PF indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas por envolvimento em tentativa de golpe
Conclusão das investigações é de que o ex-presidente esteve diretamente envolvido em conspiração para impedir a posse de Lula em 2022
O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve diretamente envolvido em uma conspiração para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso é o que concluiu a Polícia Federal (PF) ao fim das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. O relatório, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), indicia Bolsonaro e outras 36 pessoas (ver ao fim da matéria) por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Entre os indiciados estão o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, além de nomes como Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL; Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin; e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
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"O relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal com o indiciamento de 37 pessoas", informou a PF em nota, destacando que o inquérito será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.
Estrutura da conspiração
As investigações apontaram uma divisão de tarefas estruturada em núcleos específicos:
- Desinformação e ataques ao sistema eleitoral;
- Incitação de militares ao golpe de Estado;
- Apoio jurídico às ações golpistas;
- Inteligência paralela;
- Apoio operacional às medidas coercitivas
De acordo com a PF, as provas foram obtidas por meio de interceptações telemáticas e telefônicas, quebras de sigilo bancário e fiscal, buscas e apreensões, e delações premiadas.
Planos golpistas e resistência militar
As investigações revelaram que, em reuniões realizadas no final de 2022, Bolsonaro discutiu com aliados no Palácio da Alvorada a possibilidade de editar um decreto que invalidasse o resultado das eleições sob alegações infundadas de fraude nas urnas eletrônicas. O texto inicial foi apresentado por Filipe Martins, então assessor presidencial.
O ex-presidente teria convocado os chefes das Forças Armadas para discutir o plano. Segundo depoimentos, o general Freire Gomes, então comandante do Exército, chegou a alertar que prenderia Bolsonaro caso ele avançasse com o golpe. Em contrapartida, o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria colocado tropas à disposição do ex-presidente, mas permaneceu em silêncio durante seu depoimento à PF.
Delator sob suspeita
O avanço das investigações foi impulsionado pela delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Contudo, a PF suspeita que ele tenha omitido informações cruciais, o que pode levar à revisão do acordo por parte do ministro Alexandre de Moraes.
Conexão com outros casos
O encerramento do inquérito ocorre em meio a outros desdobramentos envolvendo Bolsonaro. O ex-presidente já foi indiciado em casos como a venda de joias recebidas pelo governo e a falsificação de certificados de vacinação.
Na última semana, a PF também realizou prisões de militares e um policial federal suspeitos de planejar o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
Reação política
Enquanto o relatório da PF chega ao STF, aliados de Bolsonaro no Congresso articulam uma anistia geral para o ex-presidente e outros envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) causou controvérsia ao minimizar as acusações de planejamento de homicídios, afirmando que "por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime".
Próximos passos
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve agora avaliar os indícios para decidir se apresentará denúncia contra Bolsonaro e os demais indiciados. Caso isso aconteça, caberá à Justiça decidir se o ex-presidente se tornará réu.
Veja a lista dos 37 indiciados pela PF, em ordem alfabética:
Ailton Gonçalves Moraes Barros
Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
Alexandre Rodrigues Ramagem
Almir Garnier Santos
Amauri Feres Saad
Anderson Gustavo Torres
Anderson Lima de Moura
Angelo Martins Denicoli
Augusto Heleno Ribeiro Pereira
Bernardo Romao Correa Netto
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
Carlos Giovani Delevati Pasini
Cleverson Ney Magalhães
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Fabrício Moreira de Bastos
Filipe Garcia Martins
Fernando Cerimedo
Giancarlo Gomes Rodrigues
Guilherme Marques de Almeida
Hélio Ferreira Lima
Jair Messias Bolsonaro
José Eduardo de Oliveira e Silva
Laercio Vergilio
Marcelo Bormevet
Marcelo Costa Câmara
Mario Fernandes
Mauro Cesar Barbosa Cid
Nilton Diniz Rodrigues
Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Rafael Martins de Oliveira
Ronald Ferreira de Araujo Junior
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Tércio Arnaud Tomaz
Valdemar Costa Neto
Walter Souza Braga Netto
Wladimir Matos Soares
Com informações do jornal Folha de S. Paulo
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