Morte de Mãe Carmen: os ritos fúnebres do candomblé para uma ialorixá
Rituais após a morte de Mãe Carmen podem se estender por até sete dias
Mãe Carmen do Gantois, ialorixá de 98 anos e filha mais nova de Mãe Menininha do Gantois, faleceu nesta sexta-feira (26). A morte de líderes como ela segue uma série de ritos e tradições do candomblé, que marcam a passagem da terra para o espiritual.
No candomblé, o ritual de despedida de um sacerdote ou sacerdotisa é conduzido por um iniciado mais antigo no terreiro, conhecido como “Tirar o Oxu”. Esse processo envolve o desligamento do espírito da vida terrestre, permitindo que ele siga para a chamada “Cidade de Otulá”.

Segundo o pai de santo Bel D’Oxum, o ritual inclui a colocação de especiarias e fundamentos no caixão, como pós, milho branco e grãos, além de elementos específicos sobre a cabeça da falecida, que possui grande significado espiritual na religião. “São colocados segredos no pescoço para que a cabeça descanse sobre os fundamentos”, explicou.
Axexê
Após o enterro, acontece o Axexê, considerado o ritual fúnebre mais importante do candomblé. O objetivo é desligar o axé da ialorixá do plano material, garantindo que seu espírito siga em paz. O processo pode durar até sete dias e envolve a preparação de objetos pessoais e de culto, além de sacrifícios específicos de acordo com o orixá da líder.
“No sétimo dia, há oferendas, chamadas de balaio, e sacrifícios que encerram o processo. Depois do enterro, continuam as oferendas aos espíritos, com cânticos todas as noites”, disse Pai Bel. Ele explicou que os sacrifícios variam conforme o orixá: “Se for de Oxóssi, é bode; se for de Oxum, uma cabra, além de aves para encerrar o ciclo da pessoa na terra”.
Durante o período de luto, o terreiro pode ser temporariamente fechado, com a suspensão de festas, obrigações e iniciações, e passa por ritos de purificação. Também são realizados encontros e banquetes em homenagem a líderes que seguiram trajetória semelhante à de Mãe Carmen.
Quem foi Mãe Carmen?
Além de sua liderança religiosa, Mãe Carmen também se notabilizou pela militância social, atuando em defesa da liberdade religiosa, no enfrentamento ao racismo e à intolerância, e no fortalecimento de ações comunitárias voltadas à proteção cultural e à inclusão social das populações de terreiro.
Ao longo de sua trajetória, Mãe Carmen consolidou-se não apenas como uma liderança espiritual, mas também como uma voz ativa na preservação da cultura afro-brasileira e no diálogo inter-religioso.
Ela desenvolveu ações socioeducativas na comunidade do Gantois, incluindo cursos de ritmos, dança, bordados e toques tradicionais, além de promover iniciativas voltadas à acessibilidade e à memória cultural da religiosidade de matriz africana.
Artistas e autoridades prestam homenagens

Mãe Carmen do Gantois, filha mais nova de Mãe Menininha, faleceu nesta sexta-feira (26), aos 96 anos. A morte da sacerdotisa do Candomblé reuniu diversas homenagens que destacaram seu legado espiritual e simbólico.
Entre as manifestações de respeito, está a da cantora Maria Bethânia, que publicou nas redes sociais uma homenagem feita em show ao lado do irmão Caetano Veloso, durante sua última turnê conjunta, com a imagem de Mãe Carmen projetada ao fundo. Na legenda, escreveu apenas: “Profunda reverência”.
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