De ponta a ponta: baiano narra expedição inédita de Jet Ski pelo Rio São Francisco
Em livro, baiano Waldy Freitas detalha viagem inédita pelo Rio São Francisco feita em Jet Ski
Por Juana Castro.
O que leva alguém a enfrentar as corredeiras, pedras e o isolamento de um dos rios mais icônicos do mundo montado em uma moto aquática? Para Waldy Freitas, de 71 anos, a resposta está no livro "Navegação do Rio São Francisco - De Ponta a Ponta", lançado no final de novembro no Museu do Mar Aleixo Belov, em Salvador.

O livro é o resultado de uma jornada de seis anos (entre 2014 e 2021) e aproximadamente 2.800 km percorridos. Diferente de outras expedições, Waldy não se limitou aos trechos tradicionalmente navegáveis entre Minas Gerais e Pernambuco. Ele explorou desde a nascente histórica, em São Roque de Minas, até a foz, na divisa entre Alagoas e Sergipe.

Com mais de três décadas de experiência em navegação, Waldy explica que as travessias começaram em 2014, quando ele e a equipe decidiram percorrer o trecho entre Pirapora (MG) e Petrolina (PE). “Há 30 anos a gente navega na Baía de Todos-os-Santos e em rios, somente de 'Jet Ski'. Em 2014 resolvemos fazer a primeira travessia do Rio São Francisco, de Pirapora a Petrolina. Dá cerca de 1.400 quilômetros”, explica.
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— Aratu On (@aratuonline) December 19, 2025
Vídeo: Waldy Freitas via Instagram pic.twitter.com/Uvek55ISmY
Pioneirismo e logística para atravessar o Velho Chico
Segundo ele, a experiência foi bem-sucedida e acabou sendo repetida outras vezes no mesmo trecho. Depois, o grupo avançou para novos desafios, incluindo o percurso entre Petrolina e a foz do rio, em Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE), com aproximadamente mais 700 quilômetros, além do trecho entre a nascente histórica, em São Roque de Minas, e Pirapora, somando outros 700 quilômetros. Ao todo, foram cerca de 2.800 quilômetros navegados, divididos em etapas ao longo de diferentes anos.

“Não tem ninguém que tenha feito como nós fizemos, de Jet Ski e de caiaque, remando. Em alguns trechos, não tinha condição de descer de 'jet', então adaptamos o caiaque para vencer corredeiras”, relata.
Na conversa com o Aratu On, o autor explicou que o trecho de Petrolina até a foz, por exemplo, é ignorado por muitos devido às dificuldades impostas pelas hidrelétricas e pelo excesso de pedras. Para superar esses obstáculos, ele e os outros "viajantes" contaram com uma estrutura rigorosa:
- Equipe de apoio por terra: caminhonetes 4x4 com mecânicos, peças de reposição e suporte médico;
- Tecnologia e autonomia: utilização de motos aquáticas modernas com capacidade para até 100 litros de combustível, permitindo trechos de 200 km sem reabastecimento;
- Planejamento climático: estudo detalhado de ventos e regimes de chuva.
“Foram seis ou sete anos de labuta para conseguir concluir todo o Rio São Francisco. A gente começou a pesquisar e não encontrou material sobre isso. No livro, explicamos como hoje uma pessoa pode navegar o rio inteiro, de ponta a ponta, em cerca de 25 dias”, diz.
Segundo o autor, a obra reúne relatos dos “perrengues”, falhas de equipamento, problemas com chuva e logística, além do aprendizado acumulado ao longo das viagens, realizadas entre 2014, 2015, 2018, 2019 e 2021. “Tem um índice que mostra os períodos em que viajamos, as datas e por que algumas tentativas não deram certo”, explica.

O 'Velho Chico' além das águas
Além do aspecto técnico, Waldy ressalta o contato com as populações ribeirinhas como um dos pontos mais marcantes da experiência. “O que mais surpreendeu foi a cultura dos ribeirinhos, de quem vive da pesca. A gente conversava muito, eles orientavam onde dava para descer, qual lado do rio era melhor. Tem histórias que ficam marcadas”, conta.
O autor define o livro como “um aprendizado para as pessoas que gostam de navegação e que queiram saber mais sobre essa atividade no Velho Chico”. No final do volume, ele inclui orientações práticas para quem pretende se aventurar. “Dou dicas de como navegar de forma mais tranquila e muito 'mais em conta' (financeiramente)”, diz.
Próximo desafio: de Manaus a Salvador
Ex-servidor público e figura conhecida em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), Waldy Freitas detém o título de único brasileiro a viajar de Salvador a Abrolhos, no sul da Bahia, em uma moto aquática. Mas ele não pretende parar.
O navegador já planeja sua próxima expedição: ligar o Porto de Manaus ao Porto de Salvador, um trajeto de cerca de 4.400 km pela costa brasileira. O desafio agora é a variação das marés, que no Norte do país chega a 10 metros. "É um cálculo preciso. Se você errar o tempo da maré, fica preso por sete horas. Exige eficácia total", explica.

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