidades vulneráveis, realidade que se repete em todo o país, mas se acentua na Bahia e na capital baiana.

Nas favelas de Salvador, a falta de calçadas era um dos problemas mais difundidos, 7 em cada 10 moradores viviam em vias sem passeio, o equivalente a 67,6% da população desses territórios (695.390 pessoas). Fora das favelas, essa proporção caía para 25,6% (353.912 pessoas), quase três vezes menor. Mesmo nos locais em que existiam calçadas, havia barreiras para utilizá-las, 28,0% dos moradores de favelas (287.436 pessoas) e 45,9% da população de áreas fora desses territórios (634.255) relataram obstáculos que comprometem a acessibilidade.

A falta de calçadas nas favelas não afeta apenas a mobilidade: especialistas apontam que ela aumenta o risco de acidentes e inviabiliza a circulação de idosos, crianças e pessoas com deficiência/Foto: Reprodução

A arborização pública também apresentava desigualdades marcantes. Oito em cada dez habitantes de favelas em Salvador viviam em vias sem nenhuma árvore, 80,3% da população, ou 826.138 pessoas. Entre os moradores de áreas fora das favelas, a ausência de arborização ainda era significativa, porém menor 54,7% (756.134 pessoas).

A situação dos sistemas de drenagem reforça o cenário. Bueiros e bocas de lobo não estavam disponíveis nas vias de 52,9% dos moradores de favelas (543.980 pessoas). Fora delas, a proporção era de 38,7% (535.767 moradores).

A acessibilidade urbana também é um ponto crítico. Apenas 0,7% da população das favelas, 7.272 pessoas, vivia em vias com rampas para cadeirantes. Nas áreas fora de favelas, o percentual era maior, 11,7% (161.212 moradores), mas ainda insuficiente diante das necessidades do município. Outro aspecto relevante é a pavimentação, enquanto 2,3% dos moradores de favelas (23.501 pessoas) viviam em ruas não pavimentadas, esse percentual era de 1,3% (22.381 moradores) nas áreas fora desses territórios.

Carências em infraestrutura básica 

Por outro lado, a iluminação pública aparece como um dos serviços menos desiguais. Apenas 2,0% dos moradores de favelas (20.901 pessoas) viviam em vias sem iluminação, proporção próxima aos 1,1% registrados fora desses locais (15.257 pessoas). Ainda assim, a comparação entre outros elementos evidencia que a maior parte da população soteropolitana, especialmente a que vive em favelas, enfrenta carências significativas de infraestrutura básica.

 

Mesmo com iluminação pública mais distribuída, áreas periféricas seguem vulneráveis a assaltos, principalmente em vias estreitas, sem calçadas e com pouca movimentação/Foto: Reprodução 

A Pesquisa do Entorno dos Domicílios reforça essa percepção. A ausência de sinalização cicloviária, por exemplo, é quase universal nas favelas, 99,0% dos moradores (1.018.487 pessoas) viviam em vias sem marcações para bicicletas, número que também era elevado fora das favelas, alcançando 94,8% da população (1.311.629 pessoas). Já a disponibilidade de pontos de ônibus ou vans revela desigualdade maior, 96,0% dos moradores de favelas (987.110 pessoas) residiam em vias sem qualquer ponto de transporte coletivo, contra 88,2% da população de outros bairros (1.219.253 moradores).

Algumas favelas apresentam déficits extremos. Em oito delas (3,0%), toda a população vivia em vias sem calçadas. Por outro lado, os menores percentuais foram registrados em Jardim Mangabeira (1,9%), Baixa da Gia (2,5%) e Sete de Abril (7,1%). A falta de árvores também era absoluta em 12 favelas (4,6%), enquanto Travessa Manoel de Jesus (1,8%), Vila Santinha (12,9%) e Recanto Feliz (21,3%) registraram as menores taxas de ausência de arborização.

A deficiência de drenagem também se repetia: em outras 12 favelas (4,6%), nenhum morador vivia em vias com bueiros ou bocas de lobo. Bico Doce (1,3%), Ogunjá (2,0%) e Nova Palestina (3,4%) apresentavam os menores índices desse problema.

Sem rampas adequadas, pessoas com deficiência, idosos e pais com carrinhos de bebê enfrentam um percurso urbano cheio de barreiras/Foto: Reprodução

A acessibilidade mostrava um cenário ainda mais crítico, 185 das 262 favelas (70,6%) não tinham nenhuma via com rampas para cadeirantes. Os maiores percentuais de moradores vivendo em vias acessíveis foram registrados em Paraíso Azul (43,9%), Alto da Sereia (24,4%) e Sete de Abril (18,2%).

A circulação viária também era precária, em Vila Brandão, Travessa Manoel de Jesus e Vila Santinha, toda a população residia em áreas onde as vias comportavam apenas motos, devido à baixa capacidade de tráfego.

A pavimentação também variava entre as comunidades. Em Fundos do Colégio Edgard Santos (95,3%) e Vila Vitória (93,2%), a grande maioria dos moradores vivia em vias não pavimentadas. Vila Vitória também liderava o ranking de vias sem iluminação pública, com 79,2% de sua população nessa situação. Na sequência estavam Fazenda Grande IV – Setor 2 (65,8%) e Alto de São João (27,1%).

No que diz respeito ao transporte público, 75 favelas (28,6%) não tinham nenhum ponto de ônibus ou van. As menores proporções de moradores sem acesso a esse equipamento foram observadas em Avenida Edgar Santos (63,5%), São Cristóvão II (70,8%) e Novo Brasil (73,1%).

Por fim, a falta de sinalização cicloviária era total em 163 das 262 favelas (62,2%). As menores proporções, ainda muito elevadas, estavam em Alto da Sereia (76,6%), São Cristóvão II (84,4%) e Beira Mangue (85,7%).

Projetos para a Bahia: saiba sobre os novos planos para a infraestrutura de Salvador

A nova ligação Lobato x BR-324 foi inaugurada. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), a obra tem objetivo de criar uma conexão direta entre o Subúrbio Ferroviário e a rodovia federal, no sentido Centro de Salvador, reduzindo os engarrafamentos da região.

Os moradores do Centro Histórico de Salvador serão beneficiados com a criação de uma nova área de lazer que inclui praças, parque infantil e até um cinema ao ar livre. A iniciativa faz parte do Plano Pilar, projeto da Prefeitura de Salvador, desenvolvido pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), que tem como objetivo revitalizar a região onde vivem cerca de 500 pessoas.

O casarão histórico Solar Boa Vista, localizado no Engenho Velho de Brotas, em Salvador, está passando por intervenções estruturais que fazem parte de um plano de reforma. A negociação foi feita para o início das obras de estabilização da edificação, tombada desde 1941 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Leia também: Mãe e filha constroem casa com 8.000 garrafas de vidro e viralizam

Leia também: Salvador registra aumento de vandalismo em mudas recém-plantadas

Leia também: Primeiros trens do VLT de Salvador chegam à capital; veja imagens

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.