Bolsonaro articulou CPI contra Moraes e viagem com ex-embaixador
Áudios mostram orientações de Bolsonaro sobre CPI contra Moraes, críticas ao PL das fake news e convite de ex-embaixador para viagem bancada ao exterior
Por Matheus Caldas.
Apreendido em 3 de maio de 2023 durante investigação sobre fraudes em certificados de vacinação, o celular do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) revelou uma série de áudios com articulações políticas, críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e conversas com aliados. As gravações, divulgadas nesta segunda-feira (28) pelo jornal Estadão, incluem orientações sobre uma CPI contra o ministro Alexandre de Moraes e um convite de viagem paga feito por um ex-embaixador de Israel.
Em um dos áudios, Bolsonaro incentiva o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar o pedido de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito contra ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”, respondeu o ex-presidente, após Lopes demonstrar receio em apoiar a proposta, temendo prejudicá-lo.
A CPI foi proposta em 2022 pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), mas nunca foi instaurada. Em outro trecho, Bolsonaro orienta seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a atuar contra o projeto de lei das fake news, apelidado por bolsonaristas de “PL da Censura”. A articulação ocorreu no dia da votação do projeto, em 2 de maio de 2023.
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Os áudios também revelam uma troca de mensagens com o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, que ofereceu bancar uma viagem de Bolsonaro ao país. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se você quiser”, escreveu Shelley, corrigindo depois o período para 14 dias. Bolsonaro agradeceu e disse que conversaria com a esposa Michelle, a quem encaminhou o convite.
Em outras mensagens, o ex-presidente demonstra preocupação com a perda de apoio do agronegócio. Em abril de 2023, ele compartilhou críticas sobre a demarcação de terras indígenas e ocupações do MST com um grupo de parlamentares e aliados: “Cada vez mais problemas para o agro”, escreveu. “Com Bolsonaro: ZERO demarcações.”
Durante a Agrishow, em Ribeirão Preto, Bolsonaro afirmou ter ficado hospedado em uma fazenda cedida pelo empresário Paulo Junqueira, ex-presidente do Sindicato Rural local, que já foi citado em inquéritos da PF por supostamente custear despesas do ex-presidente nos Estados Unidos.
Em outra conversa, o ex-presidente pede ao assessor Tércio Arnaud Tomaz que verifique a veracidade de um vídeo sobre os atos de 8 de Janeiro. Após confirmar que as imagens eram autênticas, Tércio alertou para o risco de Bolsonaro ser implicado por divulgar informações falsas: “Se for disparar aí no zap, cuidado pra não te arrolarem mais nesse processo”.
Procurados pelo Estadão, a defesa de Bolsonaro, os deputados Hélio Lopes e Eduardo Bolsonaro, o ex-embaixador Shelley, o empresário Paulo Junqueira e o assessor Tércio Arnaud não se manifestaram.
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