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Sem festas pelo segundo ano consecutivo, quadrilhas juninas se reinventam em meio à pandemia da Covid-19

Enquanto a pandemia da Covid-19 se mantém, aqueles que se dedicam às quadrilhas juninas buscam alternativas para que o 'fogo não cesse' e, quem sabe em 2022, volte.

Por Diego Adans

Sem festas pelo segundo ano consecutivo, quadrilhas juninas se reinventam em meio à pandemia da Covid-19TV Aratu

"E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?
"


O poema 'José' é do mineiro Carlos Drumond de Andrade. Contudo, ilustra bem o cenário atual às vésperas da grande festa nordestina: o São João. Pelo segundo ano consecutivo, não há balões no ar, nem xote pra dançar, tampouco o bom e velho baião no salão. Enquanto a pandemia da Covid-19 se mantém, aqueles que se dedicam às quadrilhas juninas buscam alternativas para que o 'fogo não cesse' e, quem sabe, em 2022, volte a ocupar um lugar central nos festejos tradicionais da Bahia e do Nordeste.


O Aratu On conversou com representantes de tradicionais quadrilhas da capital baiana, entre elas o Grupo Cultural Junino Forró do ABC e a Imperatriz do Forró. 'Reivintar-se' é o verbo chave no dia-a-dia de ambas entidades. 


Para a presidente do grupo Forró do ABC, Mariete Lima, a 'pausa forçada' imposta pela pandemia, proporcionou à necessidade de mudanças e a imersão em um mundo até então pouco explorado: o virtual. O grupo, que conta com cerca de 135 pessoas entre os que dançam e a parte técnica, fez apresentações online durante o período junino de 2020 e a situação deve se repetir em 2021.


"Para nós, é mais um mês muito triste. Em 2020, estávamos com todo trabalho pronto. Mas não paramos, realizamos várias lives. As circustâncias nos levaram para o mundo virtual", ressalta Mariete. 


Economicamente, com a interrupção das quadrilhas toda uma cadeia produtiva deixa de funcionar em plenitude. Costureiras, chapeleiros, sapateiros, maquiadores, figurinistas, aderecistas, entre outros, sofrem com a paralisação dos ofícios e, consequentemente, com a perda de ganhos e a manutenção econômica de si e das famílias.


No entanto, prestes a completar 40 anos de existência em 2022, a quadrilha mais antiga de Salvador fez, também, valer sua importância social para com seus associados e sua comunidade, o bairro do Pau Miúdo.


"O Forró do ABC foi além das quadras. Não paramos e criamos o 'ABC solidário', arrecadando alimentos, material higiênico para dar a nossos associados, aos familires, a nossa comunidade. O lado social é muito importante também", endossa. E, o discurso é de esperança. De um 2022 melhor.


"Começamos em 9 de maio de 1982, no bairro do Pau Miúdo e estamos esperançosos para celebrarmos nossos 40 anos, que todos nós estejamos vacinados para que possamos brilhar em 2022. O São João e a quadrilha precisa de todos nós, para mantermos essa cultura viva...então, o recado é um só: se cuide!", alerta esperançosa Mariete. 



PROJETO PARALELO


O discurso é reverberado por Armany Celebridade, presidente do grupo Imperatriz do Forró,  quadrilha junina do subúrbio da capital baiana, que possui cerca de 200 pessoas entre dançarinos e corpo técnico. Fundado em 2016, no Alto da Terezinha, o grupo, também, precisou se 'reiventar'. 


Armany detalha que ao perceber que o São João não seria realizado no ano passado, resolveu 'desengavetar um projeto antigo'. O multifacetado jornalista começou a fazer testes de elenco e, em dezembro, já tinha a primeira série: a Periferia 999, onde retratou a vida na periferia da capital baiana. 


"A quadrilha mesmo não deu para continuar. Como temos muitos integrantes adolescentes comecei a pensar em como deixá-los ocupados na pandemia. Então criei o Periferia 999, com a ideia de fazer uma série gravada no celular para ser exibida na internet", disse ao Aratu On


Com mais um cancelamento e o sucesso do projeto, Armany resolveu dar continuidade do trabalho audiovisual com a série de comédia "A vidente", que já tem quatro episódios disponíveis na web.


a-vidente


"Muitos jovens se perderam no mundo do crime. Eu pensei: 'como manter eles ocupados?'Eu precisei pensar no social ainda mais. A quadrilha em si já é uma ação que considero social porque aqui quem não pode pagar pelo figurino, não deixa de dançar, a gente paga. Se viajamos para um concurso, alugamos ônibus e fazemos o que for preciso", ressaltou Armany, que garante a presença da Imperatriz do Forró no São João de 2022, se a pandemia e Deus "permitirem'. 



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