À ESPERA DO DIÁRIO OFICIAL: Por vaga em serviço público, concursados de 2014 ocupam CAB há 86 dias
À ESPERA DO DIÁRIO OFICIAL: Por vaga em serviço público, concursados de 2014 ocupam CAB há 86 dias
Cerca de 30 barracas de camping estão armadas e distribuídas em uma extensa área de terreno gramado. A região é bucólica, tranquila e possui cozinha comunitária com fogão, geladeira e utensílios domésticos, como: pratos, copos e talheres.
A estrutura comporta, ainda, uma dispensa e um espaço de convivência, onde é possível assistir televisão, passar o tempo ?proseando? ou, quem sabe, se divertir em um jogo de cartas ou dominó.
A narrativa dá a ideia entusiástica das propagandas de áreas de lazer e acampamentos de férias, mas a semelhança é mera coincidência. O local descrito está no Centro Administrativo da Bahia (CAB), exatamente, no complexo público que concentra, na capital baiana, todas as secretarias e órgãos ligados ao executivo do governo estadual.
O cenário dos campings foi construído há exatos 86 dias e a intenção do empreendimento não tem qualquer motivação recreativa. O espaço está sendo utilizado por, aproximadamente, oitenta pessoas que escolheram a localização para fazer um protesto.
São homens e mulheres que afirmam terem sido aprovados em um concurso público, no ano de 2014, para agentes penitenciários do estado e até hoje esperam por suas convocações para atuarem como servidores do sistema prisional baiano. Segundo eles, dos 490 candidatos que conseguiram aprovações, somente 86 foram nomeados.
Acampados em frente à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), eles tentam chamar a atenção das autoridades para o problema. Porém, apesar da estrutura montada, a vida nesses, praticamente, três meses não está sendo fácil pra ninguém por lá.
As acomodações e serviços disponíveis são precários para atender a demanda do dia a dia de uma coletividade, mas o grupo se mantém firme no propósito e enfrenta as adversidades que não são poucas.
As instalações sanitárias estão entre as principais dificuldades. ?A gente fez esse pequeno reservado que é utilizado pelos homens, apenas, para ?fazer xixi??, disse o acampado Alexandre Cunha, mostrando para o repórter um tosco cercado de madeira, envolto por uma lona preta.
?As mulheres estão usando um banheiro do próprio CAB que nos foi cedido com o apoio de alguns deputados?, completou.
Também de forma improvisada, as peças de roupas são lavadas e colocadas para secar, mantendo, assim, o mínimo de higiene necessário ao vestuário dos manifestantes para encarar decentemente a dura labuta.
?Pra lavar nossa roupa, a gente capta a água da torneira de irrigação noturna do gramado, mas fazemos isso só para as peças leves. Lençóis, colchas e edredons levamos para lavar em casa?, explicou Larissa Barbosa da Cruz, ao lado de um varal feito com fios e madeiras.
Os integrantes do grupo se revezam no acampamento em uma escala que permite deixar o local sempre habitado. Quem frequenta o ?camping? reconhece a insegurança do ambiente, a dificuldade de conviver com o incômodo dos insetos, a falta de uma boa cama para relaxar, mas promete não arredar pé, enquanto o governador Rui Costa não recebê-los e solucionar o problema.
Porém, apesar de tantas adversidades, há quem consiga tirar, dessa experiência, aprendizados importantes. ?Tudo na vida tem seu lado bom e ruim. Existem pessoas aqui que eram extremamente sedentárias e hoje estão realizando exercícios físicos em atividades laborais que fazemos. Além disso, está sendo útil, também, para a nossa educação de casa: eu, por exemplo, aprendi aqui a cozinhar, lavar roupa e arrumar minha própria cama?, ressaltou Matheus Casaes.
Entre os manifestantes uma dúvida é intrigante. Segundo eles, existem vagas para serem preenchidas e a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) está utilizando serviços terceirizados com um custo bem maior que o necessário para convocá-los. “A quem interessa essa despesa?”, questionou Ubiratan Marques.
Na semana passada, representantes dos agentes penitenciários foram recebidos pelo presidente da Alba, deputado estadual Marcelo Nilo. Esta foi a segunda vez que o grupo solicitou a intervenção do parlamentar para buscar uma solução junto à Rui Costa.
Na oportunidade, tomaram conhecimento de que o governador está ciente da situação e vai adotar providências para acabar o entrave. Porém, sem um posicionamento oficial, até então, o acampamento segue instalado no coração do Centro Administrativo da Bahia.
CONTRAPONTO
Em nota, a assessoria de comunicação da Seap informou que o Governo do Estado já preencheu as 415 vagas disponíveis, através de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC). Ainda segundo o comunicado, a ação movida pelo Ministério Publico junto à justiça, na 5°Vara do TRT, de onde foi concedida liminar proibindo a contratação de agentes penitenciários terceirizados foi suspensa por ato da Exma. Presidente da 5° Região.
Na última terça-feira (19/7) havia sido previsto a realização de uma audiência de conciliação no Tribunal do Trabalho, mas acabou sendo adiada para o próximo mês de outubro.
Acompanhe, abaixo, vídeo que mostra detalhes do dia a dia no acampamento: