CBF contratou prostitutas para 'atender convidados', diz ex-diretora

Testemunho de que CBF contratou prostitutas é de ex-diretora, única mulher a ocupar um cargo de direção na entidade

Por Juana Castro.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria contratado prostitutas para participar de eventos oficiais da entidade para "atender convidados". O testemunho foi dado à Revista Piauí por Luísa Xavier da Silveira Rosa, única mulher a ocupar um cargo de direção na confederação até meados de 2023.

“Da porta para dentro, a CBF mostrou-se um ambiente hostil às mulheres”, diz a publicação, citando ainda que Rosa era alvo de comentários misóginos, convites indesejados e mensagens com teor insinuante enviadas por dirigentes ligados à entidade. Entre os nomes citados estão Arnoldo de Oliveira Nazareth Filho, da Federação Amazonense de Futebol, e Rodrigo Paiva, então diretor de comunicação da CBF.

Luísa Xavier da Silveira Rosa, ex-diretora da CBF, e Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF

Essas declarações constam em uma ação trabalhista movida por Luísa Rosa após saída da confederação, em junho de 2023. Em nota enviada à imprensa no fim do ano passado, Paiva negou as acusações: “Minha trajetória profissional sempre foi marcada por incentivos à desconstrução da cultura do assédio presente no país, a fim de que as mulheres possam desfrutar de um ambiente de trabalho digno, igualitário e livre de discriminações”. Nazareth Filho ainda não se pronunciou sobre o caso. 

Além das denúncias de conduta inadequada e ambiente hostil às mulheres, a reportagem - divulgada na última sexta-feira (4) - detalha outras irregularidades envolvendo a alta cúpula da CBF. Entre elas está o reajuste de 330% nos salários dos presidentes das federações estaduais, que passaram de R$ 50 mil para R$ 215 mil, por decisão do atual presidente da entidade, o baiano Ednaldo Rodrigues.

A publicação também aponta gastos considerados excessivos durante a Copa do Mundo do Catar. Segundo a Piauí, as despesas extras com a esposa de Ednaldo Rodrigues em hospedagem chegaram a R$ 37 mil. Um grupo de 49 brasileiros também teria usufruído de benefícios custeados pela CBF, incluindo voos em primeira classe, atendimento VIP no aeroporto de Doha e cartões corporativos com limite de até US$ 500 por dia, mesmo sem vínculo formal com a confederação ou com federações estaduais.

Além disso, o presidente da CBF também teria autorizado pagamentos milionários a escritórios de advocacia e despesas com parlamentares, ampliando a lista de questionamentos sobre a gestão da entidade.

Reeleição de Ednaldo na CBF estaria ligada a super-salários de federações

A reeleição do baiano Ednaldo Rodrigues na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ganhou destaque nos noticiários por duas razões: a tentativa do ex-jogador Ronaldo Fenômeno em concorrer ao cargo (que fracassou pela falta de apoio), e a reeleição por unanimidade, onde todas 27 federações estaduais, mais os 40 times das séries A e B, depositaram seu voto em Ednaldo Rodrigues. Entretanto, uma reportagem da Revista Piauí mostrou alguns motivos que podem ter impactado as eleições.

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF | Foto: Rodrigo Ferreira/CBF

As principais críticas à gestão Ednaldo Rodrigues são feitas em relação ao futebol brasileiro como um todo: desde o calendário caótico de competições, cada vez mais apertado, até a decadência no futebol da Seleção Brasileira desde a Copa de 2022, quando Tite encerrou seu ciclo e três outros treinadores já passaram pelo cargo de treinador até então; cargo este que está vago desde o dia 28 de março, quando Dorival Júnior foi demitido das funções.

Se a coisa não anda boa no futebol brasileiro, como é que todas as federações podem ter apoiado incondicionalmente o mandatário baiano, que está na CBF desde 2021, quando assumiu a presidência interinamente, sendo efetivado no ano seguinte?

Favores e relações com as federações

Ex-presidente da Federação Bahiana de Futebol (FBF), Ednaldo têm pessoas de confiança em cargos de gestão da entidade, a exemplo do atual presidente Ricardo de Lima, marido da cunhada de Ednaldo, Taíse Galvão, que foi nomeada como diretora técnica da FBF durante a gestão final de Rodrigues.

Para além dessa relação familiar, o apoio das federações a Ednaldo Rodrigues se baseia em uma rede de favores e afagos, financiados pela entidade maior do futebol brasileiro. Em um dos trechos, a reportagem fala sobre um episódio envolvendo o presidente da Federação Amapaense de Futebol, Roberto Góes.

“A CBF pagou 23,3 mil reais pela hospedagem de Roberto Góes, presidente da Federação Amapaense de Futebol e também vice-presidente da CBF, e de sua mulher, a advogada Gláucia Costa Oliveira. [...] Em março do ano passado, a Federação Amapaense de Futebol pediu que a CBF pagasse passagens aéreas para Góes, a mulher, a irmã, a filha de 4 anos e a babá, no trecho Macapá-São Paulo, bem como dois quartos duplos no [Hotel] InterContinental [...]. [...] Rodrigues autorizou o gasto extra. A CBF arcou com, no mínimo, 114 mil reais.”​

Em outro trecho, é citado que a CBF custou passagens e hospedagens do presidente da federação espirito-santense, de sua esposa e filho, em abril do ano passado: “Em abril do ano passado, a VBF realizou uma assembleia-geral no Rio de Janeiro, e o presidente da Federação de Futebol do Espírito Santo, Gustavo Vieira, aproveitou para levar a família para um passeio. A CBF bancou os bilhetes aéreos e hospedagem para sua mulher Priscila e seu filho de 10 anos”.

Tanto o presidente da Federação Amapaense, quanto da Federação do Espírito Santo, somados às 24 federações e ao Distrito Federal, votaram em Ednaldo nas últimas eleições.

Segundo a publicação da Piauí, desde sua chegada à sede da Confederação, Ednaldo tratou de agradar os cartolas estaduais, a começar por um reajuste salarial simbólico. Em 2021, um presidente de federação recebia R$ 50 mil em salários, remuneração esta que atualmente é de R$ 215 mil mensais, com direito até a 16º salário.

Fachada da CBF | Arquivo/divulgação/CBF

 

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