Enem 2025 não será cancelado, declara ministro da Educação
Estudantes convocam atos pela anulação do Enem 2025, após estudante divulgar questões quase idênticas às da prova oficial, dias antes da aplicação
Por Júlia Naomi.
O ministro da Educação, Camilo Santana , afirmou que a edição de 2025 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2025) não será anulada. A declaração foi feita em um vídeo publicado no Instagram, na tarde desta sexta-feira (21), em um contexto de polêmica em torno da divulgação antecipada de questões muito similares às aplicadas na prova, em uma aula ao vivo no YouTube.

"Queria tranquilizar a cada um de vocês que fizeram a prova, a cada um dos seus familiares. O Enem não será cancelado", disse Santana. O chefe da pasta afirma que a comissão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) responsável pelo exame tomou a decisão técnica de anular três itens do Enem com o objetivo de não prejudicar nenhum aluno que participou da avaliação.
Camilo Santana classificou como “caso de polícia” a antecipação de questões do Enem 2025 pelo estudante de medicina Edcley Teixeira. "A Polícia Federal já foi acionada e tomará todas as providências, com o rigor da lei, em relação a esse caso", declara.
O ministro se referiu à repercussão do caso nas redes sociais como um “ruído da internet”. Ele reiterou o papel do Enem como política pública de combate às desigualdades e de acesso às universidades públicas, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), além de viabilizar o acesso a políticas como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “O Enem é um patrimônio do Brasil”, afirmou.
No mesmo video, revela que pela primeira vez o Enem teve detetores de metais em todas as salas, número que ultrapassa os 120 mil. Santana cita que o exame mobilizou 585 mil pessoas e registrou quase 5 milhões de inscritos.
Estudantes convocam atos pela anulação do Enem 2025
Estudantes articulam atos pela anulação do Enem 2025, marcados para sábado (22), em todas as regiões do país. A mobilização surgiu nas redes sociais após o Inep decidir anular apenas três questões do Exame Nacional do Ensino Médio, depois de participantes apontarem que o estudante universitário Edcley Teixeira exibiu, em uma live no YouTube, itens muito semelhantes aos aplicados na prova, dias antes de sua realização.

A principal liderança do Movimento Anula Enem, que convoca manifestações em 16 capitais do país, inclusive em Salvador (BA), é a estudante Letícia Araújo, 21. Ela, que é natural do Rio de Janeiro, deseja cursar ciências biológicas e conta que a mobilização teve início no X (antigo Twitter).
"Eu vi a revolta e a indignação de todo mundo e resolvi que a gente não tem que demonstrar nossa indignação somente na internet. A gente tem que fazer algo na rua e nos mover, não só assistir as coisas acontecerem, mas fazer a mudança", relata ao Aratu On.
Apesar de o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ter anulado três itens do Enem 2025, a organização do movimento Anula Enem contabiliza a antecipação de ao menos 15 itens semelhantes aos da prova, tanto a partir da live de Edcley Teixeira quanto de prints de questões que circulam na rede social X.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) comunicou a anulação de três questões do Enem 2025 e o início de uma investigação da Polícia Federal, na terça-feira (18), para apurar eventual quebra de confidencialidade ou ato de má-fé pela divulgação indevida de questões sigilosas. Contudo, o movimento Anula Enem contabiliza a antecipação de ao menos 15 questões semelhantes às da prova, tanto a partir da live de Edcley quanto de prints que circulam na rede social X.
Assim, a organização defende que a anulação de outros itens da prova não seria suficiente para a garantia da lisura do processo. "Mais questões anuladas sem a anulação completa da prova significam um maior prejuízo a quem fez a prova honestamente. Aqueles que foram realmente beneficiados apenas perderiam essas 15 questões, mas continuariam beneficiados pelo restante", defende Letícia.

Em nota divulgada nesta terça-feira (18), o Inep afirma que a anulação das questões passou por uma avaliação da comissão assessora responsável pela montagem das provas. Além disso, reafirma a "isonomia, lisura e validade do Enem 2025".
"O Inep promove diversas estratégias para calibrar as questões que compõem o Banco Nacional de Itens e podem ser usadas na elaboração das provas do Enem. Os processos envolvem rigorosos protocolos de segurança, que foram cumpridos em todas as etapas do exame", complementa.
Além da anulação total do Enem 2025, o movimento Anula Enem pede a renovação do banco de questões e a responsabilização dos envolvidos na antecipação de partes da prova. Também são exigidas reformulações nos pré-testes de itens, feitos na avaliação do Prêmio Capes Talento Universitário.
Em Salvador, a manifestação ocorre no Farol da Barra, com início às 13h deste sábado (22). No mesmo horário, Fortaleza (CE), Maceió (AL), São Luís (MA), Recife (PE), Aracaju (SE), Manaus (AM), Porto Velho (RO), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES) também realizam atos.
Apenas em Brasília (DF) as manifestações ocorrem nesta sexta-feira (21), devido à aplicação do vestibular da Universidade de Brasília (UNB), no sábado (22).
Entenda anulação de questões do Enem 2025
O Ministério da Educação (MEC), por meio do Inep, anunciou a anulação de três questões do Exame Nacional do Ensino Médio e o acionamento de uma investigação da Polícia Federal na tarde desta terça-feira (18), após relatos de antecipação de questões similares em uma live no YouTube. Na noite de segunda-feira (17), participantes já levantavam suspeitas de vazamento do Enem nas redes sociais.

Edcley Teixeira, que vende materiais de mentoria para vestibulandos e é estudante de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), transmitiu ao vivo, no dia 11 de novembro, a resolução de ao menos cinco questões muito similares às que constavam no segundo dia de aplicação do exame (16 de novembro, último domingo).
Edcley Teixeira pagava R$10 por questão de pré-teste
Estudantes que participaram do Prêmio Capes de Talento Universitário de 2024, voltado para universitários do 1° ano do ensino superior, revelam que eram incentivados por Edcley Teixeira a decorar o maior número de questões possível, mediante pagamento de R$ 10,00 por cada item e possibilidade de bonificação conforme o detalhamento.
“Ele falava que pagaria nossa passagem para sair de Sobral (CE) e ir até Fortaleza participar do Talento Universitário. Dizia que gostava muito desse prêmio e que queria incentivar nossa participação”, relata um aluno que preferiu não se identificar, ao g1.
Edcley Teixeira teria descoberto que a prova da premiação é utilizada como um teste de questões que poderiam integrar o Enem. A informação, contudo, jamais foi divulgada pelo Ministério da Educação. No comunicado, a pasta confirma a realização de pré-testes do Enem, mas não menciona o Prêmio CAPES.
“Ele pedia para a gente memorizar o maior número de perguntas possível: as imagens, os contextos, os conteúdos abordados. Mandamos tudo para ele. Não tínhamos noção do que estava acontecendo. Achei que ele quisesse ideias para montar simulados.” A reportagem do G1 afirma ter tido acesso a comprovantes de Pix, depoimentos de alunos e mensagens de Whatsapp que comprovam as transações.

Um ex-colega de trabalho de Edcley e um ex-aluno dele também confirmaram a estratégia adotada. "Eis que a monitoria em questão criou o seguinte método: incentivou alunos a fazerem a tal prova do CAPES, e assim que saíssem da sala, divulgassem as questões cobradas que estivessem frescas na memória deles. Isso porque a prova é feita em um PC; não se sai de lá com caderno de questões", diz uma das fontes.
Após a confirmação de que conseguiu "prever" as questões do Enem 2025, Edcley comemorou em um grupo do Whatsapp com alunos. “Acho que vocês ainda não têm dimensão do que significa o Prêmio Capes. É como se encontrassem a prova do Enem jogada no chão na véspera da prova”, declarou.
Questões anuladas pelo Inep
- Fotossíntese: (115 na cinza; 121 na amarela; 132 na verde; 123 na azul)
- Grito: (118 na cinza; 115 na amarela; 135 na verde; 132 na azul)
- Parcelamento de R$ 60 mil: (172 na cinza; 178 na amarela; 168 na verde; 174 na azul)
Estudante que adiantou Enem 2025 aproveitou repercussão para vender curso
Com as questões memorizadas pelos estudante, Edcley Teixeira elaborou apostilas e cursos a R$ 1.320. A partir da repercussão de sua "previsão" das questões e sob o discurso de que teria desenvolvido um método único de entendimento sobre o funcionamento do Enem, passou a incentivar ainda mais a venda de seu material.

A princípio, Edcley Teixeira falou abertamente sobre ter memorizado questões do Prêmio CAPES, sem citar a participação de outros estudantes, em vídeos publicados em suas redes sociais na noite de segunda feira, dia 17.
Segundo Edcley, ele utiliza as questões do prêmio como inspiração e defende seu material de ensino como autoral. O Inep afirma que nenhuma das questões antecipadas era igual às do Enem 2025 e que, na divulgação observada nas redes sociais, "foram identificadas similaridades pontuais entre os itens".
A um jovem que estava interessado em contratar a “mentoria”, Edcley disse: “Se confirmado, tenho, junto a 2023, pelo menos mais algumas dezenas de questões difíceis de pré-testes. Tudo isso sem cometer crime nenhum, porque o Inep não pode censurar minha memória ❤️". A informação é do G1.
Em nota obtida pela TV Verdes Mares, os advogados do universitário dizem que ele está à disposição das autoridades e reitera seu compromisso com a verdade. "(...) A defesa técnica confia plenamente nas instituições e na Justiça, acreditando que a apuração dos fatos confirmará a inexistência de qualquer ato ilícito por parte de Edcley de Souza Teixeira", afirmam os advogados.
Nos vídeos seguintes, contudo, mudou de narrativa: afirmou ter desenvolvido "algoritmos exclusivos" que mapeiam os padrões do Enem. Além disso, alega ter observado as chamadas públicas com os nomes dos elaboradores das questões do Enem e estudado artigos científicos publicados por eles. Segundo Edcley, estas pessoas costumam ser professores universitários e pesquisadores, que tendem a querer "reciclar" os próprios trabalhos.
"Óbvio que vou acertar o Enem inteiro. O Enem inteiro é repetido. Eu descobri o padrão. Sabe quantas pessoas elaboram o Enem? 25 pessoas. Elas estão no Inep desde 2009. Sigam na rede social. Você vai conseguir saber no que elas estão pensando", afirma.
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