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Por que o país que mais consome pornografia trans é também o que mais mata travestis?

Por que o país que mais consome pornografia trans é também o que mais mata travestis?

Por Heloísa Gomes

Por que o país que mais consome pornografia trans é também o que mais mata travestis?Reprodução

O país que mais consome vídeos de sexo entre pessoas trans e travestis é o mesmo que mais mata a população transexual em todo o mundo. Esse paradoxo é vivido pelo Brasil. Pesquisas feitas em 2016 revelam que os homens brasileiros são os maiores espectadores de pornografia trans. Assim como dados divulgados pela ONG Transgender Europe apontam o país como responsável por 42% dos 295 casos de assassinatos de pessoas trans em 2015 ao redor do mundo.


Não é novidade dizer que o Brasil figura como um dos maiores consumidores de pornografia, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Mas uma pesquisa divulgada pelo blog do RedTube ? uma das maiores plataformas de pornografia mundial, os homens brasileiros se diferenciam dos demais em relação às suas preferências de busca.


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Os dados apontam que o aumento de mulheres consumindo pornografia também aumentou 33%, representando 8% a mais em relação a mulheres de outros países. Absolutos neste quesito os homens brasileiros buscam 455% mais pornografia trans em comparação com as mulheres.


Na ordem, as categorias que mais interessam aos brasileiros do sexo masculino são: sexo entre lésbicas, sexo anal, teen, maduras e transexuais. Ainda conforme pesquisa feita pelo RedTube, o interesse em pornografia trans é o quarto mais popular no Brasil ? 89% maior que a média de consumo mundial.


DOIS MUNDOS:


O MUNDO QUE DESEJA



O fetiche pode explicar o motivo que leva homens heterossexuais a buscar filmes em que os personagens sejam pessoas trans e/ou travestis. A fantasia que envolve e todo o estigma de hipersexualização que cerca a população LGBTI, principalmente trans e travestis. Sites como XVídeos, RedTube, PornHub, Evil Angel, que começou na produção de conteúdos com transexuais no final dos anos 1990, tendem a reservar mais espaço para estes tipos de vídeos. Antes separados em seções gays, agora os filmes não se isolam mais nesta categoria e o aumento da busca só cresce a cada ano.



?A população trans sofre muito estigma por conta dessa pecha que colocaram sobre nós, especialmente atrelando a prostituição e o sexo. É complicado quando ser associado somente ao sexo?, aponta Keila Simpson, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).



Para explicar a motivação do interesse de homens heterossexuais por pornografia trans, Keila Simpson faz um paralelo: ?há uma ideia de desejo e abjeção. As pessoas têm muitos desejos e realizam por meio dessas experiências, mas há também a repulsa por esses seres abjetos que ?não deveriam existir?. É como se houvesse a possibilidade de ter a pessoa trans em uma caixinha ou uma sala e só tirá-la de lá quando precisar dela para realizar seus desejos?, explica.


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Os Estados Unidos ainda lidera o ranking de consumo de conteúdos pornográficos, seguido pelo Brasil. Mas fica longe na lista de países que mais buscam filmes com pessoas trans ou travestis.


VEJA RANKING:


Ranking de países que mais consomem pornografia trans no site RedTube.


O MUNDO QUE MATA:


Grupo de ativistas com cartazes pedindo o respeito aos direitos das pessoas LGBTI. Foto: Iranti-org/ Gugu Mandla (via ACNUDH)


Enquanto os brasileiros se fascinam com os vídeos de sexo envolvendo LGBTI, destilam o ódio contra a mesma população na qual busca prazer. ?A população trans só serve para sexo, para outra coisa não serve?, analisa Keila Simpson. No Brasil, entre janeiro de 2008 e março de 2012, foram registradas 604 mortes, números assustadores não só no país. De acordo com Organização das Nações Unidas (ONU), as Américas são extremamente violentas.


Só no Disque 100, em 2012, de 4.851 denúncias de violação registradas, 3.084 envolviam a população LGBTI. Estes números foram divulgados em relatório pela Secretaria de Direitos Humanos, número maior 166% em relação a 2011.



?Nossa população não é morta naturalmente. Mata-se porque é travesti, pela certeza da impunidade, é um crime de gênero! Mata-se porque é uma representação do feminino que os homens, na leitura deles, ousaram a construir?, acredita a presidenta da ANTRA.



Outro fator apontado pela representante da entidade que defende os direitos de travestis e transexuais está diretamente ligado a todos os facilitadores que tornam o crime impune. ?Tem a conivência do estado porque quase nunca são punidas ou processadas pelos crimes que cometem. Vivemos em dois mundos: um que deseja sexualmente, quase nunca afetivamente e outro que mata porque está impregnada pela falta de legislação?, finaliza.


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“Não existe uma vivência trans sem violência?, denuncia Simpson. O que impossibilita dados reais sobre o número de violência está diretamente ligado a binaridade na classificação dos gêneros pelas secretarias. ?Quando uma pessoa é assassinada ela é registrada pelo nome que está no registro. É identificada pelo gênero binário masculino ou feminino?, diz Keila. Deste modo fica difícil contabilizar sem uma pesquisa aprofundada os dados de violência.



Aproveitando o dia da visibilidade trans, comemorado no domingo 29 de janeiro, os movimentos ligados a luta pelos direitos de trans e travestis buscam sair da invisibilidade e do submundo, sempre ligado ao sexo e a prostituição. Querem não apenas ter um nome social, mas uma vida socialmente possível. Querem registros de boletins das secretarias de segurança não binários para que os casos de violência sejam contabilizados de forma mais eficaz para que políticas públicas possam ser desenvolvidas.


Sair das trevas para a luz, deixar de ser a preferência de busca em sites pornôs para alcançar a dignidade, o RESPEITO e a possibilidade de viver sem medo de virar uma estatística na próxima esquina e principalmente que sua única certeza não seja a violência e a discriminação que precisarão vencer durante toda a vida.


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