O que você faria se não precisasse trabalhar?
Acordei, fui fazer exercício, meditei, fiz ioga, li um livro. Almocei com amigos. Peguei os filhos na escola, fizemos as tarefas de casa e assistimos a um desenho. Essa é minha rotina quase diária desde que os trabalhos deixaram de existir e eu recebo minha renda universal de 10 mil dólares por mês (cerca de 55 mil reais).
Sim, apenas uma fantasia. Mas uma fantasia possível, segundo alguns futuristas que projetam um mundo transformado pela tecnologia e pela inteligência artificial. O ponto central é: o que você faria se não precisasse trabalhar?
Essa pergunta vem ecoando na minha mente desde que ouvi um podcast com Mustafa Suleyman, CEO de IA da Microsoft.
Vivemos um momento de transição profunda. As expectativas mostram que, em um futuro não tão distante, talvez não seja preciso trabalhar da forma como conhecemos hoje. Não quero dizer aqui inatividade, mas reinventar o que o verbo “trabalhar” significa.
Então pare. Respire. E pense: quem você seria se as suas oito horas diárias de trabalho e a preocupação financeira simplesmente deixassem de existir?
Desde que ouvi isso, me vejo refletindo:
- Quem eu sou, além do que faço?
- O que realmente quero da vida?
- Como quero impactar o mundo?
- O que é segurança para mim?
- Como seria minha saúde mental e emocional sem o peso do “precisar produzir”?
Acho que sei parte das respostas, mas confesso que ainda me sinto distante de me imaginar sem o trabalho. E talvez esse seja um dos maiores sinais do nosso tempo. O trabalho se transformou em identidade, em pertencimento, em forma de reconhecimento e de amor-próprio. Eu sou o que eu faço. Só que ele também tem nos consumido, moldado e, muitas vezes, adoecido.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 15% dos adultos globalmente enfrentam algum transtorno de saúde mental. Além disso, dados da Gallup (2024) indicam que apenas 21% dos trabalhadores no mundo se sentem engajados, ou seja, 79% estão apenas sobrevivendo ao trabalho.
No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante: em 2024, tivemos um aumento de 68% nos casos de pessoas que pediram licença do trabalho por causas relacionadas a transtornos mentais. De acordo com estimativas da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), o país aparece entre os primeiros do mundo em casos de burnout. O futuro do trabalho não é sobre o fim das atividades, mas sobre propósito, liberdade e prazer — sobre reorganizar a vida a partir de quem somos, e não do que fazemos.
O que está acontecendo no futuro do trabalho?
- O emprego deixa de ser o centro e o trabalho se fragmenta em projetos com propósito.
- As pessoas passam a buscar múltiplas carreiras, com sentido e flexibilidade. Estudos do World Economic Forum (2024) apontam que a economia da paixão e das múltiplas carreiras (“multi-career economy”) crescerá 40% na próxima década.
- As habilidades humanas se tornam o diferencial: criatividade, empatia, curiosidade, coragem e adaptabilidade.
- O sucesso deixa de ser medido por status e passa a ser medido por bem-estar e sentido de vida.
- A tecnologia assume parte do esforço, e o humano volta a cuidar do que é essencial: sentir, criar, viver. Segundo a McKinsey (2024), até 30% das horas de trabalho atuais podem ser automatizadas até 2030, e um estudo do MIT e da OpenAI (2023) estima que 80% dos profissionais terão pelo menos 10% de suas tarefas automatizadas.
Talvez a pergunta não seja apenas “o que você faria se não precisasse trabalhar”, mas também: quem você quer se tornar quando o trabalho deixar de ser o que o define? Ou melhor: o que de fato define você sem o trabalho? Já tentou se apresentar e conversar sem dizer o que você faz?
A minha reflexão aqui é: como você está se preparando para o novo? Pode parecer distante, pode parecer uma viagem, mas o mundo está evoluindo muito rapidamente e olhar para dentro de si é o início dessa jornada.
Somos frutos do que produzimos ou do que escolhemos viver?
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Artau On
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