Mudança do Carnaval para a Boca do Rio: em reunião com o Comcar, Isaac Edington diz que há preconceito contra o bairro; "tachado pela violência"
Para os participantes do movimento, como explica Ajulimar, manter a folia no bairro é uma forma de preservar a região do Centro Histórico de Salvador.
Na manhã desta terça-feira (26/7), 22 dos 32 membros do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) se reuniram para discutir a mudança do circuito Barra-Ondina para a orla da Boca do Rio, no Parque dos Ventos, em 2023. A última reunião para tratar do assunto aconteceu em maio deste ano. A ideia é que o circuito tenha quatro quilômetros e vá até a terceira ponte de Patamares. Porém, ainda não se sabe em qual sentido os trios sairiam.
O Comcar é formado por associações de artistas, empresários donos de trios e camarotes, entidades da segurança pública, da saúde e da imprensa. Inicialmente, o objetivo da reunião desta terça era indicar, oficialmente, quais são os interesses do grupo para o prefeito Bruno Reis (UB), que é quem deve bater o martelo em relação a modificação do Carnaval de Salvador. Porém, como nem todos os 32 membros do Conselho puderam participar, esse parecer vai ser adiado para o final de agosto, quando uma nova reunião está prevista para acontecer.
Após mais de duas horas de reunião, o presidente da Empresa Salvador de Turismo (Saltur), Isaac Edington, reafirmou que nenhuma decisão foi tomada ainda, e que não houve e nem haverá uma votação. Para ele, a resistência para a mudança para a Boca do Rio se trata também de um preconceito contra o bairro.
“É tachado como um bairro com violência. É preciso que a gente trabalhe o Carnaval de forma bastante consistente. Estabelecer compromissos para que a gente melhore o Carnaval e dar continuidade aos trabalhos que foram iniciados semanas atrás. A ideia é fazer o melhor Carnaval para todos, para a população, para os ambulantes, para os empresários e para os camarotes”. Na Boca do Rio, como aponta ele, além do circuito ser 100% a beira mar, há espaço para mais camarotes.
Por enquanto, não há conversas sobre adiar a mudança para 2024 ao invés de 2023, como ressaltou Isaac: “Nós estamos trabalhando para o Carnaval de 2023. Não está em discussão falar sobre o Carnaval de 2024”.
O presidente da Comcar e da Central do Carnaval, Joaquim Nery, disse que, na reunião de hoje, foi criada uma comissão para discutir o projeto, que deverá ser enviado para o prefeito Bruno Reis e, posteriormente, para o Governo do Estado.
SOS CARNAVAL
Do lado de fora do prédio em que a reunião aconteceu, na região da Avenida Tancredo Neves, membros da associação SOS Carnaval se manifestaram pela manutenção do Circuito Barra-Ondina. Um representante do movimento, Marco Schoneborn, também esteve na reunião.
Moradora da Barra, Ajulimar Marchionne contou que a associação, que surgiu em junho, já conseguiu 5 mil assinaturas em um abaixo assinado que defende a “tradição tudo Carnaval de trios na Barra-Ondina”.
“Eu sou moradora da Barra e eu amo o Carnaval na Barra. Eu acho que o Carnaval é uma tradição que não pode ser cortada assim, do nada. Primeiramente, deve-se ouvir a população que mora na região. A gente, como movimento, recolheu 5 mil assinaturas em um mês e meio para que o Carnaval permaneça”.
Para os participantes do movimento, como explicou Ajulimar, manter a folia no bairro é uma forma de preservar a região do Centro Histórico de Salvador. Para o grupo, para solucionar o problema de “superlotação” do Carnaval na Barra-Ondina, uma das soluções seria dividir os artistas com o circuito do Campo Grande.
“A gente percebeu como o centro foi completamente esvaziado. Todas as atrações, trios elétricos, foram para a Barra. Mudando para a Boca do Rio, acho que eles só vão mudar o problema de local. Os problemas que a gente tem na Barra, eles vão ter também”.
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