Transplantados com HIV: técnico disse à Polícia que 'ordem era economizar' em testes
A informação é do técnico Ivanilson Fernandes dos Santos, em depoimento dado à Polícia Civil do Rio de Janeiro após prisão nesta segunda-feira (14/10)
O PCS Lab Saleme, laboratório investigado por emitir os laudos negativos que resultaram em pelo menos seis pacientes testando positivo para HIV após receberem órgãos infectados com o vírus, reduziu o controle de qualidade dos exames para economizar. A informação é do técnico Ivanilson Fernandes dos Santos, em depoimento dado à Polícia Civil do Rio de Janeiro após prisão nesta segunda-feira (14/10).
Segundo Ivanilson, até dezembro de 2023 o controle de qualidade da sorologia era feito diariamente. A partir de janeiro de 2024, os testes passaram a ser semanais "por questão de economia dos kits de reagentes que são muito caros".
Os produtos químicos são utilizados em uma máquina analítica e, por causa do alto custo, permaneceram muito tempo no equipamento. No depoimento, o técnico disse acreditar que os erros podem ter acontecido porque os reagentes ficaram degradados.
"Podem ocorrer erros em face de que os reagentes ficam degradados por permanecerem muito tempo na máquina analítica; que o controle é uma segurança da certeza do resultado e por isso deve ser diário", disse.
Segundo ele, a mudança foi comunicada pela coordenadora Adriana Vargas, que teria dito que "a ordem era economizar porque estava tendo muitos gastos". Ainda de acordo com o técnico, muitos dos produtos usados em testes eram entregues com validade bem perto de expirar.
Ivanilson disse à Polícia que acreditava que algo de errado poderia acontecer e que pensava em pedir demissão, mas que foi desligado na última sexta-feira (11).
O funcionário foi preso na manhã de segunda pela Operação Verum, conduzida pela Delegacia do Consumidor (Decon). Ele é apontado como um dos responsáveis pelos laudos errados que resultaram nos transplantes de órgãos infectados com o vírus causador da Aids.
FALHA HUMANA
O ginecologista e obstetra Walter Vieira, um dos sócios e responsável técnico do laboratório, também foi detido pela Polícia Civil. Ele é tio do deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ), ex-secretário de estado de Saúde do Rio de Janeiro.
Em depoimento, ele afirmou que há indícios de falha humana na transcrição dos resultados de dois testes de HIV, segundo a sindicância interna aberta pelo laboratório.
Um dos laudos errados teria sido causado por um erro de Cléber de Oliveira Santos, coordenador de biologia do laboratório, "que deveria ter feito um procedimento de checagem do equipamento em que eram realizados os testes de HIV". Cléber é considerado foragido.
O médico afirmou que o segundo laudo com falso negativo foi causado por uma falha de Ivanilson, que teria digitado errado o resultado no sistema. Ainda segundo Walter, o erro não foi conferido por Jacqueline Iris Bacellar de Assis, que liberou e assinou o exame.
Jacqueline disse, em entrevista à TV Globo, que não era biomédica e sim uma funcionária administrativa do PCS Lab Saleme. Segundo ela, sua assinatura foi usada de maneira indevida nos laudos.
O laboratório nega. Segundo a defesa do PCS Lab Saleme, ela apresentou diploma de biomédica e carteira profissional, induzindo o laboratório a crer que ela tinha competência para assinar laudos. Jacqueline também está foragida e deve se entregar na delegacia na tarde desta terça-feira (15).
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