Estudo aponta mais de 100 mil corpos de escravizados em cemitério na Pupileira

O estudo apontando que corpos de mais de 100 mil pessoas escravizadas estão no cemitério da Pupileira foi apresentado no MP

Por Dinaldo dos Santos.

Estudo apresentado no Ministério Público do Estado da Bahia indica que antigo cemitério, localizado no estacionamento da Pupileira, na Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, abriga os corpos de mais de 100 mil pessoas escravizadas.

Os dados, fruto de uma pesquisa arqueológica liderada pela arqueóloga Jeanne Almeida, foram apresentados em reunião no MPBA no dia 21 de outubro. Segundo o levantamento, os corpos enterrados no local pertencem a pessoas marginalizadas na sociedade da época: escravizados, pobres, indigentes, não batizados, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos e insurgentes.

Estudo aponta que mais de 100 mil escravizados estão em cemitério na Pupileira. Foto: Divulgação | Ascom/MPE

“Trata-se de um tema de grande relevância para a formação da memória social e coletiva da Bahia e do país. Estamos falando de séculos de escravidão e apagamento histórico de pessoas arrancadas à força de seus territórios”, destacou Jeanne Almeida.

Ossadas de escravizados são achadas

As escavações para investigar a existência do antigo cemitério começaram no dia 13 de maio. No dia seguinte, um ato religioso foi celebrado no local, visando preservar a memória e a religiosidade dos sepultados, além de promover o respeito entre diferentes manifestações religiosas. Treze dias após o início das escavações, arqueólogos identificaram as primeiras ossadas humanas.

Atualmente, o espaço onde se encontra o antigo cemitério funciona como estacionamento. Com base em recomendação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o MPBA deverá emitir uma orientação para que a Santa Casa suspenda o uso do local até que sejam adotadas medidas de preservação.

O promotor de Justiça Alan Cedraz, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac), afirmou que o objetivo é proteger o sítio arqueológico e promover um processo de reparação histórica.

“O próximo passo é garantir a proteção do local como um sítio de memória sensível e promover uma escuta social com movimentos, lideranças religiosas e espirituais. É hora de romper o ciclo de silenciamento e apagamento desses grupos”, disse Cedraz.

Promotor de Justiça Alan Cedraz. Foto: Divulgação | MPE

A reunião contou ainda com a presença das promotoras de Justiça Cristina Seixas e Lívia Sant’Anna Vaz, representantes da Santa Casa de Misericórdia, do Iphan, da Fundação Gregório de Matos (FGM) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), além da arquiteta e pesquisadora Silvana Olivieri e do advogado e professor Samuel Vida.

Durante a apresentação, Jeanne Almeida detalhou as etapas do levantamento, realizado entre 13 e 23 de maio deste ano, que identificou fragmentos ósseos humanos e outros materiais associados ao antigo cemitério. Ela ressaltou a importância da condução técnica e ética das escavações e da preservação do local.

Jeanne Almeida, responsável pela pesquisa arqueológica. Foto: Divulgação | MPE

A arquiteta Silvana Olivieri e o professor Samuel Vida reforçaram a importância do resgate arqueológico como ato de reparação e preservação da memória coletiva. Silvana solicitou que o local seja reconhecido oficialmente como “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”, proposta já encaminhada ao Iphan, que recomendou a proibição do uso da área como estacionamento.

O levantamento é resultado de um conjunto de ações iniciado em dezembro de 2024, quando o Nudephac instaurou procedimento administrativo e firmou um termo de cooperação técnica entre o MPBA, a Santa Casa e o grupo de pesquisadores.

O processo também incluiu um ato inter-religioso, simbolizando o compromisso de que a gestão do espaço respeite a memória das pessoas ali sepultadas e não repita o apagamento histórico que o cemitério representa.

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