Cirurgias por fimose em adolescentes disparam 80% no SUS em 10 anos

As internações cirúrgicas por problemas relacionados à fimose em adolescentes aumentaram mais de 80% no SUS nos últimos dez anos

Por Bruna Castelo Branco.

As internações cirúrgicas por problemas relacionados à fimose em adolescentes aumentaram mais de 80% no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos dez anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) baseado em dados do sistema público. O crescimento preocupa especialistas, que avaliam que o diagnóstico tem ocorrido tardiamente, quando a cirurgia costuma ser mais dolorosa, a recuperação é mais lenta e as complicações são mais frequentes.

A fimose é definida como o excesso de pele que recobre a glande e dificulta a retração do prepúcio. A condição é comum nos primeiros anos de vida — quando recebe o nome de “fimose fisiológica” — e tende a se resolver espontaneamente até os 3 anos. O problema surge quando o prepúcio não se retrai, o que dificulta a higiene, favorece infecções e pode causar constrangimento e dor durante as ereções na adolescência.

As internações cirúrgicas por problemas relacionados à fimose em adolescentes aumentaram mais de 80% no SUS nos últimos dez anos. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Quando não há resolução natural até os 7 anos, o tratamento pode ser feito com pomadas de corticoide. “Após esse período, se o problema persistir, a cirurgia é recomendada e é sempre melhor operar na primeira infância do que na adolescência”, afirma o urologista Daniel Suslik Zylbersztejn, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O levantamento da SBU, com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, mostra que as internações por fimose, parafimose e prepúcio redundante entre jovens de 10 a 19 anos subiram de 10.677, em 2015, para 19.387, em 2024. Entre as possíveis explicações estão falhas no diagnóstico precoce, dificuldades de acesso aos serviços de saúde e o afastamento típico de meninos das consultas médicas após deixarem o pediatra, sobretudo nos primeiros anos da puberdade. A pandemia também contribuiu para a tendência, com adiamento de cirurgias eletivas e redução de consultas.

Além do desconforto físico, a fimose não tratada aumenta o risco de infecções urinárias, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e câncer de pênis. “Na adolescência, o pênis é maior, a pele já tem mais fibrose e pode sangrar mais. O menino tem mais ereções devido à testosterona, e a recuperação tende a ser mais desconfortável e demorada”, explica Zylbersztejn, diretor do departamento de Urologia do Adolescente da SBU. “Pela masturbação e pela iniciação sexual, muitos acabam precisando do procedimento nessa fase.”

Segundo o especialista, o procedimento pode ser realizado em qualquer idade. “As principais complicações são sangramento e hematoma. Infecção é muito rara, e a maioria dos meninos se recupera bem com cuidados simples”, afirma.

O crescimento preocupa especialistas, que avaliam que o diagnóstico tem ocorrido tardiamente, quando a cirurgia costuma ser mais dolorosa. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Outro estudo

Nos Estados Unidos, estudo publicado no periódico Pediatrics indica que as taxas de circuncisão neonatal — procedimento recomendado por pediatras nos primeiros dias de vida — caíram abaixo de 50% pela primeira vez, passando de 54% em 2012 para 49% em 2022. A redução foi mais acentuada entre famílias brancas e de maior renda, enquanto os índices permaneceram estáveis entre famílias negras e hispânicas. Os pesquisadores citam fatores como ceticismo em relação às recomendações médicas e menor cobertura de seguros de saúde.

“O contexto americano é diferente, pois no Brasil não há recomendação para circuncisão neonatal de rotina. Por aqui, o procedimento é restrito a casos de indicação médica ou motivos religiosos”, explica Zylbersztejn. “Mas tanto aqui quanto lá, o mais importante é garantir informação clara às famílias e assegurar que crianças e adolescentes tenham acesso a diagnóstico precoce e acompanhamento adequado.”

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