'Evidências do Amor' traz Sandy e Porchat em comédia romântica que carrega o nome do maior hit popular brasileiro
E nessa loucura de transformar uma canção tão famosa, que é quase um hino nacional para o Brasil, o diretor e roteirista Pedro Antonio criou uma das comédias românticas mais divertidas e fofas que já foram feitas na história do cinema. O longa-metragem é perfeito? Longe disso! Abusando de clichês do subgênero e com inspirações em fórmulas de produções estadunidenses, que trazem uma espécie de realidade alternativa mesclada com mágica — como Click ou Uma Comédia nada romântica —, o que pode pegar o espectador aqui é a qualidade da execução do óbvio.
Não dá para negar as aparências! A música Evidências é um dos maiores acertos da obra, sendo uma espécie de base, que impulsiona a narrativa positivamente. Composta por Paulo Sérgio Valle e José Augusto (que até faz uma participação no longa), o hit popular, de 1989, chega nesta romcom como uma sina inescapável. Já que a mesma é tocada o tempo inteiro no país, em todos os lugares, por que não transformar essa característica brasileira em um recurso quase sobrenatural? Essa é uma premissa sagaz, que só por esse fato já é instigante de acompanhar.
Porque o público do país tem um afeto com a cantiga, tem lembranças, sabe cantar de cor e somente nisso o laço já é estabelecido com a história ficcional. Assim, é a partir do jogo com essa identificação que a trama vai conectar quem assiste a ela. Ao mesmo tempo, sem disfarçar as evidências, é possível notar que a contracena do elenco, seja dos protagonistas Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy) ou do próprio Marco, com suas melhores amigas Júlia (Evelyn Castro) e Luana (Larissa Luz), possui um timing preciso. Seja ele cômico ou trágico, não se perde. Há uma fluidez na condução dos diálogos, que é mérito tanto das atuações, como da escrita das falas verbais, bem como da direção de Pedro.
A velocidade não é corrida, mas o tempo não se dilata, fazendo com que a fruição gere interesse, conexão e até mesmo tensão. Mas pra quê viver fingindo? Comédias românticas podem ser legais quando conseguem entregar uma sessão leve, mas nem por isso ruim. Neste sentido, a impressão que Evidências passa é a de intimidade com todo aquele universo ficcional revelado no ecrã. Há uma criação de organicidade dentro deste projeto, o que é fundamental para que todo o absurdo da premissa funcione.
Se a plateia for observar as bases do teatro absurdista, descobrirá que, para que esta classificação teatral funcione, o irreal se vale do real. Por isso é necessário esta coesão visual com o verbal, que lembre o cotidiano, ainda que o plot principal se estabeleça no fato de que o protagonista retorna para memórias com sua ex-namorada, quando Evidências toca. Para que tudo isso fique crível, a produção se vale do equilíbrio da mistura de carisma do elenco, com um enredo surrealista e o cuidado para que a técnica não se sobreponha ao desenvolvimento das personagens (mas que também não seja deixada de lado). Assim, não há como enganar o coração e já na metade da sessão, a torcida pelo ship Marco e Laura se estabelece.
É a partir de toda esta lógica que, em termos de decupagem, a criação de Pedro Antônio parece razoavelmente simples, mas que existe à serviço da narrativa. Através da construção de enquadramento e mise-en-scène, o cineasta escolhe focar nas emoções das personagens, mais do que em suas ações físicas. Para realizar tal intento, o diretor se vale de quadros mais fechados. Pedro Antônio não nega os seus desejos, convocando frames que revelam a estrutura relacional de Marco com todos que o cercam. Assim, temos aqui planos médios e close-ups mesclados, construindo uma sensação também de proximidade e distanciamento dos sentimentos de Marco e/ou de Laura.
Com a junção de todos os elementos do filme, Evidências tem um saldo positivo. Ainda que conte com uma estrutura banal e nada criativa de comédia romântica, na qual alguém precisa reconquistar um ex-amor, a sua execução, que poderia ser fraca e sem viço, salva o conteúdo previsível mostrado na tela. Através de cores vibrantes, elenco conectado e orgânico e uma direção focada mais no que está sendo contado do que em seu próprio desejo de mostrar talento, esta obra é divertida, vibrante e que vale muito ser conferida!
Confira o trailer:
https://youtu.be/hz8mfWOXFOw
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