Comunicação e Marketing

Que Roque sou eu?

Colunista On: Diego OliveiraApaixonado por gente pelo 'BrasiS' e fundador do Grupo Youpper
Que Roque sou eu?

Foto: reprodução/TV Globo

 


O que vende mais, ficção ou realidade? Ou a junção de ambos?


Não nego que sou apaixonado pela televisão. E a teledramaturgia está entre minhas paixões. Mesmo antes de contar com as novelas nas estratégias de marketing, elas já me encantavam com a majestosa arte de “reinventar a vida”.


Lembra-se ou ouviu falar sobre "QUE REI SOU EU?"; e "ROQUE SANTEIRO"?


Novela de Cassiano Gabus Mendes, Que Rei Sou Eu? foi um grande sucesso na tela da TV Globo no final da década de 80. Em 2012, repetiu o sucesso de audiência quando foi reprisada no canal pago Viva. O ano de 1989 foi uma época de efervescência política. O Brasil estava prestes a eleger um novo presidente da República e há muito tempo não se via tanta liberdade para se falar ou escrever sobre política. O autor soube aproveitar bem o momento e criou a novela, que foi uma sátira à situação política a qual o País atravessava. O reino fictício de Avilan era um país decadente em finais do Século XVIII e se via às voltas com os problemas causados pela morte do rei. O reino precisava de um sucessor, só havia um filho bastardo e este não se deixaria corromper pelos conselheiros da rainha, interpretada por Thereza Raquel. O jeito encontrado pelo malévolo conselheiro Ravengar (Antonio Abujamra) foi colocar um mendigo no trono, enquanto o verdadeiro herdeiro iniciava uma guerra para tomar o poder. A trama foi marcada pelo humor escrachado. O desfile de reis, rainhas, nobres e plebeus na telinha conquistou o público, que conseguia identificar os temas atuais, como corrupção, mudanças na moeda, burocracia, injustiças sociais e a sucessão do poder na trama.


Alguns anos anteriores, o Brasil e o mundo conheceram Roque Santeiro, sátira à exploração política e comercial da fé popular, a novela marcou época apresentando a cidade fictícia como um microcosmo da nação brasileira. O município é Asa Branca, onde os moradores vivem em função dos supostos milagres de Roque Santeiro (José Wilker), um coroinha e artesão de santos de barro que teria morrido como mártir ao defender a cidade do bandido Navalhada (Oswaldo Oliveira). O falso santo, porém, reaparece 17 anos depois, ameaçando o poder e riqueza das autoridades locais. Incentivada pelo fazendeiro Sinhozinho Malta (Lima Duarte), a viúva Porcina (Regina Duarte) – que sequer conhecia Roque – espalhou a mentira de que havia sido casada com o santeiro, e acabou se transformando em patrimônio da cidade. Ao conhecê-lo, apaixona-se e a trama ganha muitas emoções!


Imagino que você esteja pensando: “esse cara é mesmo noveleiro!”. Já eu... estou refletindo: qual a razão de citar estas duas grandes produções da teledramaturgia nacional (que inclusive foram traduzidas e transmitidas em inúmeros outros países)?


Ambos enredos trazem a realidade para a ficção. Embora as histórias estejam prestes a completar bodas de ouro, elas são muito atuais no que dizem respeito a mostrar “a vida como ele é” dentro do universo do entretenimento. O que ainda é muito atual. E isso só se expandiu ao longo dos anos. 


E sobre demais itens das grades de programação? O que é ou não real? Quais são os equívocos na constante busca por audiência?


Fazer o suspense para revelar algo que já está divulgado na internet; fingir que o apresentador concorda com o que está sendo falado; mostrar que no mundo artístico tudo são flores... A internet vem revelando que não se vestem máscaras ou vivem de personagens. Os que se destacam são aqueles que fazem o que gostam, têm repertório sobre o assunto que apresenta e não seguem exclusivamente as orientações no ponto ou teleprompter. 


A família perfeita, o ambiente de trabalho perfeito, o casal perfeito estão longe de serem perfeitos! E percebo que as marcas estão compreendendo isso... ou melhor, as marcas estão atentas às pressões da sociedade e passaram a apresentar posicionamentos menos irreais. A própria televisão tem se adequado, trazendo mais pluralidade e diversidade na programação. 


Entendo que é necessária a construção de novos atributos para conquistar e reter uma audiência. Fundamental a construção de relacionamentos pautados em propósitos reais.


Mesmo que tenhamos personagens inventados, como Roque Santeiro, a essência precisa ser verdadeira. Do contrário, a sopa de letrinhas das campanhas de comunicação vai esfriar, perderá aroma e saber diante do público que se quer atrair.


Estamos na era do debate, das reflexões, do levantamento de bandeiras que impactam toda a sociedade. Assuntos complexos, como o racismo e manutenção da democracia, tomam ruas e telas. E nós, profissionais da comunicação, temos que fazer o melhor uso possível da criatividade e inovação para propor obras primas como Que Rei Sou Eu? e Roque Santeiro – que souberam falar da realidade com a maestria da ficção. 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Diego Oliveira

Diego Oliveira

Apaixonado por gente pelo BrasiS, Diego Oliveira é fundador e CEO do Grupo Youpper Consumer & Media Insight. Expert in Consumer & Media Insights, é publicitário e mestre em comunicação pela Cásper Líbero, especialista em gestão de projeto pela FGV, professor e supervisor universitário na ESPM nos cursos de Publicidade e Propaganda. Ele também é curador dos GT's da Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP) Bahia.

Instagram: @diegoyoupper
 

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