Fim de um povo: morre o 'índio do buraco', último sobrevivente de etnia sem contato com os não indígenas
O homem ficou conhecido como 'índio do buraco' porque cavava buracos nos locais que habitava. Ele era monitorado pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, da Funai, há 26 anos.
Conhecido como 'índio Tanaru' ou 'índio do buraco', o indígena que vivia sozinho há 26 anos na terra Indígena (TI) Tanaru, em Rondônia, foi encontrado morto na última semana, durante uma ronda da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC). Ele ela o último sobrevivente de sua etinia, cujo nome é desconhecido pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
'Tanaru' foi encontrado morto em sua rede de dormir no dia 23 de agosto, mas a informação foi divulgada pela nesse sábado (27/8). Segundo a Funai, seus pertences e utensílios foram encontrados em seus devidos lugares e duas fogueiras estavam acesas em sua casa, próximas à rede.
Por meio de nota, a fundação lamentou o falecimento e informou que não foram registrados vestígios de outras pessoas no local, marcações na mata durante o percurso até a Terra Indígena ou sinais de luta. Ainda de acordo com o órgão, o local foi examinado pela perícia da Polícia Federal (PF), com a presença de especialistas do Instituto Nacional de Criminalística (INC) de Brasília e apoio de peritos criminais da cidade de Vilhena, em Rondônia.
A causa da morte será confirmada por laudo do médico legista da PF.
SOBRE O 'ÍNDIO DO BURACO'
O homem ficou conhecido como 'índio do buraco' porque cavava buracos nos locais que habitava. Ele era monitorado pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, da Funai, há 26 anos.
Nesse período, foram registradas as habitações de palha ocupadas pelo indígena. Foram 53 casas, ao todo, chamadas pela Funai de "palhoças", e todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada e saída e um buraco cavado no interior da casa.
GENOCÍDIO
Os índios isolados que viviam na região foram alvos de diversos ataques durante as décadas de 1980 e 1990. Assim, o grupo de Tanaru, que já era pequeno, acabou dizimado.
Nas redes sociais, ativistas lamentaram a morte do indígena. "Conhecido também por sua solidão por ser o último sobrevivente do seu povo era chamado de 'índio do buraco' por abrir buracos no chão. Atravessado por tantos traumas e violência, ele nao confiava em ninguém e por isso permaneceu isolado", escreveu Txai Suruí, ativista do povo Paiter Suruí.
Conhecido também por sua solidão por ser o último sobrevivente do seu povo era chamado de “índio do buraco” por abrir buracos no chão. Atravessado por tantos traumas e violência, ele nao confiava em ninguém e por isso permaneceu isolado. pic.twitter.com/JoGTlOT9dC
— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) August 27, 2022
Sonia Guajajara, candidata a deputada federal pelo PSOL-SP, disse que "perdemos mais um dos nossos". Símbolo de resistência e que negou até seus últimos dias o contato com o não-indígena. A luta por memória e justiça é constante!"
Perdemos mais um dos nossos.
Foi encontrado morto o “índio do buraco”, como era conhecido, símbolo de resistência e que negou até seus últimos dias o contato com o não-indígena. A luta por memória e justiça é constante! pic.twitter.com/c3Lhs7Z6US
— Sonia Guajajara 5088 (@GuajajaraSonia) August 27, 2022
DOCUMENTÁRIO
A história do 'índio Tanaru' e o trabalho de indigenistas brasileiros é contada no documentário "Corumbiara" (2009), de Vincent Carelli.
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