Documentário sobre Pepe Faro revisita trajetória do imigrante marcou o varejo baiano
O documentário Amigo – A Biografia de Pepe Faro estreia em 2 de dezembro e narra a trajetória do imigrante galego
Por Da redação.
O documentário Amigo – A Biografia de Pepe Faro estreia em 2 de dezembro e narra a trajetória do imigrante galego que se tornou referência no varejo e na gastronomia de Salvador. Filmada no Brasil e na Espanha, a produção acompanha a jornada de um jovem que fugiu da fome e da guerra para transformar o próprio nome em símbolo de afeto na Bahia.
A ideia do filme surgiu diante de um desafio central: o próprio Pepe, fundador da Perini e do Almacen Pepe, não queria ser filmado. Aos 83 anos, considerava sua vida “simples demais” para o cinema. O diretor Amadeu Alban disse, em entrevista ao Cineinsite, que a resistência era constante. “Pepe realmente não queria participar. Apesar de ser uma pessoa extremamente sociável, que faz amizade fácil, ele é um cara muito low profile. A estratégia para superar essa resistência foi vencer na marra".
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Segundo Alban, a proximidade com a família Faro foi decisiva para convencê-lo. “André me chamou pra fazer o filme porque eu sou da colônia galega, meus pais são espanhóis também e meu pai era um dos melhores amigos de Pepe desde a adolescência, conviveram juntos e construíram essa amizade aqui".
A identidade do documentário também se apoia na forma como o empresário se relaciona com as pessoas. “O filme também se chama Amigo, porque Pepe se refere a todo mundo como ‘amigo’, inclusive aos netos. É a marca registrada dele: não só chamar as pessoas de amigos, mas fazer amigos".
Para lidar com a resistência do protagonista, a equipe adotou um formato de filmagem intimista. “A gente adotou uma estratégia que era: eu e o diretor de fotografia sermos uma equipe super enxuta, bem invisível. As situações de filmagem foram menos daquela estratégia tradicional de sentar e gravar vários depoimentos. Era estar nas comidas, nos almoços, nos passeios e ir acompanhando ali como uma mosquinha, puxando conversa”, relata o diretor.

O momento em que Pepe, enfim, aceitou ser entrevistado marcou a equipe. “Vencemos ele pelo cansaço, até o dia em que ele falou: ‘Ah, você quer uma entrevista? Então tá bom, sente aqui’. E aí ficou três horas conversando. Depois a gente conseguiu outras, mas, foi na marra".
A simplicidade — motivo que Pepe usava para evitar as câmeras — acabou fortalecendo a narrativa. “O filme cumpre essa missão de mostrar as origens dele, dessa pessoa extremamente humilde. Eu acho que isso é um traço da personalidade dele que, mesmo chegando onde chegou, ele mantém", resume Alban.
Das raízes à Bahia
Parte do documentário foi filmada em Aboal, aldeia galega onde Pepe nasceu. A ambientação busca reforçar o contraste entre as privações da infância e a vida construída no Brasil. “Era muito importante contrastar esse ambiente rural, rústico e mais empobrecido mesmo das origens dele com o calor, essa coisa solar, quente, o luxo que ele construiu aqui, no universo de Salvador. Isso se reproduz na fotografia, nas cenas que a gente escolhemos fazer e no fato de termos filmado no inverno", explica.
A escolha das estações também teve função narrativa. “A gente filmou no verão também, mas a maioria das cenas são no inverno da Galícia. Então esse contraponto mostra muito essa dualidade, esses dois mundos que moldaram o Pepe".
As gravações incluíram personagens próximos ao empresário, como a esposa, Almerinda. “Foi muito difícil gravar com a Almerinda, porque ela tinha muita resistência de gravar, mas aos pouquinhos conseguimos. No último dia da viagem, arrumando as malas, ela topou falar e contou histórias emocionantes".

Durante a produção, a equipe enfrentou um episódio marcante: a morte de Alfonso Alban, pai do diretor e melhor amigo de Pepe. “Pepe ficou muito abalado, eu também. A gente quase cancelou as filmações. Meu pai funcionou como o meu produtor de conteúdo, porque ele era amigo de todos os personagens. Lá na Espanha, ele conhecia todos os lugares. Então, ele era o nosso guia e mediava as pessoas, ligava para o mundo e falava: ‘Eu tô indo aí para gravar o filme de Pepe’”, lembra Amadeu.
Memória e reconstrução
Com décadas de história acumulada, selecionar o material foi um dos principais desafios. “Entrevistamos mais de 30 pessoas, cada uma com entrevista de no mínimo duas horas. Só de Fernando, o irmão, foram sete horas de entrevista, tínhamos um volume muito grande de material".
O acervo incluía fotografias antigas, vídeos em VHS e quadros da família. "As fotos ali da década de 60 e 70 são muito legais: as fotos dele, do irmão dele e de Almerinda, ainda namorados. Fotos no começo de carreira como padeiro no Tororó, são muito legais porque remetem muito a uma Salvador dessa época e ao contexto formativo dele. Fora toda a beleza das fotos em preto e branco".
Apesar da abundância de registros, Alban diz que buscava uma narrativa biográfica mais estruturada. “Eu não queria que o filme fosse uma coletânea de anedotas, mas sim que tivesse o intuito de ser uma biografia e de contar a trajetória dele".
Essa trajetória inclui marcas da guerra e do deslocamento. “A introdução da guerra, do pós-guerra, das questões históricas, é o contexto, é o caldo de formação de Pepe. Ele veio para cá muito novo, com 17 anos, e aqui ele reconstrói a vida toda dele".
Para o diretor, a força que moveu o empresário é um elemento central da narrativa. "Ele converteu toda essa dureza em trabalho, para poder sobreviver, para poder sair dessa situação difícil. E essa energia e força de superar as dificuldades que ele tem, é a base do carisma dele".
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