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Entidades da Sociedade Civil acionam MP contra reconhecimento facial; "uso massivo e errôneo"

Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin), assinantes da representação ao MP, a plataforma irá impactar de forma desigual populações vulneráveis, especialmente os negros.

Por Dinaldo dos Santos

Entidades da Sociedade Civil acionam MP contra reconhecimento facial; "uso massivo e errôneo"reprodução/Istock

Entidades da Sociedade Civil acionaram o Ministério Público (MP) do Estado de São Paulo contra o edital, lançado pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana da Prefeitura de São Paulo, para a contratação de uma plataforma de videomonitoramento na capital paulista.


A informação pulicada pela Agência Brasil ressalta que, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin), assinantes da representação ao MP, a plataforma irá impactar de forma desigual populações vulneráveis, especialmente os negros, em razão de os sistemas de reconhecimento facial resultarem “em gravíssimos erros baseados na discriminação algorítmica”. 


Chamado de Smart Sampa, o sistema, segundo a publicação, tem a previsão de integrar mais de 20 mil câmeras na cidade até 2024 e investimento estimado de R$ 70 milhões por ano. No edital, publicado em 17 de novembro, é previsto que o sistema a ser contratado possua recursos de identificação facial e detecção de movimento.


“As câmeras reconhecerão atitudes suspeitas, pessoas procuradas, placas de veículos e objetos perdidos”, diz o texto do edital. A data prevista para o pregão eletrônico é o próximo dia 5.


EXPERIÊNCIA


“As cidades de Feira de Santana e Rio de Janeiro, precursoras no uso do reconhecimento facial para fins de segurança pública, são constantemente criticadas pelo uso massivo e errôneo destas tecnologias. No caso da cidade baiana, durante o carnaval de 2019, apenas 3,6% dos 903 alertas gerados pelo sistema de reconhecimento facial resultaram em mandados de prisão”, destacaram as entidades na representação, protocolada na quarta-feira (30/11).


“Já no Rio de Janeiro, em um projeto-piloto, a Secretaria de Estado de Polícia Militar admitiu que dentre os onze casos de pessoas detidas com o uso da tecnologia de reconhecimento facial nas partidas do Maracanã, sete foram erros da máquina, ou seja: falsos positivos. Desta forma, o sistema errou em 63% dos casos”, acrescentaram. 


Ainda de acordo com a Agência Brasil, Idec e Lapin ressaltaram que, nos quatro meses correspondentes à segunda fase do projeto no Rio de Janeiro, não foram registradas reduções nos principais indicadores de criminalidade, e as câmeras instaladas não cumpriram a função de melhorar a segurança e, atualmente, encontram-se desativadas.


EDITAL


Na primeira versão do edital, publicado no dia 17 de novembro, estava previsto que as câmeras fossem capazes de rastrear pessoas suspeitas, monitorando todos os movimentos e atividades.


“A pesquisa deve ser feita por diferentes tipos de características como cor, face, roupas forma do corpo/aspecto físico e outras características”. Os equipamentos deveriam possuir “analíticos embarcados” para identificar “vadiagem/permanência”. Ontem (30), em publicação do Diário Oficial da cidade, os trechos foram retificados e retiradas as palavras “cor” e “vadiagem”.   


“A implementação da plataforma de videomonitoramento, na prática, produzirá impactos negativos desproporcionais para a população negra em razão do enviesamento racial inerente ao uso dessa tecnologia, assim como para as pessoas transgênero, independentemente das supostas boas intenções que eventualmente norteiem a adoção desta tecnologia pelos gestores públicos, contribuindo para reprodução e até aprofundamento da marginalização social historicamente imposta a esses grupos”, dizem as entidades na representação.


Idec e Lapin, segundo a Agência Brasil, chamam a atenção ainda para outra funcionalidade da plataforma prevista no edital, que consiste em criar um sistema de monitoramento de mídias sociais, incluindo Facebook, Instagram, Twitter, YouTube. “Em outras palavras, a Prefeitura do Município de São Paulo quer saber o que cidadãos fazem nas redes sociais em tempo real, podendo usar isso contra os mesmos e analisar cada conteúdo por sentimento, categorizando cada texto em positivo, neutro ou negativo”.


ENTIDADES


Idec e Lapin são integrantes da Coalizão Direitos na Rede, rede de entidades que reúne mais de 50 organizações acadêmicas e da sociedade civil em defesa dos direitos digitais, tendo como temas principais de atuação: acesso, liberdade de expressão, proteção de dados pessoais e privacidade na Internet.


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