Blogueiro narra bastidores do Senado em dia de votação histórica que pode afastar Dilma
Blogueiro narra bastidores do Senado em dia de votação histórica que pode afastar Dilma
O blogueiro e estudante de jornalismo Matheus Pastori viajou até Brasília para acompanhar de perto os bastidores do Senado Federal, no dia da votação histórica que pode afastar Dilma Rousseff (PT) do poder.
Pastori comanda o blog Fora da Curva, parceiro do Aratu Online.
Nesta terça-feira (10/3), enquanto o muro que corta ao meio a Esplanada dos Ministérios recebia seus últimos reforços, o palácio que une a Câmara e o Senado da República me recebeu entre seus poucos visitantes já sob um forte esquema de segurança, preparado para a votação do impeachment contra Dilma Rousseff.
Ainda que como convidado, não foi fácil chegar até os salões do Congresso. Passei por nada menos que sete detectdores de metais, sob os olhos constantes de agentes da Polícia Federal.
Lá dentro, no entanto, nem tudo está seguro. Ou melhor, quase nada. Os próprios servidores das duas casas legislativas já dão as favas como contadas, e não fizeram muita questão em resistir às perguntas sobre o cada vez mais convulsivo cenário político.
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PEGOU MAL
Três assessores parlamentares, tanto da remanescente base do governo, quanto da oposição, me disseram que os corredores dos subsolos da Câmara são unânimes quando o assunto é Waldir Maranhão (PP/MA), atual presidente em exercício da Casa, que enfureceu os técnicos regimentais ao, ?na surdina?, tentar anular a sessão plenária de 17 de abril. Ridicularizado, e sem o apoio do próprio partido, Maranhão deve renunciar e, ainda assim, ser processado na comissão do Conselho de Ética. Diz-se que o desejo da maioria dos parlamentares é que a Presidência seja declarada vaga; o que ?deve acontecer em breve, porque eles [os deputados] já estão à procura de um nome mais plausível?.
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FARINHA POUCA
Sobre a troca de vizinhança no Planalto, os servidores brasilienses parecem estar um capítulo à frente. O assunto já não é mais o nome, e sim o que virá com ele. A pública intenção de Michel Temer de tonar a máquina governamental mais enxuta, reduzindo números de ministérios e cargos comissionados, ?gera um efeito tsunami? ao longo de todo o Eixo Monumental, casa das principais ? e mais caras ? pastas da nação.
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LAUGHING LOUDLY
A jornalista Anne McHarry, parte da equipe enviada pelo jornal britânico The Guardian para acompanhar o processo, me disse estar cada vez mais complicado entender e traduzir a sucessão de reviravoltas. ?O principal entrave é a dificuldade que os leitores têm em compreender o por quê é tão difícil afastar a presidente? ? a maioria dos países europeus são adeptos do parlamentarismo. Ainda de acordo com ela, o Brasil ?deveria se preocupar? com a imagem que está passando ao mundo, quando muitos fazem piada da situação; fala parecida com a de Joaquim Barbosa, que disse sermos motivo de altas gargalhadas pelo mundo inteiro.
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PRA NÃO CHORAR
Falando em humor, já no fim da tarde os senadores Gleise Houfmann e Lindiberg Farias, ambos do PT, foram vistos juntos, e às gargalhadas, diante de um monitor que transmitia ao vivo a sessão plenária da qual eles participavam minutos antes, a poucos passos do local. No momento, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, dava início à votação que acabaria cassando o mandato do agora ex-senador Delcidio do Amaral, líder do governo em boa parte do primeiro mandato de Rousseff. Expulso do PT pouco depois de ser preso por obstrução da Justiça, Amaral não teve sequer um voto a seu favor.
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HORA-EXTRA
A dita cultura de judicialização da política está pesando na balança do Supremo Tribunal Federal. O expediente da corte, acostumada a atuar em seu próprio tempo, tem mudado desde que se tornaram diários os pedidos de intervenções em caráter de urgência. Sem condições de adequar o orçamento, que vem ameaçando até mesmo as eleições municipais de outubro, os funcionários do STF estão trabalhando mais, recebendo o mesmo e não muito satisfeitos com isto.
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MEU PALÁCIO, MINHA VIDA
Ainda não está decidida qual será a dinâmica adotada no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, caso Dilma Rousseff seja afastada temporariamente do cargo. É que uma das exigências do vice, Michel Temer, no caso de ter de assumir como presidente em exercício, é ocupar o espaço durante este período; o que considera uma maneira de fortalecer sua figura diante o país. Não há precedentes desta situação na história da República, já que Fernando Collor abdicou do Palácio e fez da famigerada ?Casa da Dinda? residência do poder Executivo durante seu governo.
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AFASTADOS UNIDOS. NÃO SE SABE SE VENCIDOS.
Também na possibilidade de que o Senado decida pelo afastamento temporário de Dilma, Brasília passará a abrigar mais um capítulo sem precedentes nos livros de história do país. Com Eduardo Cunha suspenso do comando da Câmara dos Deputados, os presidentes de dois dos três poderes republicanos, Executivo e Legislativo, passariam a deixar o protagonismo dos cargos, mas não de exercer suas respectivas ? e potentes ? influências. O cenário de ter de lidar com essas figuras antagônicas agindo anonimamente é desconfortável tanto para quem venha a ser governo, como para quem venha a se tornar oposição.
PLACAR
A Folha de São Paulo levanta que cerca de 50 dos 82 senadores devem votar a favor do impeachment da presidente Dilma, na sessão que marcada para hoje (11), às 9h. O número é mais que suficiente para o afastamento temporário da presidente.
Veja mais fotos da véspera da votação no Senado: