"BolsoLula": a 15 meses da eleição, animosidade de eleitores é vista com preocupação; "lideranças se constroem"
Segundo o cientista político, Cláudio André de Souza, em um cenário como esse, algumas questões prioritárias podem perder o lugar na discussão, perante as defesas das partes.
A pouco mais de um ano das eleições que vão definir os rumos para o Brasil no quadriênio que se inicia em 2023, a política nacional, mais uma vez, está polarizada. A democracia multipartidária do país não é refletida na tendência do eleitorado brasileiro que se divide, em sua maioria, tendendo para dois únicos lados.
Isso, por si só, não é motivo para cravar que a situação é desfavorável ao processo de escolha do projeto que vai ser aplicado na condução do Brasil. O que preocupa, porém, é a forma como essa polarização política tem se apresentado, principalmente, no âmbito das discussões que envolvem temas importantes para o bem comum.
Neste cenário, os nomes do atual mandatário do país, Jair Bolsonaro (sem partido), e o ex-presidente Lula (PT), são as figuras de destaque na preferência de um eleitorado que se digladia em duas vertentes que vão além do pensamento ideológico e beira a animosidade.
Para os representantes do duelo, algumas arestas precisam ser aparadas. De um lado, o presidente Bolsonaro corre para reverter os prejuízos acumulados com a conduta impopular adotada no combate à pandemia e para atenuar as ranhuras causadas em sua gestão, diante de denúncias de corrupção, envolvendo familiares.
Na outra ponta, o ex-presidente aposta nas falhas do adversário para retomar a confiança perdida pelo seu partido, desde a eleição passada, quando esteve preso e viu o correligionário, Fernando Haddad, ser rejeitado nas urnas, na reta final do pleito.
Apoiando os dois nomes, existem dois grupos que se comportam como duas grandes torcidas de futebol. O comportamento intolerante à crítica e opiniões discordantes é muito comum nos debates e torna a situação propensa ao surgimento de notícias falsas, que atrapalham a construção de pensamentos e inibe as discussões necessárias ao crescimento político.
Em entrevista concedida ao Aratu On, o doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e cientista político, Cláudio André de Souza, ressaltou que a partir do momento que temos polos mobilizados e debates radicalizados, algumas questões prioritárias podem perder o lugar na discussão, perante as defesas das partes.
Contudo, o especialista não ignora a legitimidade da polarização e considera fazer parte do reconhecimento das posições ideológicas e suas preferências eleitorais. “Claro que, tudo isso, dentro das regras do jogo: sem violência política, respeitando a fala, a liberdade política e a existência da oposição”, pontuou.
Em meio à discussão acirrada entre os dois polos é difícil imaginar como uma terceira alternativa de gestão possa surgir no contexto político atual. As eleições estão programadas para o dia 2 de outubro do próximo ano. Pouco menos de 15 meses e os espaços deixados pelas correntes que polarizam a disputa não parecem ganhar força em discursos alheios que almejam destaque na corrida.
Cláudio André entende que a possibilidade do surgimento de uma terceira força neste processo não pode ser descartada, mas explica que, a depender do cenário, ela pode, cada vez mais, perder chances de protagonismo.
“Lideranças eleitorais nacionais se constroem com mais de dois anos de antecedência. A imagem pública, o diálogo com o eleitorado e a própria carreira política precisa vir de um processo mais forte e acentuado”, destacou o especialista, que também, abordou outros pontos importantes a serem observados pelos eleitores.
VEJA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA
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