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08/05/2023 08h00 | Atualizado em 08/05/2023 08h25

Vício no TikTok causa sintomas parecidos com os do abuso de drogas, diz psiquiatra: “Irritabilidade, insônia e ansiedade”

Para entender melhor esse processo, o Aratu On conversou com o psiquiatra Rafael Fabri, que explicou que o uso excessivo do TikTok tem um efeito no cérebro parecido com o uso de álcool, cigarro e outras drogas

Vício no TikTok causa sintomas parecidos com os do abuso de drogas, diz psiquiatra: Foto: Ilustrativa/Pexels
Bruna Castelo Branco

Antes de dormir, às 22h, você pega o celular, abre o TikTok, e pensa: vou passar só 10 minutinhos aqui, enquanto o sono não vem. O tempo passa, você olha a hora. Meia-noite? Como?

Segundo uma pesquisa da Universidade de Zhejiang, na China, publicada na revista científica NeuroImage, o TikTok é a rede social mais “viciante” que conhecemos hoje. Isso porque, de acordo com os pesquisadores, áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa são ativadas pelos vídeos curtos da plataforma, e jogam no corpo, de forma rápida, uma enxurrada de dopamina -neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para as várias partes do corpo-, que traz uma sensação de satisfação, e isso acontece já nas primeira vezes em que você abre o aplicativo.

O problema é que, quando a gente fala em dopamina, o nosso cérebro é incansável: quanto mais ele recebe, mais ele quer, e mais tempo você vai precisar passar na rede para produzir a quantidade necessária da substância, para repetir aquela sensação de prazer lá do início, das primeiras vezes em que você abriu o TikTok.

O experimento dos cientistas foi feito com o uso de ressonância magnética cerebral em 30 voluntários, que assistiram a dois tipos de vídeo enquanto faziam o exame: os personalizados pelo algoritmo do TikTok e os mais genéricos, que aparecem no feed dos usuários que acabaram de criar um perfil no aplicativo e ainda não estão com as suas preferências totalmente ajustadas pela plataforma. E veio o resultado: a área tegmental ventral (ATV), um dos principais centros produtores de dopamina no cérebro e a parte considerada o início do circuito de recompensa, é uma das ativadas pelo algoritmo. A consequência? Liberação de dopamina e uma sensação de prazer imediata.

Para entender melhor esse processo, o Aratu On conversou com o psiquiatra Rafael Fabri, que explicou que o uso excessivo de redes sociais como o TikTok tem um efeito no cérebro parecido com o uso de álcool, cigarro e outras drogas. “Toda vez que vemos um vídeo, liberamos dopamina em nosso cérebro, assim como quando se fuma um cigarro, por exemplo. A busca incessante por essa dopamina é o que causa a adição a algo em nossa vida. Portanto, em pessoas que consomem muita mídia, esse sistema fica hiperativo e, quando o consumo é interrompido, podem existir sinais de abstinência, como: irritabilidade, falta de foco, insônia e ansiedade”.

Confira a entrevista completa:

Fazer uso de redes sociais como o TikTok, que oferece vídeos super curtos aos usuários, pode gerar algum problema neurológico?

Na realidade, as redes sociais com vídeos e informações rápidas ativam um sistema que todos nós temos no nosso cérebro, chamado de sistema de recompensa. Como o próprio nome diz, é um sistema que ativamos quando conquistamos, comemos ou consumimos algo que nos traz prazer. Esse mesmo sistema é ativado no uso de substâncias, álcool, cigarro e outras drogas, e algumas redes sociais apresentam potencial similar. Toda vez que vemos um vídeo, liberamos dopamina em nosso cérebro, assim como quando se fuma um cigarro, por exemplo. A busca incessante por essa dopamina é o que causa a adição a algo em nossa vida. Portanto, em pessoas que consomem muita mídia, esse sistema fica hiperativo e, quando o consumo é interrompido, podem existir sinais de abstinência, como: irritabilidade, falta de foco, insônia e ansiedade.

Mesmo se for uma pessoa adulta, com o cérebro já desenvolvido, pode surgir algum problema nesse sentido?

Sempre que pensamos no processo de se tornar adicto a alguma coisa, devemos lembrar que, quanto mais tarde iniciamos esse hábito em nossa vida, maior a chance de ficar abstêmio, isso porque o cérebro jovem, ao contrário do adulto, ainda está em desenvolvimento e pode entender que o uso de uma substância ou da rede social é necessário para o seu funcionamento. Embora os adultos também corram riscos, geralmente conseguem se controlar melhor e gerenciar de maneira mais adequada o tempo de tela.

Nesse estudo publicado na revista NeuroImage, os pesquisadores concluíram que partes do cérebro ligadas ao sistema de recompensa são ativadas pelos vídeos e produzem uma sensação rápida de prazer. É possível dizer que, por esse motivo, a pessoa pode começar a perder a atenção ou interesse em consumir conteúdos mais longos, caso faça muito uso do TikTok?

Com certeza. Como dissemos anteriormente, a velocidade do consumo também vai influenciar. Portanto, consumir um vídeo longo pode gerar irritabilidade e falta de interesse por parte da pessoa que busca o prazer imediato, mesmo sem a consciência disso.

Quais prejuízos psicológicos o uso de redes sociais como essa podem trazer com o tempo?

Diversos prejuízos, tanto pela característica de adição, quanto pelo tipo de conteúdo consumido. Pela adição, sintomas de abstinência citados, como: apatia, irritabilidade, insônia, instabilidade do humor, e desenvolver outros tipos de compulsão. Em relação ao tipo de conteúdo, isso já é um pouco mais delicado, porque a rede social pode nos dar a falsa sensação de que todos estão vivendo a vida intensamente, já que é um espaço em que as pessoas costumam postar apenas ‘o lado bom da vida’, com festas, conquistas, viagens entre outros. Quando a pessoa interrompe o consumo, ela se vê dentro de sua rotina normal e começa a ter pensamentos de desvalia sobre a sua capacidade e sobre sua atual situação, o que pode ser um fator de risco para o início de um quadro de humor como a depressão e a ansiedade.

Como se desintoxicar dessas redes? Existe alguma forma saudável de usá-las?

É importante que se tenha um período de tempo determinado para as redes, no caso das crianças e jovens, e isso deve ser responsabilidade dos pais ou dos responsáveis. É necessário que separe esse tempo dos campos profissionais e acadêmicos e controle também o tipo de conteúdo que você consome. Busque conteúdos que possam somar para a sua vida. Por exemplo, de dicas para sua área de atuação ou estudo.

Existe alguma relação entre o aumento de casos de ansiedade com o uso de redes sociais de consumo rápido como essa?

Existe, sim. Principalmente no público mais jovem, que tem uma dificuldade de filtrar o conteúdo virtual do mundo real. Como disse, ver todas as pessoas conquistando resultados e vivendo vidas perfeitas pode gerar um grande questionamento e consequente adoecimento psicológico. Mas, vale lembrar que a ansiedade é uma soma de fatores ambientais e genéticos e que, no país mais ansioso do mundo -o Brasil-, a rede social é mais um dos diversos fatores ambientais que podem nos adoecer.

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