Anomalia congênita: quem é e como vive a jovem brasileira que tem duas vaginas? "Processo de adaptação"
A condição é chamada de útero didelfo, e se caracteriza exatamente pela existência de dois úteros, podendo cada um ter sua abertura, ou ambos terem o mesmo colo uterino.
Uma mulher que nasceu com duas vaginas. Você já ouviu falar sobre essa história por aí? Na internet, há vários relatos sobre isso e a condição, de fato, é possível ocorrer. É o caso da cuiabana Maysa Rodrigues, de 27 anos. Aos 17, ela descobriu sobre a anomalia congênita rara, durante a lua de mel.
"Tinha recentemente casado e, durante o sexo, eu descobri o incômodo e decidi procurar o ginecologista [...] Só aos 17 anos eu fui entender que era portadora de dois úteros, dois colos uterinos e dois canais vaginais", explicou a jovem, em entrevista ao Aratu On.
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A condição é chamada de útero didelfo, e se caracteriza exatamente pela existência de dois úteros, podendo cada um ter sua abertura, ou ambos terem o mesmo colo uterino. Cada útero também é ligado a um ovário. As mulheres que são portadores dessa anomalia podem apresentar duas aberturas vaginais, além dos dois úteros.
"Foi completamente assustador, devastador, por não entender muito. Por não ter esse conhecimento, não ter acesso a toda essa informação. Descobri recentemente, há dois anos, que eu nasci assim por conta de uma falha lateral dos canais mullerianos", complementou Maysa.
Geralmente, mulheres com o útero didelfo não manifestam qualquer tipo de sintoma. Por isso, apenas exames realizados pelo ginecologista podem detectar a condição. “Foi um processo longo de adaptação, de conhecimento, aceitação. Logo no início, me senti muito mal por ser uma mulher diferente, e não ouvir falar muito sobre esse assunto. Não entendia muito bem porquê tinha nascido assim", detalhou.
A medicina ainda não sabe ao certo o que causa o útero didelfo, mas a principal linha de pensamento é de que seja um problema genético, e habitual a acontecer em vários membros da mesma família. A anomalia se forma durante o desenvolvimento do bebê, quando ele ainda está na barriga da mãe.
A maior parte dessas mulheres também pode levar uma vida normal, porém, o risco de infertilidade, aborto e parto prematuro é maior, se comparado às mulheres com útero normal. Em casos onde a portadora não apresente sintomas, não é necessário fazer tratamento. Em outras situações, é possível fazer uma cirurgia para unir os dois úteros.
QUEBRANDO TABUS
Desde que descobriu que possuía duas vaginas, Maysa percebeu que pouco se falava sobre isso na internet. Assim, ela decidiu usar as redes sociais, para compartilhar sua história.
“Não era um assunto tratado muito na íntegra, abertamente. Então, eu decidi falar sobre esse assunto, sobre como é ter dois úteros, dois colos uterinos, dois canais vaginais. Ser portador do didelfo. Sofrer com a menstruação em dois úteros, falar sobre a gestação, sobre a maternidade, sobre o parto. Então, meus vídeos começaram a viralizar no Tik Tok e no Instagram”, comentou a jovem, que, atualmente, têm mais de 10 mil seguidores no Instagram.
Apesar de ser um assunto sério, a influencer é alvo de assédio e piadas, por conta da condição genética. "Infelizmente, tem muitas pessoas, homens e mulheres, que acham que a internet é uma terra sem lei, que podem tentar diminuir a pessoa, por ela ser uma pessoa diferente, ou ser portadora de uma anomalia, que é o meu caso", desabafa a jovem. Ela ainda conta que, às vezes, precisa desativar ou apagar comentários em suas redes sociais.
Para Maysa, é fundamental que os internautas tenham respeito por todos as mulheres, independente se elas tenham alguma anomalia. "Eu sou diferente, sou única, assim como todas as mulheres que tem alguma condição rara. Precisa de respeito. Respeito é uma coisa maravilhosa que cabe em qualquer lugar, pra qualquer pessoa".
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