DIA DA MULHER: Conheça a Capitã Sheila. Ela muda a PM com dança, cores e humanização
DIA DA MULHER: Conheça a Capitã Sheila. Ela muda a PM com dança, cores e humanização
Neste oito de maio comemora-se o Dia da Mulher, mas disso todo mundo sabe. Pensando sobre uma nova maneira de contar a mesma história, o Aratu Online procurou uma inspiração. A narrativa que mais chamou atenção foi a de uma policial militar “retada”. Você vai conhecer agora a comandante da Base Comunitária da Santa Cruz, a capitã Sheila Barbosa.
Dos seus 42 anos, 14 já são dedicados à Corporação. O início dessa jornada, segundo a própria, começou de maneira meio diferente. ?Eu sou professora. Comecei a ensinar com 14 anos. Quando eu chegava nas escolas via muita violência. Sempre pensava ?como vou trabalhar com tanta violência??. Aí fiquei um pouco preocupada?, relembra.
Na viagem ao tempo durante a entrevista exclusiva à reportagem do Aratu Online, ela recorda que, depois do ?baque? recebido nas salas de aula, veio a ideia de prestar concursos. ?Minha paixão era o ensino, mas aí pensei ?preciso de emprego fixo?. Passei concursos do Banco do Brasil e Caixa Econômica, por exemplo?.
Um dos certames tocou o coração daquela jovem que nasceu no bairro da Liberdade. ?Um belo dia fiz o da polícia e passei. Entrei para curso de formação de soldado e vi um mundo lindo lá dentro que as pessoas não vêm de fora. Como nossa profissão é maravilhosa, como ela é linda. E como não posso me envolver com as aspectos negativos dela. Por isso faço meu trabalho diferente e isso choca as pessoas?, diz.
‘METENDO DANÇA’
Um dos determinantes para contarmos a história da capitã foi uma ação dela no Carnaval deste ano no bairro de Nordeste de Amaralina. Ela dançou com o ?povão? e ainda deu uma ?palhinha? no trio. Essa reportagem você conferiu aqui.
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?Eu poderia não ter ido, mas fui dançar, sabe porque? No primeiro dia de trabalho fui assediada pela população para tirar foto. Eu não conseguia caminhar direito. Quando acompanhei os blocos, a mesma coisa. A galera ?comendo? água, tirando selfie, me abraçando e acolhendo. Achei aquilo fantástico. No segundo dia de serviço dobrou a coisa. Na segunda-feira, aconteceu novamente e pensei: ?que negócio é esse? Na terça estava acompanhando o último trio. E foi assim algo…Fiquei tão feliz. É aquele sentimento de que você está no caminho certo. É o sentimento que as pessoas querem essa polícia?.
A comandante recorda os momentos de euforia no circuito Mestre Bimba. ?No final do trajeto, as pessoas queriam que eu dançasse. A cantora quando acabou, me chamou: ?Cadê a linda capitã??. Fui lá e dancei. Depois subi no trio para explicar o que era a base comunitária. Fui agradecer o carinho. Não tinha instrumento ligado. Falei com eles e expliquei um incidente que teve com uma especializada [unidade da PM] dias atrás. Aí um filho de Deus que me acompanha no Facebook pediu para eu cantar. Aí cantei ?Tempo de Alegria? [música da Ivete Sangalo]?.
Veja o vídeo gravado de cima do trio:
POLÊMICAS
Nos dois anos que chefia da base, a oficial acumula duas ações que foram estranhadas por policiais militares que não conhecem o “jeito Sheila”. A primeira delas foi uma blitz ?Rosa?. O detalhe é que as viaturas estavam enfeitadas com balões cor de rosa. ?Antes de fazer comuniquei ao comandante geral. Não seria só as bolas, seria também os fundos das viaturas. O que as pessoas não conseguem entender é que somos seres humanos como qualquer outro. Estamos fazendo um trabalho de aproximação. As pessoas precisam nos enxergar como elas?, conta, meiga.
A outra situação aconteceu durante um enterro. Chegou a se dizer nos bastidores da PM que Sheila teria comparecido ao funeral de um traficante. ?Vou para vários enterros. Me chamou, estou dentro. E mesmo que fosse não seria um problema. Se a comunidade me chama, é o meu papel. O que aconteceu foi o seguinte: uma mãe perdeu sua filha que morreu em uma bala perdida após confronto envolvendo policiais e criminosos. No que ela foi a óbito, foi feito o sepultamento. Eu fui convocada pelo comandante [da 40ª Companhia Independente] porque todo mundo disse que ia ter manifestação e todas as Rondesp também foram convocadas?, relembra.
A capitã esclarece ainda que, naquela data, garantiu uma manifestação. Me antecipei e encontrei os manifestantes parando a rua. Disse para eles: ?vão com tranquilidade pois se vocês observarem tem muitos policiais ali esperando qualquer ação negativa?. Voltei correndo e mandei todas as [viaturas da] Rondesp voltarem. Eu acompanhei eles [familiares] até em casa e, hoje, ela [mãe da vítima] me tem como filha?, esclarece a capitã.
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SOU HUMANA, E VOCÊ?
?Sou um ser humano como você, como qualquer outro. Todas as atividades que faço é em prol da comunidade, da nossa segurança. Futuramente, aquela criança que estou cuidando hoje não vai me matar, não vai matar você?.
Essa frase resume muito bem o perfil da capitã Sheila. Ela acredita na ?humanização? como forma de comandar e começa na base da formação. ?Porque temos reduzido aqui o número de crianças pedindo dinheiro nas sinaleiras durante o Natal? Elas não vão mais pois ocupo elas. Faço palestras também nas escolas, não paro?.
Enquanto nossa equipe de reportagem estava na base, várias pessoas passavam pelo local e cumprimentavam a oficial, que sempre respondia. Além disso, a oficial, que não tem filhos, trata os seus comandados com gestos de carinho e gratidão. E tudo isso já rendeu premiações. Ela conta com orgulho que ganhou duas medalhas, uma da corporação e uma da Câmara dos Vereadores de Salvador pelos serviços prestados.
‘NÓS SE VÊ POR AÍ’
Além da capitã Sheila, existem mulheres que exercem funções geralmente exercida pelos homens. São motoristas, mecânicas e seguranças. Finalizamos esse perfil com mais uma mensagem da comandante.
?A gente sabe que o machismo impera. Não existe esse negócio de cor de menino e cor de menina. Temos uma mania de, quando uma criança nasce, escolher a cor do enxoval pelo sexo. Quem disse? Por quê??.
Veja, em vídeo, mais uma mensagem da capitã: