EMBARAÇO: Reestruturação das linhas de ônibus dificulta mobilidade de cadeirantes em Salvador
EMBARAÇO: Reestruturação das linhas de ônibus dificulta mobilidade de cadeirantes em Salvador
A alteração das linhas de ônibus em Salvador, para permitir a integração com o metrô, tem gerado reações negativas e positivas. A primeira etapa das mudanças passou a valer em outubro deste ano. A expectativa da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) é que todas elas sejam concluídas até 31 de janeiro de 2018.
Por um lado, há a flexibilidade e variedade de opções de transporte. Porém, por outro, a reestruturação também dificultou a vida de quem antes precisava pegar apenas um ônibus para chegar ao seu destino final. Para além disso, as mudanças provocaram efeitos na rotina de uma parte da população quase sempre deixada de lado: os cadeirantes.
Não é difícil se deparar com a situação de pessoas em cadeira de rodas que precisavam pegar ônibus. Os transportes, apesar de preparados para isso, ainda estão longe de oferecer a mobilidade ideal. A prova disso é que, para que um cadeirante tenha acesso ao interior do veículo, cobrador ou motorista precisam de alguns bons minutos para conseguir manejar o elevatório. Em alguns casos, a plataforma nem funciona.
Quem precisa usar esse transporte diariamente reclama que, com a reestruturação, eles precisam saltar de um ônibus para o outro, já que algumas linhas diretas foram alteradas. Só quem passa pela situação de ter que subir e descer de um coletivo repetidas vezes para chegar a um destino final, sabe a dificuldade que enfrenta.
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VIDA REAL
José Rocha, 58 anos, usa a cadeira de rodas há 29 anos. Ele perdeu o movimento total das pernas após ser diagnosticado com Esquistossomose Medular. Funcionário público aposentado, José é morador do bairro da Massaranduba e costuma usar o ônibus para se locomover na cidade, e visitar a irmã, que reside em Itinga, na Região Metropolitana. No entanto, desde a mudança nas linhas de ônibus, sua mobilidade tem sido complicada.
“Sempre visito minha irmã em Itinga, e hoje não tenho mais essa opção de pegar só um transporte. Por eu ser cadeirante, pegar um ônibus só é bem melhor, por que aquela coisa de transbordo é sempre difícil. Hoje, eu tenho que pegar dois transportes: pegar o Ribeira/Mussurunga e de lá pegar um outro transporte para entrar em São Cristovão, então, fica bem mais difícil”, conta. Por receber um salário de aposentadoria maior, ele não pode ter o cartão de acesso para fazer a integração com o metrô e, por isso, até evita usar.
A equipe do Aratu Online acompanhou José em uma de suas viagens pela cidade. O rapaz atravessa vários obstáculos para chegar ao ponto de ônibus, como calçadas esburacadas e a falta de rampas próximas. Para visitar a irmã, ele, que antes pegava apenas um transporte, agora precisa pegar dois. Confira no vídeo abaixo:
Próximo dali, no bairro do Uruguai, mora Domingo Marinho. Para ele, as mudanças também geraram alguns embaraços. Seu Domingo tem 59 anos, e é cadeirante há 21. Além de enfrentar esses novos trajetos dos coletivos em sua rotina, descendo na estação para pegar um ou dois ônibus a mais, ele também contou que já viveu algumas situações constrangedoras nesse meio de transporte.
“É complicado, por que às vezes o ônibus tá até quebrado. Quando é assim, eu fico no ponto e espero o próximo. Uma vez no 2 de Julho, passaram três ônibus no ponto onde eu estava e os três estavam quebrados”, relembra.
Perguntado se faz uso da integração ônibus x metrô, Marinho diz que não pode, pois sua carteira dá acesso somente aos coletivo. “Pra pegar o metrô, eu teria que fazer uma outra carteira para conseguir a gratuidade. Se eu não tiver, aí só com o bilhete avulso, mas tem que pagar”, constata.
INTEGRAÇÃO PARA QUEM
Não é de hoje que existem queixas referentes às questões da mobilidade urbana de pessoas com deficiência em Salvador. Por isso, em 2 de setembro de 1980 foi criada a Associação Baiana dos Portadores de Deficiência Física (ABADEF). A entidade tem como propósito e desafio ultrapassar os obstáculos enfrentados por essas pessoas. O grupo, que conta com mais de 5 mil associados, também tem recebido reclamações sobre as mudanças.
Para a fundadora da entidade, Luíza Câmara, as alterações não foram tão benéficas para os cadeirantes. “Tivemos várias queixas sobre a nova integração, principalmente pela dificuldade que as pessoas tem em acessar o coletivo. Nem sempre aquelas plataformas elevatórias estão em ótimo estado, e às vezes estão quebradas”, admite.
REESTRUTURAÇÃO
De acordo com a SEMOB, responsável pelos coletivos de ônibus na cidade, a alteração teve o propósito de flexibilizar as linhas. Segundo titular da pasta, Fábio Mota, as mudanças foram necessárias.
“Todas as linhas que mudamos na cidade são àquelas que concorrem com o metrô, pois não faz sentido ter uma linha de ônibus pelo mesmo trajeto dele. Por isso, nós criamos 50 novas linhas na cidade, em vários locais. O objetivo da nova reestruturação é diminuir o tempo de espera no ponto de ônibus, pois a população reclamava que demorava muito e que no horário de pico, o ônibus era muito cheio”, disse ele ao Aratu Online.
Segundo Mota, não houve denúncias sobre a reestruturação partindo de cadeirantes. “Nós tivemos apenas uma queixa de Cosme de Farias, e nós corrigimos, usando um micro-ônibus com acessibilidade melhor”, pontua.
O órgão defende que a possibilidade de saltar em um terminal para ir a outro destino flexibiliza o trajeto. “Nós estamos aumentando a oferta de viagens nos bairros, e dando a opção de escolher entre pegar o metrô ou pegar outro ônibus, flexionando as linhas”, detalha, ressaltando ainda que a integração foi uma medida adotada pela Prefeitura e pelo Governo do Estado. Embora seja motivo de críticas para alguns cadeirantes, a alteração é defendida por Mota. “Mais rápido, mais seguro e mais confortável”, conclui.
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