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Vontade de ser "corno": o que explica fetiche que tem até rede social para encontrar outras pessoas e gera curiosidade? Lista mostra outros prazeres

Sexóloga alerta o problema de fazer porque "outros estão fazendo", mas dá dicas de como apimentar a relação com consentimento.

Por Beatriz Bulhões

Vontade de ser "corno": o que explica fetiche que tem até rede social para encontrar outras pessoas e gera curiosidade? Lista mostra outros prazeres ilustrativa/Pexels

Entre quatro paredes, muita coisa pode acontecer. Têm casais que curtem o "básico"; os que gostam de "apimentar" a relação e até aqueles que não são um casal - e sim um trisal -. O assunto volta e meia circula nas redes sociais, com diversos termos novos para designar práticas que prometem acesso mais fácil ao orgasmo. 


"Desde que o sexo existe, fetiches fazem parte do cenário, mas a internet deu maior acesso pra eles", explica a psicóloga e sexóloga Fernanda Santiago. Em entrevista ao Aratu On, a especialista desmitificou algumas regras que podem ajudar a tornar o sexo ainda mais prazeroso.


"Algumas pessoas dizem que começaram a experimentar o fetiche porque ouviram falar, não necessariamente considerando aquilo como seu fetiche. Então, a gente começa a questionar essa coisa da disseminação da informação acerca da sexualidade, do quanto as pessoas acabam suscetíveis a essa lógica do 'tá todo mundo fazendo'", alerta. 


Para a psicóloga, o primeiro passo é a própria vontade. "As pessoas acabam desconsiderando que a sua sexualidade, o seu desejo, as suas vivências, as suas experiências e até mesmo a sua vivência com relação ao prazer e ao orgasmo vai se diferenciar. Isso precisa ser construído com seu universo pessoal e relacional", aconselha.


PRECONCEITO


A fantasia cuckold (o traído), por exemplo, foi buscada no Google pelos soteropolitanos 11 mil vezes no ano de 2020, sendo a segunda prática sexual mais procurada, atrás apenas do BDSM, que é traduzido como bondage (escravidão) e disciplina, dominação e submissão, sadismos e masoquismo. 


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A prática não costuma ser muita aceita socialmente, dificultando que as pessoas que sentem prazer com isso se sintam confortáveis sobre o assunto. "Muitas pessoas se sentem atraídas, sentem desejo por vivenciar aquilo que dentro da vida real elas não vão conseguir ter em prática, como 'se sentir corno', ter essa fantasia de pensar, imaginar ou viver uma situação sexual em que ele possa usufruir dessa posição de ser o 'corno'", exemplifica Fernanda.


Os praticantes do cuckold, assim como adeptos de outras práticas consideradas 'estranhas' por fugirem do senso comum, costumam sofrer preconceito.


Para a sexóloga, entretanto, essa é a ideia dos fetiches, de modo geral: experimentar coisas diferentes. "Os praticantes adotam esse universo da sexualidade, que é um universo de maior liberdade, e que se pode viver aquilo que moralmente venha a ser proibido ou até mesmo venha a infringir o contrato da relação", ensina.


REDE SOCIAL 


E para o praticante do cuckold tem até rede social para marcar encontros reais em todo o Brasil. A mais conhecida delas tem pouco mais de 17 milhões de usuários - entre homens, mulheres e casais -. "É o lugar ideal para quem quer conhecer pessoas de cabeça aberta, dispostas a dar e receber prazer. Sem julgamento!", diz o resumo da página. 


No aplicativo, os usuários postam fotografias sensuais - geralmente sem roupas -. Pela localização e interesses em comum, todos podem conversar e, em seguida, trocar número de celular ou outras redes sociais. Também é permitida a utilização de chamada e transmissões ao vivo por vídeo, na prática conhecida como exibicionismo. 


"O fetiche já é um tabu por si só e já envolve um emaranhado de preconceitos, mas as pessoas que são adeptas a essas práticas, que são consideradas mais bizarras, mais pitorescas, o meu conselho é que a intimidade também precisa ser explanada, ser colocada com muito critério e cuidado. A intimidade diz sobre você se desnudar diante das pessoas", diz a sexóloga. 


CONVERSA


Caso você queira introduzir uma nova prática no seu relacionamento, a psicóloga incentiva a ter cautela. "A gente sempre pede muito cuidado quando for abrir, quando for falar, levar para um espaço mais individualizado, pode ser na sua psicoterapia, pode ser com a sua parceria ou com as pessoas que estão engajadas e que possam de alguma forma compreender e acolher, não tratar de uma maneira escandalosa ou bizarra, exercendo qualquer tipo de preconceito na forma de vivenciar o prazer", desenha.


Fernanda ressalta ainda que toda prática sexual, seja por meio de fetiches ou de uma forma consensual, deve ser conversada entre os envolvidos antes de acontecer. "O ato sexual por si só já é um ato que precisa de consentimento, porque ninguém tem poder sobre o corpo do outro", lembra.


"Um conselho que eu posso dar: sente com sua parceria e mantenha um diálogo franco. Diga 'gosto de fazer isso, gosto da prática disso, gosto de introduzir coisas, como é isso pra você?', Porque o seu prazer não pode sobrepor a autonomia que cada um tem sobre o próprio corpo"


PESADO?


A especialista detalha que, em relação a sexualidade, nunca há um '"certo" e um "errado", apenas vivências distintas que podem ser conversadas. Algumas pessoas, por exemplo, gostam de práticas consideradas mais "pesadas" por envolver dor, incluindo torturas físicas e psicológicas.


Aos casos que envolvem dor e prazer, comumente agregados como BDSM ou sadomasoquismo, há variações que pode ser desde o Spanking, que começa com tapas no bunda, até o Sounding, que consiste na inserção de sondas pelas uretra do parceiro.


"Nessas práticas em particular, como o Sounding ou o Spanking, é extremamente importante que você dialogue com sua parceria sobre quais são os limites, qual o limiar da dor, se ela gosta/curte, porque o outro também tem o direto de não querer praticar, não se sentir a vontade ou não ter nenhum tipo de prazer e desejo na prática".


Outro grupo de fetiche que costuma ser alvo de debates é o PigPlay (brincadeira de porquinho), por envolver coisas tidas como sujas. Aqui, adeptos podem envolver urina (o famoso "golden shower), fezes (pode ser conhecido como "black shower" ou "SCAT"), suor, entre outros.


A sexóloga reforça o não julgamento a quem sente prazer desta forma, mas pede que a higiene seja sempre levada em conta.


"A gente sempre alerta com relação ao risco de infecções, contaminações, em relação aos cenários de fetiche. A gente sempre recomenda que os adeptos do PigPlay coloquem a premissa da higiene de alguma forma ao trazer os seus dejetos, porque a gente hoje sabe o quanto isso vem repleto de bactérias, podendo ocasionar problemas graves".


PRAZER


Fernanda lembra que todas essas práticas têm uma coisa em comum: alcançar o prazer. Por isso, caso alguma prática esteja te deixando desconfortável, mesmo que já tenha sido prazerosa no passado, é hora de conversar com sua parceria. 


"Muito cuidado com esse consumo exarcerbado desses fetiches, porque isso leva a uma espécie de alienação, pessoas que vivenciam e alguns que sofrem porque não conseguem experenciar o prazer diante desses fetiches e acham que estão fora da curva". 


Para quem quiser experimentar, segue uma lista preparada pelo Aratu On com a explicação das práticas mais faladas nas redes sociais.


VOYEUR


Apesar de um fetiche "velho", muita gente desconhece o termo, que descreve alguém que gosta de ver outras pessoas transando, sem se envolver na prática. Também é usado para descrever o oposto, quando os parceiros gostam de ser vistos tendo relações, embora o nome mais adequado para essa versão seja "exibicionismo". 


FISTING 


O fetiche envolve a inserção da mão ou antebraço na vagina ou no ânus. Para que ocorra "de forma bem feita", a mão do parceiro/parceira deve manter os dedos retos e juntos, sem travar o punho, formando um "bico de pato" (por isso, a prática também pode ser chamada de "silent duck" ou pato silencioso).


SPANKING 


Como o nome sugere, esses casais curtem ser espancados, literalmente. A atividade ficou famosa após o lançamento da saga "50 Tons de Cinza" e pode envolver desde palmadas no bumbum até murros capazes de provicar manchas.


CUCLOLD 


Em bom baianês, o culckold sente prazer em ser corno. O homem que gosta de que sua parceira tenha relações com outras pessoas pode querer estar presente no momento do sexo, sem participar, ou ouvir os detalhes do que foi feito no ato (seja depois, em casa, ou ficar escutando no quarto ao lado). Em uma das variações, o homem gosta de ser humilhado, com a parceira contando que a relação com o "amante" é mais prazerosa do que com ele.


SOUNDING 


Sounding é uma forma de tortura peniana que envolve inserir sondas de metal na uretra, causando dor e prazer. Alguns adeptos alegam que há mais prazer em ser a pessoa que enfia a sonda no parceiro, numa forma de sadomasoquismo, onde a dor do outro causa prazer. É possível usar diversos tamanhos de sonda, das mais finas as mais grossas, incluindo algumas eletrizadas, que dão choque.


MILKING 


O milking envolve uma outra tortura peniana, a de celibato, que impedir que o parceiro/parceira tenha relações sexuais ou até fiquem excitados. No caso do milking, o homem é impedido de sentir prazer, mas não de ejacular: com a técnica, o adepto é masturbado de uma forma a eliminar os espermatozoides, mas tudo acontece sem a ereção.


PIGPLAY  


O "Pigplay" (ou 'brincar de porco', em português) é um termo genérico usado sobre atividade sexual que enfatiza e abrange coisas como cuspe, urina, suor, ejaculação, esmegma (secreção acumulada no pênis), odor de axilas e outras partes do corpo. Em casos mais raros, quando envolve fezes, a variação se chama SCAT. Aos adeptos dessa prática, é recomendado que, logo após o sexo, os corpos sejam lavados para evitar a propagação de doenças.


PUPPY PLAY 


Apesar do nome parecido, esses dois fetiches são bem diferentes. "Puppy Play" significa, em português, "brincar de cachorro", o que resume bem a prática: os adeptos liberam seus "cachorros interiores" e passam a se comportar como os animais. O "cão" pode ter um dono, parceiro fixo e quem dita as regras da brincadeira, como também pode ter adestradores, que são parceiros temporários.


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