Militante pela liberdade religiosa e contra o racismo: quem foi Mãe Carmen?
Mãe Carmen do Gantois estava internada no Hospital Português e faleceu nesta sexta-feira (26), aos 98 anos
Por Dinaldo dos Santos.
O Terreiro do Gantois divulgou, nesta sexta-feira (26), uma nota oficial lamentando o falecimento de Mãe Carmen, ocorrido na madrugada desta sexta-feira, em Salvador. Mas quem foi Mãe Carmen? No comunicado, é destacada a dimensão histórica, espiritual e simbólica da sacerdotisa para o Candomblé na Bahia e no Brasil, sublinhando seu papel na preservação das tradições religiosas de matriz africana.

Quem foi Mãe Carmen?
Além de sua liderança religiosa, Mãe Carmen também se notabilizou pela militância social, atuando em defesa da liberdade religiosa, no enfrentamento ao racismo e à intolerância, e no fortalecimento de ações comunitárias voltadas à proteção cultural e à inclusão social das populações de terreiro.
Ao longo de sua trajetória, Mãe Carmen consolidou-se não apenas como uma liderança espiritual, mas também como uma voz ativa na preservação da cultura afro-brasileira e no diálogo inter-religioso.
Ela desenvolveu ações socioeducativas na comunidade do Gantois, incluindo cursos de ritmos, dança, bordados e toques tradicionais, além de promover iniciativas voltadas à acessibilidade e à memória cultural da religiosidade de matriz africana

O trabalho da ialorixá foi reconhecido por diversas instituições públicas e culturais. Entre as homenagens recebidas estão a Comenda Maria Quitéria, concedida pela Câmara Municipal de Salvador e a Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural, entregue pela UNESCO em 2010 por seu papel na preservação das tradições e no diálogo entre saberes.
Mãe Carmen também foi tema de obras literárias e artísticas, e sua vida inspirou composições musicais como “A Força do Gantois”, de Nelson Rufino, lançada em 2011. Sua atuação estendeu-se ainda à valorização patrimonial do Terreiro do Gantois e de seu acervo imaterial, contribuindo para que a história e os saberes do candomblé fossem reconhecidos como patrimônio cultural.
Confira trechos da nota do Terreiro do Gantois:
"Mulher de axé, guardiã da ancestralidade e herdeira de uma linhagem que pavimentou a história do Candomblé na Bahia e no Brasil. (...) Nada em seu caminho foi acaso, foi legado, destino, desígnio dos Orixás.
Há 23 anos à frente do Gantois, Mãe Carmen assumiu com amor, coragem e responsabilidade a condução de uma Casa que é fé, memória e identidade. Ser Ìyáloriṣa em sua presença, sempre significou cuidar, proteger, orientar e sustentar o axé com dignidade, firmeza e sabedoria, zelando pela comunidade e pela continuidade de uma tradição ancestral".
A nota destaca ainda que o retorno de Mãe Carmen ao Orun (o plano espiritual) aconteceu em uma sexta-feira, dia consagrado a Oxalá, Orixá da criação e da serenidade:
"Um símbolo que traduz uma trajetória marcada pela retidão, cuidado e fé. Em Oxalá, o descanso, na ancestralidade, a permanência (...) seu axé permanece. Seus ensinamentos seguem vivos, sua missão continua inscrita na história e sua memória permanece como fonte de força, amor e sabedoria para as gerações que virão".
Em 2019, os 90 anos de Mãe Carmen foram homenageados com o lançamento do álbum Obatalá - Uma homenagem à Mãe Carmen, com direção-geral de Flora Gil e idealizado por quatro filhos de santo do Gantois: Iuri Passos, Yomar Asogbá, José Maurício Bittencourt e Luciana Baraúna, integrantes do grupo Ofá.
O disco reuniu as vozes de egbomi Cici de Oxalá, Alcione, Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor, Lazzo Matumbi, Margareth Menezes, Marisa Monte, Mateus Aleluia, Márcia Short, entre outros artistas, além da própria Mãe Carmen com saudações".
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