‘MANÍACO DA SERINGA’: Quarenta dias após ataques, polícia não descarta ‘lenda urbana’
‘MANÍACO DA SERINGA’: Quarenta dias após ataques, polícia não descarta ‘lenda urbana’
As notícias sobre crise financeira e crescimento do desemprego perderam força e foram deixadas de lado, nos últimos três meses, ao ganhar novos concorrentes. Depois da onda dos palhaços assustadores que tomou conta de algumas cidades brasileiras, Salvador viveu momentos de pânico com o surto dos ataques com seringa.
O temor foi agravado pela imprensa, que abordou o caso de forma massiva, amplificado pelos relatos nas redes sociais. Apesar de recente, parece que a população tem “memória de éter”, já que não se ouve mais falar no assunto.
O psicólogo Ailton Araújo diz que os relatos de ataques do ‘maníaco da sering’a sempre existiram, assim como as lendas urbanas. “Dessa vez, a história do maníaco da seringa ganhou mais força devido a internet e a mídia. Antigamente se ouvia falar, mas em menor proporção do que hoje. Por isso, essa moda do maníaco tende a chegar em ondas e desaparecer de forma cíclica”, afirma.
Segundo a especialista em mídia digital, a paulista Liliane Ferrari, o público tende a falar de forma exagerada sobre um assunto até esgotá-lo. “As mídias digitais têm o poder de pulverizar as informações. Então, de repente, uma pessoa ouve falar do maníaco da seringa em São Paulo, por exemplo, e resolve então replicar a situação em Salvador. Só que chega um momento que a gente acaba enjoando de ouvir falar sobre um determinando assunto, até que ele caia no esquecimento”, diz.
“A todo momento somos bombardeados por muitas informações de todas as partes do mundo. E isso nos impede de considerar as informações que são importantes. Eu considero que o esquecimento se deva também com a forma como consumimos notícia atualmente. Eu brinco que vivemos a era do consumo da notícia como fast food. É tudo muito rápido e descartável. É como se a nossa atenção tivesse um prazo de validade para aquilo”, explica.
INVESTIGAÇÃO
Diante da dificuldade na identificação do ?maníaco da seringa?, o Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) da Polícia Civil criou uma equipe para ir até as unidades de saúde para entrevistar pessoas que procuram atendimento médico após terem sido feridas em ataques com seringa. Os dados coletados servirão para a confecção de um retrato falado do suspeito – ou suspeitos.
Segundo a Polícia Civil, apenas uma das 16 vítimas se dispôs a fazer uma descrição detalhada do homem que a atacou, mas ela ainda não compareceu ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Salvador. De acordo com a polícia, as câmeras de monitoramento também serão avaliadas para uma possível identificação das imagens.
Ao Aratu Online, a assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que as supostas vítimas chegaram a falar com a imprensa, mas evitaram dar detalhes para fazer o retrato falado do suspeito. Muitas também se negaram a fazer o registro na delegacia e até “desconversavam” dizendo que não sabiam se era isso mesmo que tinha acontecido.
Por isso, a polícia não descarta a hipótese de isso ser uma lenda urbana.
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MODO DE ATAQUE
Maníaco da seringa ? aquele que te espeta com a agulha de uma seringa contendo um líquido (que não se sabe qual) enquanto você anda na rua.
Os relatos das vítimas costumam ser parecidos: elas são atacados em pontos de ônibus, ou enquanto andam. Muitas vezes elas nem notam a presença de alguém, quando, do nada, sentem uma picada forte na região do braço ?região onde normalmente são atingidas. Depois, avistam o ?maníaco? dando uma gargalhada e andando tranquilamente. Atônitas, as vítimas não têm reação de imediato porque levam um tempo para acreditar e entender o que aconteceu.
No entanto, a polícia acredita que mais de uma pessoa seja responsável pelos ataques, já que as características físicas descritas pelas vítimas são diferentes. Também já houve registro de um suposto ataque feito por uma mulher. E isso tem dificultado o trabalho de identificação dos órgãos de inteligência.
REGISTROS
Até o dia 26 de outubro, a Polícia Civil registrou 16 ocorrências dessa natureza na Bahia, sendo uma delas em Feira de Santana, outra na Região Metropolitana e as demais na capital baiana.
Em Salvador, onde ocorreu o maior número de ataques, a quantidade de queixas foi maior na 3ª delegacia, localizada na Cidade Baixa. Mas a polícia destaca que isso está mais atrelado ao fato de essa delegacia estar localizada na mesma área do Hospital Geral Couto Maia, especializado em doenças infecciosas.
Quando atacadas, as vítimas eram orientadas a dar entrada no Hospital Couto Maia para receber as vacinas contra tétano e hepatite e para iniciar a terapia antirretroviral.
PENALIDADES
A diretora do Depom, delegada Fernanda Porfírio de Souza, diz que o autor ou autores das ocorrências envolvendo seringas poderão cumprir até quatro anos de prisão pelo crime.
Segundo a delegada, quem for flagrado agredindo outra pessoa com seringa poderá ser indiciado por até três crimes, sendo eles: lesão corporal, com base no artigo 129 do Código Penal Brasileiro (CPB), com pena de três meses a um ano de detenção; por disseminar doença ou praga, pelo artigo 61 da Lei de Crimes Ambientais, cuja pena de reclusão pode chegar a quatro anos; e por causar perigo de contágio de moléstia grave, com base no artigo 131 do CPB, com pena de um a quatro anos.
A polícia também pede o apoio da população para que entre em contato e forneça informações que possam auxiliar na busca pelos suspeitos dos ataques com seringa. Basta ligar para 190 ou (71) 3235-0000.