Carne feita em laboratório na Bahia vence prêmio de inovação do Nordeste
Carne desenvolvida em laboratório na Bahia vence prêmio inovação do Nordeste; entenda como foi o processo da pesquisa
Por Laraelen Oliveira.
Cientistas do SENAI CIMATEC, em Salvador, desenvolvem uma carne cultivada, de identificação CELLMEAT3D. A proteína visa conter os mesmos valores nutricionais da carne ingerida nas refeições, mas feita através de uma impressora 3D.
A carne produzida tem origem animal e características de uma “carne normal”. Ela é feita através do isolamento de células, que vão para um biorreator e depois para uma impressora 3D. O animal não precisa ser abatido durante o processo de produção.

A pesquisa foi financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em Salvador e ainda se encontra em etapa preliminar, fase de estudos e testes. O projeto venceu o prêmio Finep Nordeste de Inovação 2025 na categoria Agroindústrias Sustentáveis e agora está apta para concorrer na disputa nacional.
Diferenças entre os tipos de carne
As duas carnes possuem origem animal, o que diferencia as duas é a forma como elas são obtidas. A carne “normal”, que é consumida normalmente, é produzida através da criação e abatimento de bovinos, a carne cultivada é feita através do isolamento de células de animais. As células são obtidas através de uma biópsia e os animais não precisam ser abatidos. O propósito da carne cultivada tenha os mesmos valores nutricionais da carne convencional.
Produção da carne cultivada
Para realizar a produção da carne é necessário uma série de equipamentos como biorreator, impressora 3D, além de insumos farmacêuticos, tornando o processo caro e dificultoso.
Para produzir a carne é preciso retirar uma amostra de um animal vivo, processo que ocorre através de uma biópsia. Do espécime são separadas células, que são alimentadas através de nutrientes e fatores essenciais disponibilizados em um meio de cultivo. Após isso, as células “entendem” que estão no corpo do animal e se desenvolvem com as mesmas características.

As células que estão no meio de cultivo são colocadas em um biorreator, onde se multiplicam. No computador, os pesquisadores planejam comandos como textura, quantidade de gordura e formato da carne. Esses comandos são repassados para a impressora 3D, que através do material obtido no meio de cultivo, imprime a carne.
Os cientistas ainda não conseguem determinar com precisão quanta carne pode ser produzida a partir de uma única biópsia, já que as pesquisas seguem em andamento e o processo ainda não atingiu sua etapa final. A expectativa, porém, é que no futuro exista um banco de células capaz de abastecer a produção sem a necessidade de coletas constantes nos animais.
Durante uma demonstração recente, uma impressora 3D construiu uma espécie de molde que futuramente receberá células animais. A etapa em que a estrutura já é impressa com as células incorporadas não pode ser realizada em visitas pontuais ao laboratório, devido ao alto risco de contaminação.
Vantagens da carne cultivada
Entre os principais benefícios da carne cultivada estão os impactos ambientais reduzidos. A pesquisadora Keina Maciele afirma que o processo utiliza até 60% menos água em comparação com a pecuária convencional.

Outro ponto favorável é o bem-estar animal: como não há abate, basta um pequeno corte para coletar as células necessárias. Além disso, a produção em ambiente controlado diminui significativamente os riscos de contaminação.
A bioengenheira Jaqueline Vieira, integrante da equipe de pesquisa, destaca ainda a possibilidade de personalizar a carne para atender necessidades específicas. “Podemos adicionar vitaminas para pessoas com deficiência nutricional e até alterar a textura da carne para indivíduos neurodivergentes que possuem seletividade alimentar”, explica.
Apesar das vantagens, os pesquisadores reforçam que a carne cultivada não pretende substituir totalmente a carne tradicional. A proposta é oferecer uma alternativa sustentável capaz de ampliar a oferta de alimentos sem sacrificar animais.
Regulamentação no Brasil
Mesmo já presente em mercados internacionais, a carne cultivada ainda não tem regulamentação no Brasil, o que impede sua comercialização e consumo.
Na Bahia, o trabalho conduzido pelo Centro de Competências de Proteínas Alternativas do SENAI CIMATEC é pioneiro. Trata-se da única pesquisa do estado e uma das poucas no país que estudam todas as etapas do processo de produção.
“É desafiador liderar uma pesquisa tão disruptiva, mas também inspirador, porque coloca o pesquisador na vanguarda do desenvolvimento tecnológico”, afirma Keina Maciele. Segundo ela, profissionais de diversas áreas como farmacêuticos, gastrônomos, engenheiros de alimentos e nutricionistas, participam das análises para garantir que o produto final seja similar à carne convencional.

Como o consumo ainda é proibido, um equipamento especial é usado para medir textura, mastigabilidade e outras características sensoriais. Ele simula a mastigação humana e compara os resultados com os da carne tradicional.
“O grande desafio é torná-la mais barata e acessível”, aponta Keina. Atualmente, os custos elevados dos insumos farmacêuticos necessários para o meio de cultivo e dos próprios equipamentos tornam o processo caro. A busca dos pesquisadores é por alternativas mais econômicas que permitam reduzir o preço final quando a regulamentação for estabelecida.
Investimentos em ciência
A Bahia se destaca entre os estados que mais investem em ciência, tecnologia e inovação. Em maio deste ano, o governo federal anunciou R$ 67,3 milhões destinados a ações voltadas à educação científica.
Um dos principais programas é o Mais Ciência na Escola, que recebeu investimento de R$ 18 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O governo baiano também prometeu um aporte adicional de R$ 3 milhões para a criação de clubes de ciência em parceria com a Fiocruz.
As iniciativas incluem comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, pescadores e moradores de pequenos municípios, com o objetivo de democratizar o acesso à ciência e promover desenvolvimento sustentável por meio da educação.
Tecnologia e inovação: saiba sobre as recentes iniciativas tecnológicas
O Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou a dispensa da necessidade de informar o número do IMEI, espécie de identificação única do aparelho, e também eliminou a exigência de cadastro prévio no aplicativo. As vítimas de furto, roubo ou perda de celular podem registrar a ocorrência diretamente no aplicativo Celular Seguro, utilizando qualquer outro dispositivo, como outro smartphone, tablet ou computador.
Uma equipe de estudantes da Escola SESI Candeias, Bahia, criou uma tecnologia para auxiliar estudiosos a transportar urnas funerárias indígenas com segurança, do sítio arqueológico até o laboratório de pesquisa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou o registro da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, no Diário Oficial da União. O documento oficializa a conclusão do processo regulatório e permite a produção e comercialização do imunizante, batizado de Butantan-DV.
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