Dia da Mulher Negra: 'Precisamos pensar na educação antirracista de meninas negras", diz educadora Bárbara Carine
Escritora também refletiu sobre os 20 anos da lei que instituiu o ensino da História afro-brasileira em escolas: "houve um avanço, mas muito pequeno"
Educadora, escritora finalista do Prêmio Jabuti 2021/2022, palestrante e idealizadora da primeira escola afro-brasileira do Brasil, a Maria Felipa, no bairro do Garcia, em Salvador. Essa é Bárbara Carine, também conhecida nas redes sociais como "uma intelectual diferentona".
Neste dia 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Aratu On traz uma entrevista com Bárbara, que falou não só sobre a data - a qual chamou de "marco" -, mas também de letramento racial e do seu livro mais recente, lançado em abril: "Como Ser Um Educador Antirracista", um dos mais vendidos na Amazon Brasil nas áreas de política e educação.
No próximo sábado (29/7), a educadora levará o lançamento ao projeto “Casa Mulher Com a Palavra”, no Goethe-Institut, situado no Corredor da Vitória, em Salvador. O evento integra o "Julho das Pretas" e segue até domingo (30), no mesmo local, com mesas redondas, oficinas, exposições, entre outras atividades.
CONFIRA A ENTREVISTA
https://www.youtube.com/watch?v=ZyApXZcOcTk
Aratu On (AON): Ultimamente tem se falado bastante em "letramento racial", tema que você ofereceu um curso, recentemente. O que ele significa e por que é importante?
Bárbara Carine (BC): Ofereci a primeira edição do curso de letramento racial e vou acabar oferecendo uma segunda edição em novembro, porque a procura foi muito significativa. Nós fechamos com uma turma do curso e, com pouco mais de uma semana de lançamento, abrimos uma turma extra que também fechou - mostrando que as pessoas estão interessadas em lançar um olhar sobre a realidade a partir do desvelamento das estruturas de opressões estruturais que forjam subjetividades e também as objetividades, as carências sociais que acompanhamos cotidianamente. Um letramento racial é um processo de decodificação de signos que vão ajudar pessoas a compreenderem a realidade social a partir de marcadores racializados. Inicialmente, eu diria que é um processo de despertar para o entendimento social, a partir dessas estruturas que são hierarquizadas a partir do marcador da raça.
AON: Qual a importância do dia 25 de Julho, pensando nessa geração de meninas mais novas, que ainda são crianças?
BC: O dia 25 de Julho é muito importante não só no nosso país. Foi instituído no primeiro Congresso da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, que aconteceu na República Dominicana, em 1992, mas essa data foi institucionalizada aqui no Brasil em 2014, a partir da lei nº 12.987,que estabeleceu a data de 25 de Julho também como o dia de Tereza de Benguela, uma grande ícone negra, do Quilombo do Quariterê. É uma data para trazer memórias de luta, mas também uma data para pensar a emancipação do nosso povo. Não há como pensar em emancipação sem olhar a partir de uma perspectiva Sankofa [provérbio africano que pode ser traduzido como "não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu"] a história que nos trouxe até aqui, mas também quais caminhos queremos seguir daqui pra frente. Nesse sentido, é muito importante a gente pensar na educação antirracista, para crianças em geral, mas, principalmente, para meninas negras que precisam se reconhecer numa sociedade na qual nós somos constantemente destituídas de acessos, destituídas de direitos, objetificadas, destituídas de intelectualidade, de capacidades quaisquer que não sejam meramente físicas. Então, nesse sentido, o dia 25 de Julho é um marco muito importante da luta do movimento de mulheres negras no Brasil.
AON: Observando as gerações passadas, você acha que as meninas negras estão mais empoderadas, sabendo que descendem de reis, rainhas, e grandes pensadores?
BC: Nós completamos esse ano, no dia 9 de janeiro, 20 anos da Lei nº 10.639 [sobre obrigatoriedade do ensino da História e cultura afro-brasileira nas escolas] e, recentemente, a partir de uma pesquisa do Instituto Geledés com o Instituto Alana, chegamos aos dados que cerca de 29% dos municípios de todo o Brasil cumprem em alguma medida a lei. Então, a gente pode presumir que houve um avanço, mas muito pequeno. A gente precisa caminhar ainda mais, nesse sentido da educação formal, pensando em emancipação da população negra - e aí pensando esse foco das meninas negras - para o seu poder ancestral, para o seu poder também contemporâneo, e para suas capacidades de possibilidades de vidas futuras. Por mais que a gente tenha caminhado, o racismo estrutural ainda nos segura. Ele ainda segura a importância dos conhecimentos ancestrais africanos e afrodiaspóricos no chão da escola. Então é muito importante educadores e educadoras de todo o país se atentarem não só para necessidade de cumprimento de uma lei, mas para necessidade de reparação histórica no sentido da construção subjetiva e objetiva de um povo.
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* Esta entrevista faz parte do Especial do Aratu On sobre o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que também ouviu a promotora de Justiça Lívia Vaz e a secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionas da Bahia, Ângela Guimarães.
CONFIRA A REPORTAGEM DA TV ARATU
https://www.youtube.com/watch?v=R_naqzTkS5U
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