Sem ‘calado’, travessia de Mar Grande é diariamente interrompida; Sem se calar, usuário reclama
Sem ‘calado’, travessia de Mar Grande é diariamente interrompida; Sem se calar, usuário reclama
Por falta de calado, os serviços prestados pelas lanchas que realizam transportes de passageiros entre Salvador e Mar Grande, no município de Vera Cruz, costumam ser interrompidos, em média, de duas a três horas, quase que diariamente, causando transtornos a um grande número de pessoas que precisa fazer a travessia.
Na terminologia náutica, o calado representa a medida da profundidade a que se encontra a quilha de uma embarcação com relação à superfície externa, neste caso, o fundo do mar. Devido aos constantes, e naturais, períodos de maré baixa, o Terminal de Vera Cruz, com calado insuficiente, fica sem condições de operação e, dessa forma, com atividades suspensas.
Insatisfeito com a situação e sem ficar calado ? utilizando, agora, o vocábulo em sua conotação mais conhecida ? o usuário do transporte ?solta o verbo? e pede por providências. Na manhã da última sexta-feira (5/8), a reportagem do Aratu Online conferiu de perto as inquietações de quem estava no Terminal Náutico, no bairro do Comércio em Salvador, tentando embarcar para Mar Grande.
Naquele dia, o serviço foi interrompido, por volta das 9h, e só retornaria ao meio dia. Chovia bastante e um grande número de pessoas de diferentes faixas etárias, inclusive crianças de colo, se concentrava no pequeno saguão destinado à venda de passagens, à espera do momento de poderem comprar os cartões de embarque.
PASSAGEIROS RECLAMAM
Ainda que descontentes, os passageiros ficam ressabiados para falar com a imprensa sobre a situação. Normalmente, são usuários que utilizam o serviço com grande frequência e, segundo alguns deles, evitam criar um ambiente, ainda mais, desfavorável nessa rotina.
Quem concordou em ceder entrevista preferiu não se identificar. Um artista gráfico, que mora em Mar Grande, por exemplo, necessita atravessar para Salvador, de três a quatro vezes por semana, para comprar material de trabalho. ?Já tive alguns problemas de entrega de serviços com atraso e, às vezes, perco até o cliente?, relatou.
Existe a opção da travessia pelo sistema ferry boat, mas para os moradores de Mar Grande, a utilização das lanchas proporciona, além de uma viagem mais rápida, a economia no pagamento de um transporte rodoviário pra fazer o deslocamento até o Terminal de Bom Despacho.
A reclamação de uma dona de casa apontou para essa despesa. ?Minha filha faz faculdade em Salvador e pega, muitas vezes o ferry, principalmente, quando tem prova?, comentou. Já a observação de um servidor público sugeriu, às autoridades competentes, uma alternativa provisória para os períodos de maré baixa: ?porque eles não deslocam o atracamento para Bom Despacho e colocam, também, um ônibus para conduzir os passageiros??, questionou.
ASTRAMAB
As embarcações ? catorze ao todo ? que fazem a travessia Salvador/Mar Grande são de propriedades de duas empresas: Vera Cruz e CL Empreendimentos, que exploram o serviço sob a coordenação da Associação dos Transportadores Marítimos da Bahia (Astramab), cuja operação é regulada pelo governo do estado, através da Agerba .
Segundo o presidente da Astramab, Jacinto Chagas, desde 2012, quando a travessia saiu da clandestinidade e foi oficializada, os usuários do sistema começaram a exigir providências para as situações de paradas em momentos de maré baixa.
?Quando assumimos, após a licitação que foi feita, as reclamações começaram a acontecer?, disse Jacinto, lembrando que a insuficiência do calado sempre existiu, mas ?nos primórdios? as demandas e embarcações eram bem menores e, consequentemente, o reflexo da situação não era como hoje.
?Já solicitamos ao governo do estado a realização de obras de dragagem e derrocagem do canal de Vera Cruz para resolver essa situação, mas o projeto é complexo e está em fase de estudo?, disse Jacinto, considerando as análises que precisam ser feitas, visando a proteção do meio ambiente e, até mesmo, para remover pessoas que têm atividade comercial no entorno do terminal.
?Numa operação dessa, o custo não compensa fazer, apenas, o aprofundamento do canal, que precisa ser, também alargado para permitir que uma embarcação possa ancorar enquanto outra esteja saindo?, completou.
SUSTO NA TRAVESSIA
Há uma semana, no domingo (31/7), passageiros da lancha ?Maria Quitéria? passaram por um grande susto, durante a travessia para Mar Grande. A embarcação colidiu com pedras no canal, houve prejuízos ao casco e uma situação de pânico foi instalada entre os usuários. A ocorrência, apesar dos transtornos causados não registrou feridos com gravidade.
De acordo com o presidente da Astramab, mesmo sendo conhecidos os riscos de navegação naquele local, não houve imprudência do comandante da lancha, na ocasião. ?Naquele momento, a travessia tinha condições favoráveis para ser feita, mas uma rajada de vento inesperada fez com que a embarcação fosse arremessada para fora da rota e acabou se chocando com as pedras?, explicou.
Veja vídeos com momentos do acidente:
GOVERNO DO ESTADO
Procurado pela nossa reportagem, o governo do estado informou, através da assessoria de comunicação da Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), que já estão em andamento, estudos para a realização da dragagem em Mar Grande e a previsão é que em um período de três meses, a licitação seja concluída e o projeto executivo seja iniciado. Após as obras, o novo canal vai passar a ter profundidade média de 10 metros e as embarcações poderão navegar sem períodos de interrupção.
Segundo a Seinfra, o primeiro passo para o alargamento e dragagem do canal de acesso a Mar Grande já foi dado. Após um estudo de sondagem, foi aberto processo licitatório para contratar a empresa que vai dar início ao projeto executivo da obra. O documento norteia as definições técnicas e a melhor forma de realizar os serviços.
Ainda de acordo com o governo do estado, a expectativa é que até novembro, a empresa, já definida e contratada, dê início às análises. A Seinfra afirma que para dar celeridade à obra, abriu um processo de solicitação de licença ambiental, no Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). Após sua finalização, o projeto executivo feito através de um convênio com a Secretaria de Turismo (Setur), será enviado ao Inema e dependerá das licenças necessárias para que o serviço seja executado.