Jeremias Gomes: "O reggae sempre esteve pronto para integrar grandes festivais"
Jeremias Gomes comanda 'Baile do Rasta' na Concha Acústica do TCA, com a participação de grandes nomes do reggae baiano e nacional; confira a entrevista completa
Fonte: Thaís Seixas
O cantor baiano Jeremias Gomes pode dizer que nasceu no reggae. Filho de um dos maiores expoentes do gênero, Edson Gomes, desde cedo ele participava dos shows do pai e, nos últimos anos, tem buscado unir esta herança musical a uma identidade própria nos palcos.
No dia 18 de janeiro (sábado), Jeremias Gomes comanda o Baile do Rasta, que acontece na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, a partir das 18h. O evento, que marca o lançamento de um projeto audiovisual gravado no Parque da Cidade de Salvador, vai contar com a participação de Edson Gomes, Nengo Vieira, Edy Vox, Adão Negro e Hélio Bentes, vocalista da banda Ponto de Equilíbrio, além da abertura do DJ Ras Seles. Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla.
Na entrevista a seguir, o artista fala sobre o Baile do Rasta, destaca a necessidade de mais casas de show em Salvador e afirma que seu papel no reggae é ampliar as possibilidades e alcançar cada vez mais pessoas. Confira:
Você está praticamente organizando um festival de reggae na Concha Acústica, com a participação de grandes nomes do gênero. Acha que Salvador está precisando de mais eventos de reggae de grande porte?
Sim, acredito que Salvador tem muito potencial para receber mais eventos de reggae. A cidade tem uma conexão histórica e cultural muito forte com o gênero. O reggae faz parte do cotidiano do povo e das periferias. Salvador tem todas as condições de criar um circuito de reggae mais robusto. Precisamos de mais eventos de grande porte que coloquem o reggae no centro das atenções.
No Baile do Rasta, você vai receber convidados como Edson Gomes, Nengo Vieira, Hélio Bentes (da banda Ponto de Equilíbrio), Edy Vox e a banda Adão Negro. Como será esse encontro de gerações?
Olha, esse encontro de gerações é algo muito importante para mim e cheio de significado para a cena do reggae. Tenho certeza de que será um momento histórico, porque todos esses artistas que vão dividir o palco comigo são pessoas que admiro profundamente e acompanho há muitos anos. São minhas referências, artistas de nível nacional. Para mim, é um privilégio poder cantar junto com grandes nomes que ajudaram a construir a história do reggae no Brasil, como meu pai, Edson Gomes, e artistas que continuam levando essa bandeira com força, como o professor Nengo Vieira, Edy Vox, os meninos do Adão Negro e Hélio Bentes.
Você foi conquistando seu espaço e se tornou um dos principais representantes da nova geração do reggae baiano. Foi difícil fazer essa ‘transição’ entre ser filho de Edson Gomes e se tornar um artista com identidade própria?
Foi difícil, sim, porque o nome do meu pai é muito grande e forte. Isso faz com que algumas etapas sejam puladas, facilitando em certos aspectos, mas dificultando em outros. Ser filho de Edson Gomes é um duro privilégio, pois ele é um ícone do reggae, e sua obra é referência para todos nós. No início, muita gente me via apenas como “o filho do Edson”, mas sempre soube que precisava encontrar meu próprio espaço e construir minha identidade musical.
Esse processo foi lento e cheio de trabalho, junto com a minha equipe. Hoje, vejo que essas dificuldades me trouxeram mais bagagem e experiência. Agora, me sinto pronto e realizado ao perceber que minha música está chegando às pessoas e que meu nome carrega uma mensagem própria. O legado do meu pai faz parte de mim mas, hoje, meu foco está em construir minha própria trajetória.
Evento vai marcar lançamento de audiovisual gravado no Parque da Cidade. Foto: Luciana Nascimento | Divulgação
O verão na Bahia é conhecido pelo grande número de eventos carnavalescos, com foco no axé, pagode e músicas 'para pular'. O Baile do Rasta tem a proposta de incluir mais o reggae como o 'estilo da estação'?
Com certeza! O reggae tem um lugar muito especial no coração dos baianos, e o verão é o momento ideal para reforçar isso. O Baile do Rasta chega com a proposta de colocar o reggae no centro das programações, mostrando que ele também é música para dançar e celebrar. Inclusive, tenho uma música chamada “Dançando Reggae”, que reflete que tudo com o reggae fica mais leve.
Normalmente, não vemos eventos de reggae no verão, então sinto que o público acaba ficando sem opções para curtir um grande evento do gênero. Estar na programação de verão é uma forma de equilibrar a diversidade musical que a Bahia oferece e reafirmar o reggae como um estilo que também pode fazer parte da estação, ao lado de samba, pagode e axé.
No ano passado, a Concha Acústica recebeu shows de artistas como Julian Marley, Edson Gomes, Adão Negro e Armandinho (do reggae). Na sua opinião, a Concha tem se tornado propício para receber grandes artistas do gênero ou isso reflete uma carência de espaços em Salvador?
Eu vejo dois aspectos. A Concha Acústica é um palco bonito, democrático e emblemático. Para mim, é um dos espaços mais mágicos não só de Salvador, mas de todo o estado e do Brasil. Ela é, sem dúvida, propícia para receber grandes nomes do reggae, tanto nacionais quanto internacionais.
Por outro lado, percebo que essa concentração de eventos de reggae na Concha reflete uma carência de outros espaços em Salvador com estrutura e respeito equivalentes. Salvador é vista e promovida como uma cidade da música, mas não possui muitas casas de shows adequadas para eventos de pequeno, médio e grande porte. Ou você faz shows em pubs no Rio Vermelho, Barra ou Santo Antônio para públicos reduzidos, ou organiza eventos para 15 a 20 mil pessoas.
Aproveito para destacar que o reggae sempre esteve pronto para integrar as grades de grandes festivais culturais e eventos públicos da cidade, mas, muitas vezes, acaba sendo deixado de lado. O meu papel no reggae é ampliar essas possibilidades, fortalecer o movimento e colocar o reggae no lugar que ele merece, porque o gênero tem um público fiel e apaixonado que merece mais opções para curtir nossa música.
Esse show marca o lançamento do audiovisual gravado no Parque da Cidade, que lotou o anfiteatro do local. Como você avalia este momento da sua carreira?
Eu avalio esse momento da minha carreira de forma extremamente positiva. Sinto que estamos colhendo os frutos de um trabalho árduo. Lotar o anfiteatro do Parque da Cidade foi uma das grandes realizações de 2024, um momento incrível e muito feliz. Hoje, realizar o Baile do Rasta e levar o evento para a Concha Acústica, com convidados especiais — grandes artistas que eu amo e que fazem parte da minha história musical — também foi um marco importante.
O que posso dizer é que estou vivendo um momento muito gostoso de saborear. Sinto que estou em ascensão, com mais pessoas conhecendo minha música e meu show. Percebo o carinho do público, quando me encontram na rua ou em outros lugares, me parabenizando e reforçando o apoio ao meu trabalho.
Sem dúvida, é um momento muito feliz da minha carreira, que estou curtindo intensamente.
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