Após cidade na Itália conceder cidadania a Bolsonaro, moradores entram na justiça para reverter decisão
A cidade é o berço da família do presidente. Vittorio Bolzonaro saiu da região com sua família para o Brasil, por volta de 1878.
Três meses após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter recebido a cidadania honorária de Anguillara Veneta, na Itália, moradores da cidade e membros do Partido Europa Verde tentam recorrer à Justiça com a apresentação de uma ação popular em que pedem que a honraria seja anulada. As informações são do colunista Jamil Chade, do UOL.
A cidade é o berço da família do presidente. Vittorio Bolzonaro saiu da região com sua família para o Brasil, por volta de 1878. A mudança da ortografia no nome ocorreu por conta de um erro no cartório. Usando esse argumento das origens italianas do chefe de estado brasileiro, a prefeitura da cidade teve a iniciativa de homenagear Bolsonaro.
Os moradores, porém, não gostaram da atitude. Uma ação popular foi protocolada no tribunal de Padova no final de janeiro pelos advogados Donato Lettieri, Lucia Colangelo e Giovanni Colangelo, ligados ao partido Europa Verde. O documento de 23 páginas, ao qual o colunista teve acesso com exclusividade, denuncia a prefeita Alessandra Buoso e oito vereadores que compõem o quadro de seu governo.
JUSTIÇA
A ação pede que a resolução n. 27, com a qual foi concedida a cidadania honorária a Bolsonaro, seja considerada "ilegítima ou nula, pois a identidade e imagem da prefeitura foram lesados após terem sido associadas a expressão de valores conflitantes com os valores históricos, tradicionais e culturais do município de Anguillara Veneta".
Em 1 de novembro, enquanto chefes de governo de todo o mundo estavam na Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas em Glasgow negociando o futuro do planeta, Bolsonaro esteve em Anguillara e participou a um evento para que pudesse receber o Título de Cidadão Honorário diretamente das mãos da prefeita.
Desde 1993, o pequeno município tem o título de "cidade da paz e dos direitos humanos". Antes de receber Bolsonaro, uma reunião de emergência entre os vereadores do local foi realizada. Mas a proposta foi aprovada, enquanto um pequeno protesto foi organizado no local, com bandeiras do Brasil e um cartaz com a palavra: "vergonha".
Causou ainda indignação o fato de a prefeita, Alessandra Buoso, ter pedido a liberação de 9.000 euros (R$ 58 mil, na cotação anual) para receber "uma delegação estrangeira". Para uma cidade de apenas 4.000 habitantes e que atravessa uma crise econômica, o valor gerou revolta de uma parcela da população.
A prefeita é do partido Liga, liderado por Matteo Salvini, um admirador de Bolsonaro e que foi até a região para encontrar seu aliado político. No dia da homenagem, o almoço destinado a um seleto grupo de convidados da prefeita foi realizado em um local fora do centro e longe dos olhares dos habitantes da cidade.
PROTESTOS
Ainda segundo a reportagem, os protestos começaram no dia 25 de outubro, quando foi aprovada a concessão da cidadania. No dia seguinte, Bolsonaro era denunciado por sete crimes pela CPI da Covid.
Os jornais locais e nacionais estamparam em suas capas manchetes a indignação que dominava em Anguillara. A sede da prefeitura ainda amanheceu pichada com a frase "Fora Bolsonaro" e suja de esterco. O protesto foi organizado pelos ambientalistas do 'Rise Up 4 Climate Justice'.
"É muito perigoso se basear somente na origem italiana para conceder a cidadania honorária, isso abre um precedente enorme porque uma outra prefeitura poderia dá-la, por exemplo, a Milosevic ou um outro ditador qualquer, bastaria que tivesse parentes aquí", disse Antonio Spada, um dos signatários da ação que pede o cancelamento.
Ele contou que, assim que Bolsonaro retornou ao Brasil, a ideia de uma possível ação na Justiça começou a ser desenhada."A prefeitura não apresentou praticamente nenhuma solida razão que explicasse o motivo pelo qual Bolsonaro merecia receber a homenagem, disse apenas que era um desejo de Bolsonaro e que seus parentes vieram daqui", alegou.
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