Saúde e Bem-Estar

Eu só sirvo para calcular dietas?

Aline Ribeiro
Colunista On: Aline RibeiroNutricionista que não só prescreve, mas também escreve. Não só sobre comida, mas também sobre emoções, hábitos, política e sociedade.Formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Obesidade pela USP.

A pergunta do título foi a que eu me fiz logo no início da graduação em Nutrição. Eu ia para as aulas - nas quais me ensinaram como acontece a digestão de cada nutriente presente nos alimentos, e como eles fazem nosso corpo funcionar - e me questionava: mas será que basta saber de tudo isso?

Esse questionamento me causava muita angústia, porque, ao mesmo tempo em que eu sabia muito sobre bioquímica, metabolismo e os nutrientes, eu mesma vivenciava muitos desafios com a minha própria alimentação.

Frequentemente eu exagerava na comida e não sabia lidar com situações com muitos alimentos diferentes do meu dia a dia. Isso acontecia em festas, restaurantes e encontros com os meus amigos. Eu sempre acabava exagerando e me sentindo mal por isso. Também observei que em semana de provas, ou quando passava por um período mais estressante, eu sempre precisava comer alguma coisa doce para me ajudar a lidar com aqueles momentos.

Nesse contexto, fui percebendo que o fato de ter informação e conhecimento não era suficiente para mudar hábitos. Afinal, eu estava em contato direto com o conhecimento todos os dias e, ainda assim, enfrentava muitos desafios com os meus próprios hábitos. No fim das contas, continuava angustiada porque não tinha nenhuma matéria na faculdade que - de fato - me ensinasse a lidar com essas outras dificuldades.

Sendo assim, comecei a buscar sozinha por mais conhecimento sobre como me ajudar e, consequentemente, conseguir ajudar os outros a mudarem seus hábitos alimentares. Por isso, precisei mergulhar a fundo no mundo da terapia cognitivo comportamental (TCC), neurociência e, claro, do comportamento alimentar.

Entende-se por comportamento alimentar o conjunto de ações e atitudes relacionadas ao ato de se alimentar. Logo, além do olhar para o quê se come, a abordagem comportamental também leva em conta o como se come, o porquê se come e em que contexto se come.

Em outras palavras, se observo que um indivíduo consome muitos doces ao longo da semana, a princípio, só tenho a informação de que ele consome doces em alta quantidade. E, sabendo que somente informá-lo de que "isso não é saudável" não é suficiente para que ele diminua o consumo, eu preciso, então, analisar muitos outros aspectos. Preciso saber, por exemplo, porque ele come especificamente as comidas doces, em quais momentos ele busca esses alimentos, o que ele sente que determina a decisão de buscar os doces, em que local isso costuma acontecer e também em qual horário.

Dessa forma, eu consigo saber quais são os sentimentos envolvidos na busca por esses alimentos e pensar em estratégias individualizadas que funcionem para a realidade desse paciente. Às vezes, os doces aparecem em momentos de ansiedade. Nesses casos, é preciso desenvolver habilidades no paciente para que ele consiga lidar com a ansiedade de outras formas, e que nem sempre envolva a comida.

Portanto, eu concluí que não sirvo apenas para calcular dietas. E, muitas vezes, elas nem são necessárias. Ser nutricionista também envolve olhar para os sentimentos envolvidos no ato de comer, os hábitos culturais, as memórias afetivas relacionadas aos alimentos e muitos outros aspectos.

Isso fez com que eu me encontrasse na minha profissão, aprofundasse ainda mais meus estudos sobre comportamento e mudasse a minha visão em relação à minha própria alimentação. Conclusão: questionar-se e ir em busca de respostas pode ser revolucionário.

Leia também: O que significa comer por emoção e quando isso se torna um problema

Leia também: A relação entre o sono e os hábitos alimentares saudáveis

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