Ambiciosa e rentável, franquia Wicked ensina como ser popular
Com um final de semana de estreia com um ganho expressivo de 76 milhões de dólares (mais de 408 milhões de reais), apenas fora dos Estados Unidos, Wicked: Parte II pode ser considerado um fenômeno mundial. Em conversa com o diretor Jon M. Chu e a atriz que dá vida à protagonista Elphaba, Cynthia Erivo, detalhes sobre as filmagens, interação do elenco e preparação foram revelados.
Adaptação do musical homônimo, realizado por Stephen Schwartz e Holzman, a obra também é originária do romance de Gregory Maguire. Publicado nos anos 1990, o livro chamado Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West influenciou as produções teatrais e cinematográficas.
Com expectativas altas dos espectadores, após a primeira parte do filme Wicked, o diretor Jon M. Chu explica que a maior diferença entre os dois longas-metragens é o nível de grandeza e amadurecimento de cada um. Ele também revela como tinha consciência de que a segunda metade necessitava ser grandiosa.
Para Chu, o fato da produção anterior conter um enredo mais adolescente e “açucarado” garantiria o seu sucesso. Já a sua continuação, de acordo com o artista, é onde as relações se transformam, há mais sombras e uma trama que precisa ser estruturada e encerrada. Dentro dos desafios encontrados no caminho, o realizador explica que um dos maiores ganhos do seu trabalho foi a sua escolha de deixar as atrizes improvisarem e não ficarem tão presas ao roteiro.
A partir desta experiência, ele conta que enxerga essa necessidade de confiar na sua equipe e ofertar liberdade criativa para todos, para que exista espaço de criação mais espontânea e livre. “E isso não se aplica apenas à filmagem. Também se aplica à edição, com um editor que entenda isso e não tente se intrometer”, revela. A condução de Chu foi essencial para a elaboração do papel da bruxa Elphaba, de acordo com Cynthia Erivo.

A partir da escolha de gravar os dois filmes juntos, Cynthia afirma que criou uma série de estratégias, sozinha e com a equipe, e contou como todo apoio da direção para realizar tal intento foi essencial. Para ela, o maior impulso criativo foram os ensaios antes das filmagens. Erivo explicita que a partir deste processo foi possível criar um mapa de emoções de Elphaba, do qual ela se valia sempre que precisava realizar uma cena.
Além disso, a artista conta que a maquiagem contribuía para essa compreensão do momento exato que Elphaba estaria. Por fim, estratégias pessoais também entraram em voga:
“Como um complemento, eu usava perfumes diferentes para me lembrar onde estava, em que lugar estou. Elphaba, quando jovem, tinha um perfume floral que eu usaria. Quando mais velha, ela tinha um aroma mais profundo que, curiosamente, era chamado de ‘Magia de Bruxa’. Eu tinha uma playlist que me preparava para cada personagem. E tudo isso me permitiu separar mentalmente os dois lados”.
De acordo com a crítica de cinema Yasmine Evaristo, o sucesso de Wicked não é recente, e vem desde o teatro, seja nas versões do musical da Broadway ou do Brasil, principalmente com o público LGBTQIAPN+. No entanto, Evaristo crê que a entrada de nomes como Ariana Grande e Cynthia Erivo aumentou a atenção para com a produção. Além disso, para a especialista, o fato de dentro da dramaturgia o maior foco ser readaptar uma história já conhecida também elevou esse potencial de fama.
Evaristo lembra que outras tramas anteriores já giraram em torno desta revisita ao passado de um vilão ou uma vilã, procurando mostrar novas camadas e perspectivas destas personagens. Casos como a versão live-action de Cruella, Malévola, Hannibal Lecter, entre outros, deixam nítido para ela como existe essa busca da plateia por este tipo de narrativa. “Wicked entra um pouco nesse espaço de tentar entender porque os vilões são vilões”, elucida.
O amor pelas figuras de Elphaba e Glinda do espetáculo teatral já estava presente em Luana Freitas, fã do universo ficcional de Wicked. Para a jovem, o enredo é uma possibilidade de reflexão sobre lutar pelo o que se acredita e sair de uma bolha que possa cristalizar o olhar diante do mundo. Freitas enxerga dentro deste universo fantástico metáforas que a ajudam a analisar a sociedade.
Dentro do mundo real, Luana diz se deparar com diversas situações no mundo que conectam ela com o que é retratado dentro da história de Wicked. “Se analisarmos um pouquinho a fundo, vemos que Oz é aqui, ela existe e está cheia de “Mágicos” e exclusão. Wicked abraça todos aqueles que se sentem diferentes e têm disposição e vontade de defender os próprios ideais e ‘desafiar a gravidade’”, completa.
Confira a entrevista com Cynthia Erivo:
Enoe: Com essa grande transformação da Elphaba, da parte 1 para a parte 2, como foi o processo de construção disso como atriz - em relação ao corpo, gestos e tudo mais?
Cynthia: Graças ao maravilhoso processo de ensaio, conseguimos mapear o arco emocional da personagem do início ao fim. Quando passei a entender para onde ela estava indo, consegui compartimentar o que estava acontecendo. Porque filmamos tudo junto e não sabíamos onde realmente estaríamos, mas, ao saber qual era o ponto principal, eu podia extrair as emoções de cada cena e armazená-las como uma espécie de memória.
Aí entra a maquiagem. A maquiagem é muito diferente. A transformação física em si é muito diferente. Quando toda a maquiagem é aplicada, você sabe onde está. Quando o figurino é colocado, você sabe onde está. E, para mim, como complemento, eu uso perfumes diferentes para me situar. A Elphaba jovem tinha um perfume floral que eu usaria. A mais velha tinha um aroma mais profundo que, curiosamente, se chamava “magia da bruxa”, o que combinava com o momento em que ela está no auge do poder e eu queria algo com mais presença.
Eu também tinha uma playlist que me preparava para cada versão da personagem. Uma parte era mais angustiante e emotiva; a outra, mais raiva e intensidade. Tudo isso me ajudou a separar mentalmente os dois lados. E tivemos um diretor incrível nos guiando o tempo todo. Jon M. Chu é uma das pessoas mais maravilhosas com quem eu poderia ter desejado trabalhar. Ele estava sempre lá, apoiando. E para fazer essa mudança, você precisa de alguém que segure sua mão durante o processo. Então foram muitos elementos diferentes [que contribuíram para a construção da personagem].
Enoe: O diretor Jon M. Chu disse que a cena de “For Good” foi muito intensa. Como foi construir essa cena com Ariana?
Cynthia: Foi muito intenso e emotivo. Todos foram muito respeitosos durante esses dias, porque é um longo caminho a percorrer (para cantar), e a cena não termina com a música. Termina conosco. Termina comigo a colocando no armário e nós finalmente dizendo “adeus”. Foram dias que significaram muito para nós. Passamos muito tempo ali e colocamos nossos corações na cena.
Assista abaixo ao trailer de Wicked: Parte 2
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